quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Lição para as esquerdas: A UNIDADE COMO PONTO DE PARTIDA

A unidade como ponto de partida
Roberto Amaral*
A esquerda precisa de união para objetivos concretos, mas isso não é um convite ao retorno da política de conciliação de Lula
Sempre que o debate político – chamado pela realidade – se volta para a discussão sobre a unidade (como necessidade) das esquerdas, torna-se relevante, e até mesmo pedagógico, revisitar experiências como as de 1954 e 1955. Elas precisam ser lembradas como lições e advertências aos que desconhecem nossa história recente, e, ignorando-a, tendem a repetir os erros passados.
Em 1954 – primeira etapa do golpe que se consolidaria em 1964 com a ditadura militar – as esquerdas se deram ao luxo de se dividir na defesa x denúncia de Getúlio Vargas, envolvidas, lamentavelmente não pela última vez, pelo discurso moralista articulado pela direita para dar justificativa à deposição do presidente.
O Partido Comunista, liderado por Luís Carlos Prestes, então carente de visão estratégica, associou-se ao udenismo e ao lacerdismo, ao que havia de pior na imprensa brasileira (Diários Associados e O Globo) e às forças militares golpistas (nomeadamente Eduardo Gomes, Juarez Távora e Pena Boto) no pleito da renúncia do presidente.
Uma vez mais tomava-se a aparência pela realidade, e, em nome do combate a uma corrupção jamais demonstrada, os pecebistas associaram-se na operação de desmonte de um governo nacionalista, comprometido com o trabalhismo e o desenvolvimento nacional.  Assim facilitaram o golpe que se consumaria na posse de Café Filho, e na ascensão, dentre outros, de Eugenio Gudin (que combatia a industrialização do país) ao Ministério da Fazenda, além de Raul Fernandes (que entendia que o Brasil deveria ser uma ‘província’ dos EUA), antecipando-se em tantas dezenas de anos ao atual chefe do Itamaraty.
No dia do suicídio de Vargas, sem lideranças, as grandes massas saíram às ruas para prantear o presidente morto, e, em sua rebeldia tardia, incendiaram viaturas de O Globo e depredaram as dependências da Voz Operária, jornal do PCB, que, na véspera, circulara encimado por uma manchete de letras garrafais acusando Getúlio Vargas de “lacaio do imperialismo”, imperialismo que sabidamente estava por atrás de todas as conjurações golpistas.
Nada mais simbólico, mas igualmente denotativo do fracasso de nossas lideranças.
Em 1955, as esquerdas, que já se haviam unificado no processo eleitoral, ampliam sua unidade e atraem setores liberais na frente ampla que defenderia a legalidade, e asseguraria a eleição de Juscelino Kubistcheck e João Goulart, e ainda desmontariam o segundo golpe da direita civil-militar, que visava a impedir sua posse.
Na primeira fila dos que conosco defendiam a legalidade (e por força dela a posse dos eleitos) estava, entre outros, o líder católico, conservador, Sobral Pinto, que voltaria aos nossos palanques quando, novamente unidos, construímos a Frente Ampla pelas Diretas-já que implodiria o colégio eleitoral, montado pela ditadura para nomear seu delfim e, rebelado, elegeria Tancredo Neves.
Desaprendemos?
O 24 de janeiro que se aproxima para nós como um desafio é uma etapa, importantíssima, na luta das forças populares contra o governo entreguista e as ameaças crescentes ao processo eleitoral democrático. Por óbvio todos os democratas estarão envolvidos na mobilização popular que visa a expressar a vontade majoritária do povo brasileiro e impedir a usurpação anunciada.
Uma etapa, importantíssima, mas que não encerrará a luta toda. Pode ser, até, apenas um ponto de partida. Para enfrentar o farisaico julgamento político de Lula, quando três juízes podem ditar a sentença redigida pelas forças antipopulares, e as demais ameaças que já estão em laboratório, o primeiro passo é a unidade política das esquerdas, o que não implica necessariamente aliança eleitoral, mas compromissos estratégicos, conditio sine qua non para a formação de uma grande e ampla aliança nacional em defesa da democracia, do desenvolvimento e da soberania nacional.
As esquerdas desunidas fazem a festa da direita; unidas, mas isoladas, não terão forças para derrogar o projeto da direita; unificadas em torno de objetivos concretos que não se limitam a eventuais alianças eleitorais, poderão ampliar suas forças para além de seu campo. O caminho óbvio é este: concertar o discurso, adotar um programa mínimo de ação claro e exequível, ampliar sua composição e suas perspectivas de lutas, de sorte a conquistar setores ainda refratários, dialogar com a classe média e liderar os trabalhadores. É preciso conquistar novas forças para vencer nossos adversários, que jamais estiveram (nem mesmo em 1964) tão unidos como presentemente.
