A unidade como ponto de partida
Roberto Amaral*
A esquerda precisa de união para
objetivos concretos, mas isso não é um convite ao retorno da política de
conciliação de Lula
Sempre que o
debate político – chamado pela realidade – se volta para a discussão sobre a
unidade (como necessidade) das esquerdas, torna-se relevante, e até mesmo
pedagógico, revisitar experiências como as de 1954 e 1955. Elas precisam ser
lembradas como lições e advertências aos que desconhecem nossa história
recente, e, ignorando-a, tendem a repetir os erros passados.
Em 1954 –
primeira etapa do golpe que se consolidaria em 1964 com a ditadura militar – as
esquerdas se deram ao luxo de se dividir na defesa x denúncia de Getúlio
Vargas, envolvidas, lamentavelmente não pela última vez, pelo discurso
moralista articulado pela direita para dar justificativa à deposição do
presidente.
O Partido
Comunista, liderado por Luís Carlos Prestes, então carente de visão
estratégica, associou-se ao udenismo e ao lacerdismo, ao que havia de pior na
imprensa brasileira (Diários Associados e O Globo) e às forças militares
golpistas (nomeadamente Eduardo Gomes, Juarez Távora e Pena Boto) no pleito da
renúncia do presidente.
Uma vez mais
tomava-se a aparência pela realidade, e, em nome do combate a uma corrupção
jamais demonstrada, os pecebistas associaram-se na operação de desmonte de um
governo nacionalista, comprometido com o trabalhismo e o desenvolvimento
nacional. Assim facilitaram o golpe que
se consumaria na posse de Café Filho, e na ascensão, dentre outros, de Eugenio
Gudin (que combatia a industrialização do país) ao Ministério da Fazenda, além
de Raul Fernandes (que entendia que o Brasil deveria ser uma ‘província’ dos
EUA), antecipando-se em tantas dezenas de anos ao atual chefe do Itamaraty.
No dia do
suicídio de Vargas, sem lideranças, as grandes massas saíram às ruas para
prantear o presidente morto, e, em sua rebeldia tardia, incendiaram viaturas de
O Globo e depredaram as dependências da Voz Operária, jornal do PCB, que, na
véspera, circulara encimado por uma manchete de letras garrafais acusando
Getúlio Vargas de “lacaio do
imperialismo”, imperialismo que sabidamente estava por atrás de todas as
conjurações golpistas.
Nada mais
simbólico, mas igualmente denotativo do fracasso de nossas lideranças.
Em 1955, as
esquerdas, que já se haviam unificado no processo eleitoral, ampliam sua
unidade e atraem setores liberais na frente ampla que defenderia a legalidade,
e asseguraria a eleição de Juscelino Kubistcheck e João Goulart, e ainda desmontariam
o segundo golpe da direita civil-militar, que visava a impedir sua posse.
Na primeira
fila dos que conosco defendiam a legalidade (e por força dela a posse dos
eleitos) estava, entre outros, o líder católico, conservador, Sobral Pinto, que
voltaria aos nossos palanques quando, novamente unidos, construímos a Frente
Ampla pelas Diretas-já que implodiria o colégio eleitoral, montado pela
ditadura para nomear seu delfim e, rebelado, elegeria Tancredo Neves.
Desaprendemos?
O 24 de
janeiro que se aproxima para nós como um desafio é uma etapa, importantíssima,
na luta das forças populares contra o governo entreguista e as ameaças
crescentes ao processo eleitoral democrático. Por óbvio todos os democratas
estarão envolvidos na mobilização popular que visa a expressar a vontade
majoritária do povo brasileiro e impedir a usurpação anunciada.
Uma etapa,
importantíssima, mas que não encerrará a luta toda. Pode ser, até, apenas um
ponto de partida. Para enfrentar o farisaico julgamento político de Lula,
quando três juízes podem ditar a sentença redigida pelas forças antipopulares,
e as demais ameaças que já estão em laboratório, o primeiro passo é a unidade
política das esquerdas, o que não implica necessariamente aliança eleitoral,
mas compromissos estratégicos, conditio
sine qua non para a formação de uma grande e ampla aliança nacional em
defesa da democracia, do desenvolvimento e da soberania nacional.
As esquerdas
desunidas fazem a festa da direita; unidas, mas isoladas, não terão forças para
derrogar o projeto da direita; unificadas em torno de objetivos concretos que
não se limitam a eventuais alianças eleitorais, poderão ampliar suas forças
para além de seu campo. O caminho óbvio é este: concertar o discurso, adotar um
programa mínimo de ação claro e exequível, ampliar sua composição e suas
perspectivas de lutas, de sorte a conquistar setores ainda refratários,
dialogar com a classe média e liderar os trabalhadores. É preciso conquistar
novas forças para vencer nossos adversários, que jamais estiveram (nem mesmo em
1964) tão unidos como presentemente.
De novo o
risco de tomar as aparências como a realidade: é uma extrema tolice confundir a
proliferação (tática) de pré-candidaturas reacionárias como divisão da direita.
