JULGAMENTO
Globo instrumentaliza fala de general para fins políticos, diz Eugênio Aragão
Para o ex-ministro da Justiça, trata-se de uma armadilha da Rede Globo na qual as forças progressistas não devem cair
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As declarações do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, dadas no Twitter e lidas no Jornal Nacional, na noite desta terça-feira (3), ganharam grande repercussão nas redes sociais e aumentaram a pressão sobre o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula no Supremo Tribunal Federal (STF). Para o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, trata-se de uma armadilha da Rede Globo que buscou instrumentalizar a fala do general para fomentar sua posição editorial favorável à condenação do ex-presidente.
Em sua conta no Twitter, o general disse “compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”. E completou: "nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”.
Na opinião de Aragão, "o general é uma figura pública como qualquer outra. E ele se manifesta sobre um assunto de interesse nacional. Eu não vejo nada demais nisso. Acho que as pessoas estão muito com os nervos à flor da pele. E acho que a gente não deve dar essa importância toda. A Globo deu essa importância porque ela quis realmente instrumentalizar o general para os seus fins”, afirmou.
Aragão afirmou conhecer muito bem Villas Boâs, a quem classificou como uma pessoa equilibrada, responsável por afastar “cabeças quentes” da tropa, como o general Hamilton Mourão, que defendeu publicamente a intervenção militar. Para o ex-ministro da Justiça, as declarações de Villas Boas foram de um comandante de tropa que precisar dar a ordem do dia em um momento de nervosismo.
O ex-ministro da Justiça destacou também que a preocupação com a impunidade mencionada pelo general é partilhada pelas forças progressistas que, por exemplo, esperam a punição daqueles que derrubaram fraudulentamente a ex-presidenta Dilma Rousseff, daqueles que disparam com arma de fogo contra a caravana do ex-presidente Lula e também de quem assassinou a vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco.
“Existe uma seletividade e isso daí talvez faltou ao general dizer. Quer dizer, a punição não pode ser seletiva. E ela é extremamente seletiva. Esse é o problema da desmoralização das nossas instituições. Mas, a defesa da democracia que ele fez, a defesa da coerência do judiciário e também da chamada paz social, isso daí era de se esperar de um general de tropa”, concluiu.
Repercussão
Na manhã desta quarta-feira (4), o ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, afirmou ao jornal “O Globo” que a mensagem do general Villas Bôas “é que a população pode ficar tranquila, pois as instituições estão aqui. Não é uma mensagem de uso da força. É o contrário".
Em nota conjunta, os petistas Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e Paulo Pimenta declararam não ser natural da democracia que chefes militares se pronunciem sobre questões políticas ou jurídicas e, mais estranho ainda, é a manipulação das falas do comandante do Exército pelo Jornal Nacional. “A Globo quer repetir o que fez em 1964, quando incitou chefes militares contra o governo constitucional de Jango Goulart”, acusaram.
Em sua conta no Twitter, a ex-presidenta Dilma pediu responsabilidade e respeito de todos à Constituição e à presunção de inocência. “É inaceitável que a Globo insista em repetir o passado e como vivandeira incite ao golpe”, declarou.
Com tom mais crítico, o governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), disse, também no Twitter, que “em nenhuma democracia do Planeta um comandante do Exército se pronuncia nesse tom às vésperas de um julgamento importante da Suprema Corte”.
Na mesma linha, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) também criticou a divulgação pública de opiniões do general Villas Bôas sobre a atuação do Judiciário. “É condição indispensável para o fortalecimento democrático que as Forças Armadas se limitem ao exercício do papel que lhes foi atribuído pelo desenho constitucional. E nessas atribuições não estão presentes a autonomia sem o comando civil supremo em todas as três armas, e muito menos a interferência no funcionamento de qualquer um dos poderes da República”, defenderam.
Edição: Thalles Gomes
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