De novo o risco de tomar as aparências como a realidade: é uma extrema tolice confundir a proliferação (tática) de pré-candidaturas reacionárias como divisão da direita. Há algum cisma entre o capital financeiro nacional e internacional, a CNI e a FIESP, o império midiático, a reação parlamentar, o poder judiciário, a Polícia Federal, o Ministério Público e seus salvacionistas?
Nada disso, porém, deve soar como convite à retomada da política de conciliação que limitou os avanços dos governos Lula e levou ao colapso do governo Dilma. A frente de agora tem um objetivo imediato e concreto: impedir o avanço do programado ataque à democracia.
A primeira tarefa é óbvia: a luta por assegurar eleições limpas e livres de golpes de mão, e a primeira condição é a presença de Lula na disputa. É inadmissível aceitar que três togas substituam o povo brasileiro, representado por um colégio de mais de 140 milhões de leitores. Isso é inadmissível, como é inaceitável qualquer alteração relativa às atribuições do Executivo e às competências do presidente da Republica.
“Presidencialismo mitigado” ou “parlamentarismo à Alemanha” seriam apenas mais um golpe contra as regras constitucionais e a vontade popular que em dois plebiscitos rejeitou o regime de gabinete. É preciso explicar às grandes massas que o enfrentamento ao golpe em processo continuado e ao seu projeto antipopular depende da força da democracia, e que as forças sociais é que são seu sustentáculo.
Vencida essa travessia, estará à nossa frente a via eleitoral e a exigência histórica de um candidato com força suficiente para estancar o desmonte da economia nacional, reconciliar a nação e retomar o desenvolvimento, o que implica, necessariamente, a revogação das principais medidas recessivas e antipopulares do regime ilegítimo.
Ou seja: nosso candidato precisará ganhar em condições de governar.
As forças não petistas, partidárias ou não, muito contribuirão para o avanço coletivo na medida em que entenderem, e não lhes resta muito tempo, que o que está em jogo, correndo risco de vida, não é nem o PT nem Lula, mas o processo democrático, sem o qual dificilmente avançarão os interesses populares, ou sobreviverá o movimento sindical, ou as forças populares e os movimentos sociais de um modo geral. E essa aglutinação de forças é que decidirá o rumo que tomará a História.
Nossas organizações e suas lideranças deverão entender que ninguém e nenhum força de nosso campo avançará sobre eventuais despojos do PT e de Lula, e que é ainda muito cedo, qualquer que seja o resultado do julgamento de 24 de janeiro, para falar no ‘pós-Lula’ (uma utopia dos ‘cientistas’ do sistema), pois sua liderança – e eis uma das poucas evidências que podemos colher do cenário de nossos dias — permanecerá ativa enquanto houver pobres e desamparados neste País.
* Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia

Fonte: Blog do Roberto Amaral


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Comentário: as próximas eleições refletirão, mais do que em qualquer outra ocasião, uma luta de classes: de um lado - a direita/centro - o capital, os rentistas, os eternos exploradores do povo, os adeptos da corrupção sem limites, os que só pensam em manter e aumentar seus privilégios, os inocentes úteis, os analfabetos políticos, os alienados, a mídia corrupta/corruptora/venal, os que rasgam a Constituição em vez de cumpri-la e exigir seu cumprimento; do outro lado - a esquerda - a classe trabalhadora( incluindo os servidores públicos éticos e dedicados) que, a cada dia, luta e trabalha pelo desenvolvimento harmônico e soberano do Brasil e pela construção de uma sociedade justa e fraterna para todos os seus habitantes.
Será a luta do povo contra seus exploradores.
Não haverá meio termo.
Cada qual(indivíduo/partido/agrupamento) terá que escolher de que lado ficará.
Que cada um deixe seus interesses particulares/momentâneos de lado e pense coletivamente. O bem coletivo é o bem de todos.
Vamos escolher entre resgatar o Brasil para os brasileiros ou aprofundar o caos.

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