Reitor
da Universidade do Sul da Bahia renuncia e denuncia desmonte pós-golpe
Decisão vem um dia depois do
suicídio de reitor preso arbitrariamente e exposto a espetáculo midiático -
outra da faceta do golpe. Para Boaventura de Sousa Santos, comunidade perde
"um dos seus mais inovadores dirigentes"
O reitor da Universidade
Federal do Sul da Bahia (UFSB), Naomar Almeida Filho, pediu exoneração do cargo
nesta segunda-feira (2), denunciando o boicote a "inovações curriculares
de maior potencial inclusiva", como a redução de vagas em curso de saúde,
e articulações políticas que visam a sua substituição, a partir de uma eleição
que, segundo ele, exclui a sociedade do processo de escolha dos dirigentes, em
desacordo com a estatuto da universidade.
Em carta aberta, Naomar
Almeida Filho comparou a movimentação pela sua substituição num processo,
segundo ele, ilegítimo, com o contexto da atual crise política que afeta o
país, desde o golpe do impeachment que alçou Michel Temer à presidência da
República.
"Que tipo de política
estariam praticando os que promovem esse golpe? Certamente a de mais baixo
nível, incompatível com a dignidade da instituição milenar da Universidade.
Qual a diferença disso para a trágica, lamentável e vergonhosa crise política
do país, depois do triste espetáculo de um impedimento presidencial injusto,
embora protegido pelo manto da legalidade?", questiona o reitor
demissionário.
A decisão vem em seguida ao
forte abalo sofrido pela comunidade acadêmica com a morte do reitor da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier. Preso, depois solto e
afastado, devido a uma investigação da Polícia Federal (PF) que apura supostos
desvios de recursos, Cancellier foi encontrado em um shopping, em
Florianópolis. Pessoas próximas afirmam que o reitor teria sido vítima do
Estado de exceção que a Justiça hoje impõe ao país.
Em seu site Conversa Afiada,
Paulo Henrique Amorim observa que a delegada Érika Mialik Marena, que pediu a
prisão de Cancellier, poder ser responsabilizada pelo suicídio do reitor.
"A delegada Marena teria
mandado prender o Reitor sem ouvi-lo; A delegada Marena mandou prender o Reitor
sem ouvi-lo porque suspeitou que ele ‘fazia manobras para criar obstáculos às
investigações’. Como não provou essas suspeitas, a Juíza mandou soltá-lo; A
delegada Marena acusou o Reitor de crime que teria cometido antes de ele
assumir a Reitoria! A delegada Marena estaria baseada em 'delações'",
enumera o jornalista, ao citar que a 'metodologia' Marena foi apreendida na década
passada com Sergio Moto e o procurado Carlos Fernandes dos Santos Lima,
operadores na Lava Java.
O sociólogo português
Boaventura de Sousa Santos, professor aposentado da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra, afirmou que a universidade brasileira "perde um
dos seus mais inovadores dirigentes", e disse que parte da comunidade
acadêmica está "consternada e revoltada", pelos motivos expostos por
Almeida Filho para justificar a sua saída.
"Naomar foi sem dúvida,
do meu conhecimento, o alto dirigente universitário que levou mais longe e mais
fundo o projeto de democratizar social, política, cultural e
epistemologicamente a universidade. A universidade brasileira perde um dos seus
mais inovadores dirigentes e essa perda reflete-se em toda a comunidade
acadêmica brasileira e latino-americana e, de maneira muito particular, no
Centro de Estudos Sociais e na Universidade de Coimbra, que tinham com a UFSB
um convênio de cooperação muito vinculado às inovações que estavam ter lugar no Sul da Bahia", ressalta
Boaventura.
Fonte: RBA
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