sábado, 3 de fevereiro de 2018

Ilusões perdidas

Ilusões perdidas

A defesa de Lula entrou com um pedido de habeas corpus junto ao Supremo Tribunal Federal.
Muito bem, é o que manda fazer a boa técnica jurídica.
Mas é preciso saber que boa técnica jurídica, em relação a Lula, nunca veio e nem virá ao caso.
É, desde o início e será até o seu final, um processo político.
Se algum castigo Lula merece é por ter acreditado  que o tratamento institucional que deu ao Judiciário teria a contrapartida de ser tratado com respeito por ele.
Ou, num contexto mais amplo, que o Brasil é um país colonizado e as colônias repetem, internamente, os mecanismos de dominação das metrópoles.
As colônias fluem suas riquezas para entrepostos e os entrepostos criam suas burocracias: os guarda-livros, os gerentes, os vigilantes, e os gestores da lei que assegura esse fluir.
Formam, assim, uma sociedade que,  à parte da massa colonizada, se subdivide em castas, que tem em comum, como bem mais precioso, os seus privilégios, maiores ou menores, mas sempre migalhas do saque colonial.
O Judiciário brasileiro ( e seu simbiótico Ministério Público), quase que sem tirar nem por, é uma casta, ajustado quase que totalmente á definição que dá a ela o Dicionário de Conceitos em Antropologia Cultural, de Robert Winthrop: um sistema de hierarquia social explicito, baseado na hereditariedade, grupo endogâmico, onde cada qual recebe um determinado status, e partilham a mesma ocupação, maneira de viver e padrões de relacionamentos com outros grupos.
Volta e meia, valho-me de Victor Hugo:  “as castas têm as suas idéias, que são os seus dentes”.
E elas as mostram (e mostram seus dentes, assim) quando vêm as crises e fica “ralo” o sangue do qual se nutrem.
São mais  que uma corporação colonial, são os zeladores dos canais de abdução de nossas riquezas, as naturais e a dos frutos do trabalho destas massas humanas.
Então, não lhes basta, como antes, aceitar aquele  que, apesar de nem mesmo retirar seus ganhos, queiram aproximar as massas da dignidade , o que, igual, diminui as distâncias abissais da sociedade brasileira.
Radicalizam e partem para o extermínio do símbolo em que aquelas massas se reconhecem e, afinal, com quem poderiam compor e negociar reformas.
Assim como nos matam as ilusões de que pode haver equilíbrio nas instituições, matam a si próprios porque os intolerantes, logo, passam à posição de intoleráveis.

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