ENTREVISTA
'Se o plano A do povo brasileiro é o Lula, por que o PT tem que pensar no Plano B?'
“A candidatura do Lula vai ser entregue pelo povo. E estamos preparados para a batalha política e jurídica em torno disso”, diz ex-ministro Alexandre Padilha
por Luís Eduardo Gomes publicado 14/07/2018 17h45
GUILHERME SANTOS/SUL21
Sul21 – Um dos responsáveis por elaborar o plano de governo para a campanha presidencial do ex-presidente Lula, o ex-ministro da Saúde de Dilma, Alexandre Padilha (PT-SP), participou nesta sexta-feira (13) de uma plenária de centrais sindicais realizadas na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Em conversa com o Sul21 pela manhã sobre a situação política do partido e do ex-presidente, o ministro reafirmou a posição que vem sendo difundida pelo PT de que de não há plano B como alternativa à candidatura de Lula.
Padilha destacou que o PT ainda tem 30 dias para tomar uma definição, visto que o prazo para inscrição das candidaturas vai até o dia 15 de agosto, mas que a estratégia de manter a candidatura do Lula até o final está “absolutamente mantida”. “Se alguém quiser tirar a candidatura do Lula das urnas, não será o PT. Quem fizer essa violência, rasgando a Constituição, vai ter que botar a sua digital nesse atentado à Constituição e isso vai ficar marcado para a história brasileira. Vamos manter a candidatura do Lula até o fim”, diz.
A estratégia do PT é fazer, em 15 de agosto, um grande ato com movimentos sociais, artistas e personalidades internacionais, em Brasília. “A candidatura do Lula vai ser entregue pelo povo. E estamos preparados para a batalha política e jurídica em torno disso”, diz Padilha.
Por outro lado, ele afirma que o PT segue mantendo conversas com outros partidos para a formação de uma aliança eleitoral, indicando que as conversas mais próximas estão ocorrendo com os partidos PSB, PCdoB e PROS. Contudo, o ex-ministro ressalta que ainda continuam as conversas com os demais partidos que formaram uma frente progressista e lançaram recentemente um manifesto com críticas ao governo de Michel Temer (MDB) e propondo um programa mínimo comum, especialmente com o PDT. Para Padilha, é necessário que ter um “vice que amplie” compondo a chapa com Lula, que poderia vir até de fora desses partidos.
“O meu nome dos sonhos sempre foi o Josué Alencar (PR), acho que representaria a recuperação simbólica muito importante do primeiro mandato do Lula com o José Alencar. Estamos em conversa, tanto com o Josué, quanto com o PSB, com PCdoB, para que eles possam indicar nomes”, disse. O PR, de Alencar, vem sendo cobiçado por diversos candidatos, como Ciro Gomes (PDT), e inclusive do outro espectro político, visto que chegou a ser anunciado que o senador Magno Malta (PR-ES) poderia ser o vice de Jair Bolsonaro (PSL).
E o Plano B?
Para Padilha, a pressão para o PT apresentar um plano B não atinge o partido. “Se o plano A do povo brasileiro é o Lula, porque o PT tem que pensar no Plano B?”, questionou, em referência à liderança do ex-presidente nas pesquisas.
Segundo ele, essa cobrança vem de setores da imprensa que ele considera ser “intermediários do setor financeiro e do poder econômico”. “Qual é o drama de quem fez o golpe no País e quem sustenta o governo Temer? É que eles não conseguiram construir um candidato e o sonho deles é que o candidato deles dispute o segundo turno com o Bolsonaro, que é outra cria que eles fizeram. Só que não tem espaço para os dois”, diz.
Padilha acredita que, com Lula na disputa, o candidato que seguirá a cartilha do setor financeiro terá que partir para cima de Bolsonaro para ter alguma chance de estar no segundo turno. “Esse é o drama deles. Semearam o ódio e a intolerância no País e estão colhendo o Bolsonaro”, afirma. “O setor que financiou o golpe quer tirar o Lula porque sabe que ele é única liderança política com condições, ganhando as eleições, de revogar as medidas que eles impuseram. Então, quando esses intermediários do poder econômico dizem isso [sobre o Plano B], é porque eles não sabem qual é o texto de consultoria para as matrizes deles do setor financeiro, dos fundos de investimento. Eles não sabem dizer se, em 2019, a lei trabalhista vai ser a mesma atual, que retirou todos os direitos dos trabalhadores. Se o governo federal vai ter o compromisso atual de sacrificar saúde, educação, habitação, para ficar pagando dívida para o setor bancário. Por isso tem essa pressão tão grande para o PT retirar a candidatura do Lula”.
