terça-feira, 16 de outubro de 2018

Edgar Rocha, leitor do Viomundo: Gerson, também tenho pavor do que vem pela frente!






VIOMUNDO
Diário da Resistência
    












Edgar Rocha, leitor do Viomundo: Gerson, também tenho pavor do que vem pela frente!
Divulgação

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Edgar Rocha, leitor do Viomundo: Gerson, também tenho pavor do que vem pela frente!


16/10/2018 - 17h17

Videoclipe  do álbum The Wall, de Pinkk Floyd e Roger Watters, lançado em 1979
https://youtu.be/I0fgxSei0xE?t=141

por Edgar Rocha* 
Nasci em 1972.  Desde meus cinco anos de idade, vejo minha família militando.
Me lembro do terror que vivíamos, mesmo estando distantes do centro da participação política.
Foram seminaristas “suicidados”, militantes desaparecidos, autoritarismo nas escolas (aquela coisa de ordem unida, hastear bandeira, cantar o hino nacional, e temer, temer, temer).
Alunos apanhavam, eram expulsos, sobretudo se fossem pobres. Todo mundo tinha que tomar cuidado com o que falava em sala de aula.
Canalhas de todo tipo posavam de senhores da ordem e dos costumes.
Certa vez, levei um aperto de minha família: levei pra escola um livro pra ler nas horas vagas.
Achei bonito, porque tinha um porquinho segurando uma taça de champanhe,
Eu estava na terceira série, mesmo assim meu professor não perdoou: “Isto é coisa de comunista!”
Chamou meus pais e eu passei o ano copiando o “Caminho Suave” [cartilha] nas horas vagas pra ter o que fazer e não virar marginal.
O livro era A Revolução dos Bichos, de George Orwell.  Minhas irmãs ficaram apavoradas, coitadas.
Não tenho nenhuma saudade de nada disto. Nem das dificuldades, da carestia, do desemprego, das humilhações, dos medos, da discriminação por ser pobre.
Lamento profundamente que, nas periferias, a repressão com “R” maiúsculo nunca tenha deixado de existir.
Reclamo disso feito pobre no Datena.
Não me conformo com o fato de a tortura, o medo, a criminalização dos mais pobres – tudo aquilo que mais eu desejaria ver combatido – jamais tenham sido alvo da combatividade de uma esquerda que se identifica muito mais com classe média do que com os mais pobres.
Fiz uma ironia dia desses, e ela ainda me vem à cabeça quando me irrito com minhas frustrações. É como disse o Mujica. A política é cíclica. Há períodos em que o pobre apanha e períodos em que a classe média também apanha.
Enquanto houver tolerância à dor alheia, vamos continuar neste ciclo.
Esta conciliação política jamais foi prioritária. Este seria o verdadeiro pacto pela democracia e pela governabilidade.
Na minha opinião, chamar os mais pobres para  denunciar a truculência contra a classe média letrada e se esquecer de defender o Estado de Direito para todos acaba confundindo a cabeça das pessoas, sobretudo daquelas que estão em situação mais frágil.
Aí, não dá para dizer que o povo não sabe votar.
Está difícil chegar a um favelado e dizer para ele não votar no Bolsonaro.
Tudo o que as pessoas querem é parar de apanhar, pelo menos de um dos lados.
Pensando como um refém do PCC numa comunidade dominada, o desespero não deixa outra opção senão tentar anular o inimigo mais próximo.
Sei que é um equívoco. Sei que a polícia não vai matar sua galinha dos ovos de ouro.
Mas, fazer o quê, se a esquerda não moveu uma palha para enfrentar o problema?
Ao contrário, tentou cooptar as “lideranças comunitárias” que comandam esses locais.
Isso ocorreu, sim! E não aceito que venham dizer que é mentira! Não, no caso da zona Leste de São Paulo.
Eu mesmo fico tão surpreso com a ambiguidade daqueles que elaboram ideologicamente essa “estratégia” que me atrevo a dizer que um dia, no futuro, muita coisa estranha terá de ser esclarecida para o real entendimento de certos fatos históricos.
Mas, só quem sofre com os resultados dessa situação pode se preocupar em entender. Os que controlam o jogo político nem querem tocar no assunto.
Os que não são atingidos pela repressão ininterrupta nos cantões e quebradas também nem estão nem aí. Eles podem se dar o luxo de serem “pragmáticos”, indiferentes, de trilharem os atalhos que só eles conhecem para chegada ao poder.
Ao Gerson Carneiro, o qual admiro desde sua primeira postagem, só posso dizer que também tenho pavor do que vem pela frente.
Só me ressinto de ser tão acostumado com o medo que já não sei o quanto poderá piorar nas periferias. Nem quero pensar muito, por ora para não entrar em pânico.
Edgar Rocha é leitor do Viomundo. Este texto foi publicado originalmente como comentário ao texto de Gerson Carneiro
ROGER WATERS, PERDOE O BRASIL! 


https://youtu.be/X53c5LevN8E?t=162



Roger Waters, vaiado em São Paulo por colocar Jair Bolsonaro numa lista de líderes fascistas, é filho de Eric Waters; um tenente que morreu na Itália, lutando contra o fascismo.
Vaiar as manifestações políticas de alguém com uma história como a dele é desrespeito e ignorância. Hoje, tentamos vencer esse desconhecimento num vídeo que também pretende ser um pedido de desculpas, em nome (da parte consciente) do Brasil.

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