Há algum cisma entre o capital financeiro nacional e internacional, a CNI e a
FIESP, o império midiático, a reação parlamentar, o poder judiciário, a Polícia
Federal, o Ministério Público e seus salvacionistas?
Nada disso,
porém, deve soar como convite à retomada da política de conciliação que limitou
os avanços dos governos Lula e levou ao colapso do governo Dilma. A frente de
agora tem um objetivo imediato e concreto: impedir o avanço do programado
ataque à democracia.
A primeira
tarefa é óbvia: a luta por assegurar eleições limpas e livres de golpes de mão,
e a primeira condição é a presença de Lula na disputa. É inadmissível aceitar
que três togas substituam o povo brasileiro, representado por um colégio de
mais de 140 milhões de leitores. Isso é inadmissível, como é inaceitável
qualquer alteração relativa às atribuições do Executivo e às competências do
presidente da Republica.
“Presidencialismo
mitigado” ou “parlamentarismo à Alemanha” seriam apenas mais um golpe contra as
regras constitucionais e a vontade popular que em dois plebiscitos rejeitou o
regime de gabinete. É preciso explicar às grandes massas que o enfrentamento ao
golpe em processo continuado e ao seu projeto antipopular depende da força da
democracia, e que as forças sociais é que são seu sustentáculo.
Vencida essa
travessia, estará à nossa frente a via eleitoral e a exigência histórica de um
candidato com força suficiente para estancar o desmonte da economia nacional,
reconciliar a nação e retomar o desenvolvimento, o que implica,
necessariamente, a revogação das principais medidas recessivas e antipopulares
do regime ilegítimo.
Ou seja:
nosso candidato precisará ganhar em condições de governar.
As forças
não petistas, partidárias ou não, muito contribuirão para o avanço coletivo na
medida em que entenderem, e não lhes resta muito tempo, que o que está em jogo,
correndo risco de vida, não é nem o PT nem Lula, mas o processo democrático,
sem o qual dificilmente avançarão os interesses populares, ou sobreviverá o
movimento sindical, ou as forças populares e os movimentos sociais de um modo
geral. E essa aglutinação de forças é que decidirá o rumo que tomará a
História.
Nossas
organizações e suas lideranças deverão entender que ninguém e nenhum força de
nosso campo avançará sobre eventuais despojos do PT e de Lula, e que é ainda
muito cedo, qualquer que seja o resultado do julgamento de 24 de janeiro, para
falar no ‘pós-Lula’ (uma utopia dos ‘cientistas’ do sistema), pois sua
liderança – e eis uma das poucas evidências que podemos colher do cenário de
nossos dias — permanecerá ativa enquanto houver pobres e desamparados neste
País.
* Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência
e Tecnologia
Fonte: Blog do Roberto Amaral
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Comentário: as próximas eleições refletirão, mais do que em qualquer outra ocasião, uma luta de classes: de um lado - a direita/centro - o capital, os rentistas, os eternos exploradores do povo, os adeptos da corrupção sem limites, os que só pensam em manter e aumentar seus privilégios, os inocentes úteis, os analfabetos políticos, os alienados, a mídia corrupta/corruptora/venal, os que rasgam a Constituição em vez de cumpri-la e exigir seu cumprimento; do outro lado - a esquerda - a classe trabalhadora( incluindo os servidores públicos éticos e dedicados) que, a cada dia, luta e trabalha pelo desenvolvimento harmônico e soberano do Brasil e pela construção de uma sociedade justa e fraterna para todos os seus habitantes.
Será a luta do povo contra seus exploradores.
Não haverá meio termo.
Cada qual(indivíduo/partido/agrupamento) terá que escolher de que lado ficará.
Que cada um deixe seus interesses particulares/momentâneos de lado e pense coletivamente. O bem coletivo é o bem de todos.
Vamos escolher entre resgatar o Brasil para os brasileiros ou aprofundar o caos.
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Comentário: as próximas eleições refletirão, mais do que em qualquer outra ocasião, uma luta de classes: de um lado - a direita/centro - o capital, os rentistas, os eternos exploradores do povo, os adeptos da corrupção sem limites, os que só pensam em manter e aumentar seus privilégios, os inocentes úteis, os analfabetos políticos, os alienados, a mídia corrupta/corruptora/venal, os que rasgam a Constituição em vez de cumpri-la e exigir seu cumprimento; do outro lado - a esquerda - a classe trabalhadora( incluindo os servidores públicos éticos e dedicados) que, a cada dia, luta e trabalha pelo desenvolvimento harmônico e soberano do Brasil e pela construção de uma sociedade justa e fraterna para todos os seus habitantes.
Será a luta do povo contra seus exploradores.
Não haverá meio termo.
Cada qual(indivíduo/partido/agrupamento) terá que escolher de que lado ficará.
Que cada um deixe seus interesses particulares/momentâneos de lado e pense coletivamente. O bem coletivo é o bem de todos.
Vamos escolher entre resgatar o Brasil para os brasileiros ou aprofundar o caos.
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