Orgulhosa, senadora Ana Amélia? Por Nathalí Macedo
Durante a passagem do ex-presidente Lula e sua caravana pelo Sul, manifestantes atiraram ovos e pedras para demonstrarem seu descontentamento (decerto porque desconhecem a maneira democrática de demonstrar descontentamento com políticos, o voto).
A senadora Ana Amélia Lemos, do Partido Progressista, cumprimentou publicamente seus correligionários por “colocarem pra correr” os seguidores de Lula – nada mais progressista do que incitar a violência.
Ela, que, para os desavisados, parece uma inofensiva senhorinha, disse que os gaúchos devem “levantar o relho e levantar o rebenque”. “Nós sempre os respeitamos”, falou, depois de incitar uma multidão a atirar ovos em um adversário político.
Aparentemente, o conceito de respeito da senadora – e de seus correligionários – é um tanto quanto deturpado.
Depois da repercussão – até seus colegas do Senado retaliaram-na pela falta de decoro – , fez a boa e velha mea culpa dizendo que havia sido mal interpretada.
Esta é, aliás, a pior maneira de se desculpar. Em vez de simplesmente dizer “desculpa, pessoal, falei merda”, diz-se “não fiz nada de mais, o problema está na interpretação de vocês.”
As desculpas mal colocadas, inclusive, de nada adiantaram – porque, afinal, o recado já fora dado. Os criminosos decidiram ir um pouco mais longe. Em vez de ovos, atiraram projéteis.
Orgulhosa, senadora?
Em um país sério, isso seria tratado como um atentado político incitado por uma pessoa pública – a senadora Ana Amélia, com ou sem mea culpa – contra seu adversário.
As palavras da senadora deveriam ser tratadas com a gravidade que carregam em qualquer circunstância, mas sobretudo em um país que mata vereadoras esquerdistas a tiros, sobretudo em um país em que se tenta prender um político, sem provas, para evitar que ele se candidate à Presidência – porque, todos sabem, se ele concorrer, não há adversário no Brasil que o derrote – em um país em que um ministro morre em um bizarro e ainda não solucionado acidente (?) de avião.
Além de irresponsáveis, suas palavras são violentas e perigosas em um país em que a esquerda é cada vez mais marginalizada e a violência há muito não é eminente: é real.
Quem cobrará de Ana Amélia Lemos seu discurso irresponsável, antidemocrático e antiético?
Bastará, para ela, pedir desculpas e negar o óbvio? E sua responsabilidade enquanto pessoa pública?
O que garante a integridade física do ex-presidente, caso não consigam tirá-lo do páreo à força e quem poderá negar que discursos como este reforçam os crimes políticos em um país que já descamba para a barbárie?
Eles matam uma vereadora de esquerda com nove tiros, eles têm um deputado que explana discursos homofóbicos e ovaciona um torturador em plenário, eles atentam contra a vida de um político a tiros, em praça pública, por incitação de uma senadora em ato público… e depois nós é que defendemos bandidos.
Ah, tá.
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