quinta-feira, 28 de junho de 2018

Eleições 2018 Frente de esquerda tenta se consolidar, mas coalizão é improvável


Eleições 2018

Frente de esquerda tenta se consolidar, mas coalizão é improvável

por Laura Castanho — publicado 28/06/2018 16h00, última modificação 28/06/2018 16h15
Campo progressista busca unidade programática, mas lideranças do PSB e do PSOL negam objetivo eleitoral com aproximação
PCdoB / Câmara
Frente de Esquerda
Surgida a partir de manifesto, a frente de esquerda na Câmara deve ser formalizada em julho
O manifesto lançado em fevereiro pelas fundações dos partidos de esquerda deverá se converter em uma frente de esquerda na Câmara dos Deputados, com lançamento marcado para o dia 3 de julho. A medida, mais simbólica que efetiva, não significa a abertura de um diálogo para uma coalizão eleitoral das legendas do campo progressista, de acordo com lideranças de partidos como o PSB e o PSOL. 
A frente praticamente não foi divulgada por meios oficiais dos partidos, ainda que tenha sido confirmada pela maioria dos deputados envolvidos e por integrantes das fundações partidárias. O lançamento estava marcado para a última quarta-feira (26), mas foi adiado para a semana seguinte em função do jogo do Brasil.
Não à toa, alguns dos próprios líderes dos partidos envolvidos — PT, PSB, PSOL, PDT e PCdoB — desconhecem a criação. 
É o caso de André Figueiredo (CE), líder do PDT na Câmara. “Não sei de nenhuma frente, não me avisaram”, disse. Questionado, afirmou saber apenas da aliança informal promovida pelos partidos há cerca de dois meses.
Já o deputado Ivan Valente reconheceu a frente, mas negou se tratar de qualquer coisa além de uma união simbólica. “Não há coalizão nenhuma, não existe esse termo”, disse.
Segundo relatos, a frente tem como propósito iniciar uma discussão sobre um projeto comum de desenvolvimento nacional e abrir o diálogo entre os próximos deputados identificados com a esquerda, facilitando a formação de uma base no plenário.
“É mais uma medida a posteriori a partir da fundação de um novo Congresso Nacional. É para formar e orientar os próximos legisladores do país”, afirmou Alexandre Navarro, que deve presidir a fundação João Mangabeira, ligada ao PSB, a partir da próxima semana. (O presidente anterior, Renato Casagrande, tirou licença recentemente para concorrer ao governo do Espírito Santo.)
Navarro ressaltou que “não é uma questão eleitoreira” e disse achar “muito dificil, muito improvável” que a frente se transforme em uma coalizão formal visando as eleições de outubro.
Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, se limitou a chamar a frente de “plataforma” e “veículo”, e, na mesma linha de Navarro, nega que a frente poderia ser o caminho para um projeto eleitoral unificado. “Na nossa perspectiva, [não há] nenhuma chance de virar coalizão eleitoral. Achamos que não era coerente misturar eleições com união política”, afirmou.
O líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Orlando Silva, afirma que o objetivo é construir uma agenda em comum. "Queremos levar uma agenda de reformas não realizadas para depois da eleição”, declarou a CartaCapital. Ele estima que os cinco partidos, atualmente com 122 deputados, consigam eleger entre 130 e 140 parlamentares a partir de articulações conjuntas.
Segundo Silva, o principal combustível da unidade foi a força das pautas conservadoras no Congresso, do impeachment à reforma trabalhista, que deixaram a esquerda sem ação. “Somos obrigados a chupar cana e assoviar [no governo Temer].”
O PT, por sua vez, tem visão similar. “Essas ações caminham no sentido de formar uma frente mais coesa”, diz Celso Pansera, deputado pelo Rio de Janeiro. “O impeachment criou uma cisão da esquerda muito forte com o resto do Congresso. Ficamos muito reféns do chamado centrão. Com o Temer, [os partidos] ficaram sem projeto claro. Vão ter que recompor uma base de maioria.”
Como fica a rotina das bancadas, daqui para frente? “Na proximidade do processo político-eleitoral, vai ser mais frequente [as conversas entre os partidos], mas sem formalidade.”
Eleições presidenciais
As alegações sobre a possibilidade de a esquerda fechar uma chapa unificada para as eleições presidenciais antes do primeiro turno são igualmente contraditórias, mas apontam que não haverá unidade. Um deputado que esteve recentemente com o ex-presidente Lula em Curitiba afirmou que ele quer uma união da esquerda somente para o segundo turno.
Deputados do PT confirmaram essa orientação. Segundo relatos, a iniciativa de juntar as fundações das cinco legendas do campo progressista teria partido da fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.
Para Orlando Silva, do PCdoB, pode até funcionar. “O desastre do Temer é a maior propaganda do PT.” Ele confirma que o partido cogita trocar a candidatura de Manuela D’Ávila à presidência por uma chapa unificada de esquerda, antes do primeiro turno. Mas sem certezas. “Só nós estamos nessa. O ambiente é tão instável no Brasil que não dá pra cravar.”
Entre os outros candidatos progressistas, o programa desenvolvimentista de Ciro Gomes (PDT) atrai os comunistas. Silva diz não se importar com as possíveis alianças do pré-candidato com PP e DEM. “O problema não é a aliança, é o programa.”

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