sexta-feira, 30 de março de 2018

Orgulhosa, senadora Ana Amélia?


Orgulhosa, senadora Ana Amélia? Por Nathalí Macedo

 
Durante a passagem do ex-presidente Lula e sua caravana pelo Sul, manifestantes atiraram ovos e pedras para demonstrarem seu descontentamento (decerto porque desconhecem a maneira democrática de demonstrar descontentamento com políticos, o voto).
A senadora Ana Amélia Lemos, do Partido Progressista, cumprimentou publicamente seus correligionários por “colocarem pra correr” os seguidores de Lula – nada mais progressista do que incitar a violência.
Ela, que, para os desavisados, parece uma inofensiva senhorinha, disse que os gaúchos devem “levantar o relho e levantar o rebenque”. “Nós sempre os respeitamos”, falou, depois de incitar uma multidão a atirar ovos em um adversário político.
Aparentemente, o conceito de respeito da senadora – e de seus correligionários – é um tanto quanto deturpado.
Depois da repercussão – até seus colegas do Senado retaliaram-na pela falta de decoro – , fez a boa e velha mea culpa dizendo que havia sido mal interpretada.
Esta é, aliás, a pior maneira de se desculpar. Em vez de simplesmente dizer “desculpa, pessoal, falei merda”, diz-se “não fiz nada de mais, o problema está na interpretação de vocês.”
As desculpas mal colocadas, inclusive, de nada adiantaram – porque, afinal, o recado já fora dado. Os criminosos decidiram ir um pouco mais longe. Em vez de ovos, atiraram projéteis.
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Orgulhosa, senadora?
Em um país sério, isso seria tratado como um atentado político incitado por uma pessoa pública – a senadora Ana Amélia, com ou sem mea culpa – contra seu adversário. 
As palavras da senadora deveriam ser tratadas com a gravidade que carregam em qualquer circunstância, mas sobretudo em um país que mata vereadoras esquerdistas a tiros, sobretudo em um país em que se tenta prender um político, sem provas, para evitar que ele se candidate à Presidência – porque, todos sabem, se ele concorrer, não há adversário no Brasil que o derrote – em um país em que um ministro morre em um bizarro e ainda não solucionado acidente (?) de avião. 
Além de irresponsáveis, suas palavras são violentas e perigosas em um país em que a esquerda é cada vez mais marginalizada e a violência há muito não é eminente: é real.
Quem cobrará de Ana Amélia Lemos seu discurso irresponsável, antidemocrático e antiético?
Bastará, para ela, pedir desculpas e negar o óbvio? E sua responsabilidade enquanto pessoa pública?
O que garante a integridade física do ex-presidente, caso não consigam tirá-lo do páreo à força e quem poderá negar que discursos como este reforçam os crimes políticos em um país que já descamba para a barbárie?
Eles matam uma vereadora de esquerda com nove tiros, eles têm um deputado que explana discursos homofóbicos e ovaciona um torturador em plenário, eles atentam contra a vida de um político a tiros, em praça pública, por incitação de uma senadora em ato público… e depois nós é que defendemos bandidos. 
Ah, tá.

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