sexta-feira, 13 de abril de 2018

Os argumentos degradantes da economista Monica de Bolle sobre Lula, o “ladrão honrado”


Os argumentos degradantes da economista Monica de Bolle sobre Lula, o “ladrão honrado”

 
Monica de Bolle, economista
Publicado no Facebook de Edmundo Machado de Oliveira
Foi basicamente desagradável ler os argumentos degradantes da economista Monica De Bolle, publicados no último dia 9 de abril no site Poder360, sobre o que ela descreve como “profundamente desagradável ver os eventos em torno da prisão de Lula”. Escrevendo sob indignação célere e aparentemente sob efeito de algum estupefaciente (porque se ela acusa Lula sem base de estar aparentemente embriagado ao discursar, posso também tomar a liberdade de lançar-lhe ofensa equivalente ao escrever seu artigo que pinga ódio), Monica se posta como guardiã da mocidade brasileira, cuja parcela de esquerda ela compreende, mas não aceita, estar mesmerizada por Lula.
A atilada Monica, eleitora de Aecio Neves contra Dilma Rousseff, concede que o “impeachment apoiado por mim na época sob argumentos puramente econômicos”, revelaram (os argumentos) a “mais profunda e vergonhosa ingenuidade” (sua, suponho, porque ela espertamente omite o pronome possessivo minha). Claro, diz ela, depois de “tanto cinismo e desaforo”. Ora, Monica, a senhora precisou do sr. Joesley Batista para descobrir o cinismo e desaforo de Temer e sua quadrilha, de Aecio e seu pobre primo “que a gente manda matar”? A senhora é mesmo muito atilada, tremendamente esperta…
A gente nunca ouviu um dia o economista chileno Hernan Büchi, ministro da Fazenda de Pinochet de 1985 a 1989 e candidato presidencial dos pinochetistas, dizer que teve “profunda e vergonhosa ingenuidade”. Ele assumiu os crimes de Pinochet como ossos do ofício (ah! esse ofício tão puro dos economistas!), talvez sob “argumentos puramente econômicos”. Mas conhecemos o caso da brilhante cineasta alemã Leni Riefenstahl, que foi braço direito de Goebels, mas se “desculpou” no pós-guerra porque nunca “soube” dos campos de concentração. Seus argumentos eram puramente estéticos…
Menos Monica. A senhora se arvora em crítica política de Lula dizendo que ele foi o fomentador de todo o mal ao promover (coalizão PT-PMDB) o que há de pior na política brasileira. Diz, em resumo e para abreviar, que não se justifica a narrativa de Lula e petistas sobre serem vítimas da elite. Uma elite por eles acalentada e nutrida no BNDES, na mídia etc e tal. É fato Monica, um importante erro do PT foi não compreender a máxima descrita pelo economista turco Dani Rodrik para o sistema político americano, em que o agente público “não deve nem ser muito próximo que pareça promiscuidade, nem muito distante que pareça indiferença”.
Agora, a minha pergunta para a tão arguta especialista: quantos anos de Constituição Democrática têm os EUA onde a senhora vive? E, mesmo assim, quantos casos escabrosos recentes lhes ocorreram (Irã-Contras, Halliburton, Enron e, sobretudo, o impune caos do subprime)? Nossa primeira Constituição verdadeiramente democrática tem apenas 30 anos, agora, lembra-se? Acaso FHC aprovou uma reforma tão necessária como a LRF sem ter o apoio do que de mais podre existe na política brasileira, o mesmo PMDB e o então PFL do deputado motosserra de humanos Hildebrando Pascoal?
O fato é que a senhora retira da elite brasileira os bravos juízes e procuradores (nem vou inserir os generais) ofendidos por Lula, assim como a mídia absolutamente angelical que temos (dou-lhe um desconto, não muito mas dou, porque a senhora não ocupou altos cargos em redações como eu ocupei). Claro, nossos juízes não têm privilégios, são castos como juízes escandinavos. Não se refestelam com auxílio-moradia, não gozam de penduricalhos diversos, não impõem ao Estado brasileiro, junto com a alta burocracia estatal, o monumental déficit do regime próprio dos servidores. Nada disso é corrupção, não é mesmo? Só desvios. Mas há esperança e eu a tenho na senhora. Na sua verve quase cortante, quase convincente.
Pergunta a senhora: “Qual a chance de renovação em uma esquerda que acredita em ladrões honrados, e uma direita que vende a falsa ideia de que jamais teve algo a ver com tudo isso? (…) Qual será a liderança finalmente capaz de explicar tudo isso para que possamos finalmente ir em frente com mais sobriedade?” Modestamente, avanço um palpite, uma sugestão: Monica De Bolle, a jucunda economista e crítica política. Só falta uma coisa: fundar ou entrar num partido político e projetar-se como a mulher honrada, líder limpa de ladroagem. Mas, advirto, será necessário combinar com o distinto público, dialogar e negociar com homens políticos concretos e instituições nada abstratas. Tapar o nariz não vai adiantar.
Por fim, uma nota de esperança: como a senhora, nutro o sonho de um país mais justo; trabalhei por isso no governo Lula e nunca me contaminei, mesmo estando ao lado de Antonio Palocci (para a senhora ver como complexas são as coisas). Só digo à senhora que não olhar (como seu artigo faz) para o estado periclitante que a turma Carmen-Fux-Facchin-Weber-Moraes-Barroso (tutelados pelo comandante do Exército?) colocou a nossa Constituição e rebaixar Lula a menos que um “ladrão honrado” sem direito a garantias constitucionais perfeitamente estabelecidas no texto da Magna Carta e no Código de Processo Penal é o caminho mais curto para o fim da Democracia. O caminho para que nosso sonho vire pesadelo. É disso que se trata. E é bom que a senhora e quem a lê caiam na real.

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