Antes de simular tiro em Lula, Bolsonaro ameaçou matar FHC. Nossa democracia tolera alguém que quer destruí-la há décadas
A democracia brasileira precisa fazer um auto exame: como foi que deixou Jair Bolsonaro ir tão longe?
Em novembro, na Universidade Brown, nos EUA, Fernando Henrique Cardoso falou que não se pode descartar a possibilidade de o Brasil repetir a experiência italiana, que depois da Operação Mãos Limpas elegeu um Silvio Berlusconi.
O mesmo ocorreria aqui como saldo da Lava Jato. Sem citar o nome de Bolsonaro, fez um alerta.
“Eu não quero entrar em detalhes, mas há pessoas da direita que são pessoas perigosas”, declarou.
“Um dos candidatos propôs me matar quando eu estava na Presidência. Na época, eu não prestei atenção. Mas hoje eu tenho medo, porque agora ele tem poder, ainda não, ele tem a possibilidade do poder.”
Ele se referia à célebre entrevista de Bolsonaro de 1999, em que JB afirmava, entrou outras barbaridades, que o voto não mudaria o Brasil.
“Você só vai mudar, infelizmente, quando nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro. E fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando 30 mil, e começando por FHC”, afirma.
“Essa pessoa está comprometida com a Constituição, com o respeito das leis, com os direitos humanos?”, questiona Fernando Henrique.
O crime de ameaça é previsto no artigo 147 do Código Penal. Por que ele não foi processado então?
Bolsonaro está há 27 anos na Câmara. Em três décadas, aprovou dois projetos.
Seu voto pelo impeachment homenageou um torturador de uma ditadura, o coronel Ustra — democraticamente.
Seu legado, além de colocar na política seus filhos Huguinho e Zezinho, mais alguns familiares, é o ódio criminoso.
Nesta quinta, dia 29, num almoço com apoiadores em Curitiba, ele falou que “da próxima vez quero ver 200 pessoas armadas aqui dentro”.
Um dia antes, num comício, pegou a cabeça de um pixuleco de Lula e simulou que estava apontando uma arma para a cabeça dele.
Era uma homenagem ao atentando à caravana de Lula.
Como viemos parar aqui?
O crescimento de Bolso é resultado direto do golpe e da mídia mono obsessiva.
O extremismo de uma direita indigente eclodiu nas ruas com os protestos financiados pelos tucanos, que bancaram os milicianos do MBL, entre outros.
O ambiente de radicalização foi cultivado e estimulado por Aécio Neves, o desaparecido Carlos Sampaio e demais jagunços de terno, enquanto conspiravam com Temer e Cunha.
O discurso demagógico contra a corrupção, o PT, a esquerda, o bolivarianismo, o Lula, o sítio, o comunismo, a Dilma, o pedalinho, a organização criminosa — ia dar no quê?
Num Churchill? Num De Gaulle? Num Ulysses Guimarães?
A antipolítica ia resultar no quê?
Caímos num senhor boquirroto, limítrofe, violento, demagogo, despreparado, santarrão, com reais chances de subir a rampa do Planalto.
O script estava desenhado.
Enquanto batiam num partido e numa ideia, a cadela do fascismo engravidava até dar à luz.
Bolsonaro é uma excrescência parida por uma democracia disfuncional — que terá que se defender dele sob pena de desaparecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário