MOBILIZAÇÕES
Cartas para Lula: veja o que escrevem as pessoas acampadas em Curitiba
Conhecido por dialogar com a população, ex-presidente recebe mais de 190 mensagens de força e carinho
A cozinheira Ana Lúcia Soares saiu de Centenário do Sul, região norte do Paraná, e veio até Curitiba para ver o ex-presidente Lula, que está preso na Superintendência da Polícia Federal. Apesar das visitas restritas - o que, inclusive, impediu que nove governadores e três senadores vissem o ex-presidente na tarde de ontem (10) - a população encontrou uma forma de conversar com Lula: escrevendo cartas.
“Eu escrevi que a gente vai ficar aqui na luta junto com ele. Nós não vamos sair sem ele”, disse Ana Lúcia. A carta dela foi uma das 105 escritas apenas na terça-feira (10) em uma pequena barraca do acampamento Lula Livre, montado a duas quadras do local onde ele está preso. No dia anterior, foram outras 92 cartas que saíram do acampamento para o ex-presidente. “O meu sonho é que o Lula faça um livro de todas essas cartas para mostrar aos bisnetos dele o quanto era querido pelo povo”, contou a cozinheira.
Iniciativas como essa acontecem em todo o país desde a prisão do ex-presidente. O vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT) e o jornalista Ricardo Kotscho também enviaram suas cartas.
No acampamento de Curitiba, analfabetos encontram ajuda para escrever o que gostariam de dizer a Lula. Conhecido por seu diálogo com o povo, ele receberá cartas de pessoas de vários cantos do Brasil, muitas que nunca o viram pessoalmente, mas que escrevem com carinho e intimidade típicos de um amigo.
“Querido presidente Lula, te amo muito! Força companheiro, estaremos sempre ao seu lado. No meu caso, só estou sendo forte porque estou a base de medicamento [calmante]. Rezo muito por você, o povo precisa de você”, escreveu a pedagoga aposentada Eva Szczepanski.
Para ela, o ex-presidente Lula significou a possibilidade de mudar de vida. “Eu tenho uma história muito sofrida. Até os 16 anos puxava enxada e depois consegui fazer magistério e entrar na faculdade. Foi quando ouvi falar do Lula pela primeira vez e vi que era uma esperança para minha história”, conta. “Eu não tinha nada, saí de casa com a roupa do corpo e fiz a faculdade. Quando entrou Requião [governador do Paraná entre 2003 e 2010] e o Lula, pude fazer mestrado, meu salário melhorou, comprei uma casa, tirei a carteira de motorista e agora tenho um carro. Fui eu que lutei, trabalhei, estudei, mas com as possibilidades que alguns governos ofereceram, principalmente o Lula”, relata.
Eva hoje trabalha com alfabetização de adultos no acampamento Canaã, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Peabiru, noroeste paranaense. Ela chegou em Curitiba junto com os agricultores do acampamento e conta que escutou gritos de “vagabundos” enquanto descia do ônibus. “Eu respondia: pega numa enxada! Veja a mão calejada de um trabalhador rural e de um povo que trabalha na cidade. Não que eles [da cidade] sejam vagabundos, mas compare as duas mãos: qual a mão que mais trabalha? É a mão do trabalhador rural”, disse.
A catarinense Virgínia Vieira também veio para o Acampamento Lula Livre se solidarizar com o ex-presidente. Ela chegou no sábado pela manhã e aguardava a chegada de Lula na Polícia Federal quando os manifestantes foram duramente reprimidos pela Polícia Federal e Militar.
Virgínia é professora e conta que ajudou a instituir o Programa Universidade para Todos (ProUni), criado por Lula em 2004. “Tive alunos de famílias muito pobres e que agora são professores universitários por causa do ProUni. Se isso não é mudar a realidade, eu não sei o que é: tirar uma pessoa da miséria absoluta e permitir fazer faculdade e se tornar advogado, pedagogo, historiador, geólogo, o que for”, avalia. Ela conta que em sua carta, disse para Lula se manter tranquilo e firme. “Escrevi aquela frase que a mãe dele dizia: teima, Lula, teima”, disse a professora.
Praça da República
Durante o festival de música gratuito que aconteceu nesta quarta-feira (11), na praça da República, em São Paulo, voluntários distribuíram papel, caneta e envelopes para que a população pudesse escrever cartas para o presidente. As mensagens foram recolhidas e serão levadas para Curitiba.
"O Lula precisa muito do nosso apoio agora. Quanto mais cartas melhor", disse a especialista em cafés Gisele Coutinho, uma das voluntárias na coleta de cartas para o ex-presidente.
Endereço
De acordo com os organizadores do acampamento, as cartas devem ser encaminhadas para dois endereços:
Instituto Lula - R. Pouso Alegre, 21 - Ipiranga, São Paulo - SP, 04261-030
Sede do PT em Curitiba - Alameda Princesa Izabel, 160 - São Francisco, Curitiba - PR, 80510-200
Edição: Franciele Petry
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