quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Grupo de Conjuntura lança livro ‘Poder e Corrupção no Capitalismo’

Grupo de Conjuntura lança livro ‘Poder e Corrupção no Capitalismo’

O Grupo de Conjuntura da Fundação Perseu Abramo lança o livro Poder e Corrupção no Capitalismo, obra coletiva de um conjunto de pesquisadores que visa apresentar uma leitura ampla sobre o fenômeno da corrupção.
O Grupo é composto por Alexandre Guerra, Ana Luiza Mattos de Oliveira, Antônio Carlos Souza de Carvalho, Kjeld Jakobsen, Luis Fernando Vitagliano, Marcelo Manzano, Matheus Toledo, Pedro Simão Camarão, Ronnie Aldrin Silva, Rose Silva, Vilma Bokani e William Nozaki.
O livro traz uma coletânea de artigos sobre a corrupção, tema que atravessa os tempos, carregado de contradições e dilemas. Repleto de dados, casos presentes na História e análises mais aprofundadas, os textos formam um conjunto robusto que busca contribuir com o debate político brasileiro. Problematiza a corrupção e seus laços indissociáveis com o poder e o dinheiro, ultrapassando a questão ético-moral. Chega, assim, às bases do sistema capitalista e sua intrínseca lógica da acumulação de capital.
A íntegra da publicação pode ser acessada aqui.
Leiam a seguir a apresentação que Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff, faz da obra.
"A Fundação Perseu Abramo (FPA) nos presenteia com esta obra muito oportuna em tempos de mistificações em torno do tema de corrupção. De forma objetiva, o livro Poder e corrupção no capitalismo mostra, com base em dados e em experiências comparadas, que o fenômeno em sua forma sistêmica não é prática isolada deste ou daquele governo, mas, muito mais, inevitável consequência de fluxos descontrolados de ativos na economia globalizada, reforçada pela fragilização de governos no modelo neoliberal de gestão econômica.
No caso específico do Brasil, o modelo teve impacto gravíssimo na cultura empresarial, decorrente do abandono da dinâmica de desenvolvimento econômico impulsionado pelo Estado e da concentração do esforço governamental, na década de 90 do século passado, na estabilização. Empresários passaram a investir menos na expansão de capacidades e a buscarem o ganho de curto prazo, voltado à especulação financeira. Com isso, criou-se o ambiente propício a práticas de risco, incluída, nestas, a corrupção.
Em especial, o setor de grandes obras, construtoras e empreiteiras, sofreram desse impacto. Estabelecidas antes de meados do século passado, com a transformação da sociedade brasileira agrária em sociedade urbana, elas se dedicaram a grandes projetos de infraestrutura comandadas por um Estado intervencionista. A partir do refluxo do desenvolvimentismo na década de 1990, a disputa por contratos tornou-se mais dura, da mesma forma que a busca por ganhos de curto prazo. Essa mistura teve efeito evidentes sobre as práticas empresariais, tendentes a assimilar o convívio politizado com o setor público.
O sistema político brasileiro favoreceu elevado grau de promiscuidade na relação entre os setores público e privado. Com custo de campanhas eleitorais altíssimos, as empresas têm sido a principal fonte de seu custeio. Estabeleceu-se, assim, o ambiente favorável às operações de risco na contratação pública, em que atores políticos financiados por construtoras e empreiteiras viam com simpatia seus pleitos na participação em obras de grande vulto. A vinculação do financiamento a vantagens na contratação foi consequência natural dessa relação de procura e demanda.
A presente obra mostra, sem rodeios, o quanto é artificial o argumento moralista da degradação de costumes e da necessidade de punição expiatória de atores desse cenário. Não se releva a importância da atividade repressiva, mas a diminuição das práticas corruptas para níveis mais funcionais depende muito mais de estímulo a investimentos produtivos e desestímulo de especulação financeira de alto risco pelo empresariado. A retomada do desenvolvimento dentro de um quadro de planejamento estratégico é o primeiro passo para reduzir a propensão a negócios fora do padrão do empreendedorismo ético. Ao mesmo tempo, urge avançar na reforma política, para garantir sustentabilidade à atividade partidária e eleitoral. Isso é muito mais do que a Operação Lava Jato promete."

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