Questionado então sobre o que o PT fará para o caso de o ex-presidente Lula seja barrado pela justiça de registrar sua candidatura, Padilha afirmou: “Se eles rasgarem a Constituição, cometerem essa violência, temos um consenso muito claro de discutir com o Lula uma alternativa”, disse. “Se eles cometerem essa injustiça, nós vamos ter uma fotografia que é o Lula não podendo ser candidato, mas o Aécio podendo ser, o Romero Jucá podendo ser. Nós vamos fazer esse debate com a população”.
Episódio do HC
Apesar de manter a confiança durante toda a entrevista de que o PT conseguirá registrar a candidatura de Lula, Padilha afirmou que os acontecimentos do último domingo (9) a respeito do habeas corpus concedido pelo desembargador plantonista do TRF4, Rogério Favreto, e depois retirado pelo presidente do tribunal Thompson Flores após pressão do juiz Sérgio Moro e do desembargador Gebran Neto, escancarou duas coisas. “A primeira é a vontade de uma parte significativa do povo brasileiro de ver o Lula presidente, ver o Lula se candidatar, porque a esperança de ver o Brasil voltar a crescer passa pelo Lula. O outro fator que mostrou é que tem um setor judiciário, da mídia, de interesses que estão por trás, que não têm nenhum pudor de tomar qualquer tipo de medida de exceção, rasgar a nossa Constituição, rasgar qualquer procedimento jurídico, para conseguir aquilo que eles sonham, que é tirar o Lula das eleições. Esses setores se borram de medo de ver o Lula candidato, porque sabem a força que o Lula tem”.
Mudança na conjuntura
Questionado sobre a sua confiança de que o PT poderá voltar a ganhar as eleições mesmo depois da conjuntura que sucedeu a eleição de Dilma em 2014, passando pelo impeachment e a prisão de Lula, Padilha elenca três fatores que o levam a pensar que o contexto mudou. O primeiro deles é que, para o ex-ministro, o ex-presidente, a sua defesa e a atuação de vários juristas conseguiram deixar claro para a população que não há provas que embasem a sua condenação.
“Não à toa, o juiz o de primeira instância de Curitiba que condenou o Lula, que tinha há dois anos 80% de aprovação da população, hoje tem a rejeição maior do que a do Lula. Ou seja, ficou explícito que está acontecendo uma condenação absolutamente política”, diz Padilha — pesquisa Ipsos divulgada no final de junho apontava que Moro era desaprovado por 55% da população e Lula por 54%.
O segundo ponto elencado por Padilha é que a população teria percebido que os “arautos da ética” que comandavam a campanha pelo impeachment de Dilma estavam eles muito envolvidos em corrupção. “As pessoas começaram a ver as caixas de dinheiro do Geddel, as ligações do Aécio, as contas na Suíça do Eduardo Cunha, o perfil dos ministros do Temer, as ações do Temer no Congresso Nacional para se manter presidente da República. Ou seja, começaram a perceber que o perceber que a Dilma foi retirada da presidência sem nenhum crime e entrou uma corja de ladrões para governar o País”, afirma.
O terceiro fator seria as medidas adotadas por Temer após chegar ao poder, o que ele considera como um desastre social. “É só ver o preço do gás de cozinha, ver a situação do desemprego. Eu dou aula numa universidade de São Paulo em que a maioria dos alunos estavam lá por causa do FIES e do ProUni. Esse ano, tivemos 17 mil alunos a menos, de 80 mil alunos. Ou porque não tem mais ProUni, por que não tem mais FIES, ou porque todo mundo da família está desempregado e o jovem tem que arrumar trabalho”.
Programa de governo em breve
Por fim, Padilha ainda destacou que o PT pretende lançar, possivelmente na próxima semana, um “programa de emergência” com 13 propostas para tirar o Brasil da crise. “Uma das medidas, anunciada pelo próprio Lula, por exemplo, é de ampliar a isenção do imposto de renda para a classe trabalhadora. Não podem os trabalhadores e trabalhadoras pagarem a conta dos desmandos do atual governo. Outra é recuperar os programas sociais. Temos muito claro de revogar as medidas feitas pelo Temer, revogar a reforma trabalhista. Queremos rediscutir o financiamento da educação. Não admitimos essa do ideia do congelamento por 20 anos do investimento público nesse País. Revogar essas medidas de entrega do pré-sal, de entrega da Petrobras”, afirma.
A reportagem também conversou com Padilha a respeito da situação da saúde do País, a ser publicada na próxima semana.
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