FREI BETTO: APERTAM CADA VEZ MAIS AS ALGEMAS DE LULA
Frei Betto falou com exclusividade ao jornalista Mauro Lopes, para o Canal Paz e Bem sobre a espiritualidade do ex-presidente Lula; o frade dominicano e o ex-presidente são amigos há 40 anos e Frei Betto sempre foi uma referência espiritual da família Silva; na entrevista, ele apresenta uma imagem forte: "apertam cada vez mais as algemas de Lula"; a conversa aconteceu antes de o Judiciário negar a Lula o direito de ir ao enterro do irmão, Vavá, mas é uma imagem forte e realista do que as elites estão fazendo com Lula nos últimos tempos; segundo o frade, Lula é um homem "de muita fé, de quem sente forte presença de Deus na vida dele"
30 DE JANEIRO DE 2019 ÀS 10:48 // INSCREVA-SE NA TV 247
247 - Frei Betto concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Mauro Lopes, para o Canal Paz e Bem, uma iniciativa de parceria e amizade da TV 247, sobre a espiritualidade de Lula. O frade dominicano e o ex-presidente são amigos há 40 anos e Frei Betto sempre foi uma referência espiritual da família Silva. Na entrevista, ele apresenta uma imagem forte: "apertam cada vez mais as algemas de Lula". A conversa com Frei Betto aconteceu antes de o Judiciário negar a Lula, nesta terça-feira (29) o direito de ir ao enterro do irmão, Vavá, mas é uma imagem forte e realista do que as elites estão fazendo com Lula nos últimos tempos. Segundo o frade, Lula é um homem "de muita fé, de quem sente forte presença de Deus na vida dele".
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Frei Betto constata que Lula e sua mulher, Marisa, eram um casal no qual "os valores evangélicos estavam arraigados". Ele relata que ambos "participavam ativamente quando eu fazia celebrações na intimidade familiar" e que a prática não foi interrompida durante o período presidencial. Um resumo da espiritualidade de Lula quando presidente: "os direitos dos mais pobres" acima de tudo.
A íntegra da entrevista, concedida por email, foi reproduzida no programa Paz e Bem desta quarta-feira e você pode assistir mais abaixo.
A seguir, a íntegra da conversa com Frei Betto.
No Programa Paz e Bem desta quarta (30), Frei Betto nos falou sobre a espiritualidade de Lula. Os dois são amigos há 40 anos, desde 1980 e o frade dominicano foi nesses anos todos uma referência de espiritualidade da família Silva.
Conversamos sobre a espiritualidade de Lula, o homem sem direitos do Brasil pós-golpe, do regime que esmagou a Constituição de 1988 e respira morte e neofascismo. A conversa, por escrito, foi transmitida no programa Paz e Bem desta quarta-feira (30), um dia depois de a juíza Carolina Lebbos negar a Lula o direito que lhe é garantido por lei de ir ao enterro do irmão Vavá que morreu nesta terça. Nem na ditadura esse direito lhe foi negado. Em 12 de maio de 1980, encarcerado no Dops, em São Paulo, Lula foi liberado para ir ao enterro da mãe, dona Lindu.
Na conversa, Frei Betto fala sobre a espiritualidade de Lula ao longo dos anos e agora e como ele e Marisa Letícia viveram uma espiritualidade de casal e família.
A entrevista foi feita antes que fosse negado a Lula o direito de ir ao enterro de Vavá. Mas a imagem de Frei Betto é forte, precisa: “apertam cada vez mais as algemas de Lula”.
Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, aos 74 anos, é um dos principais líderes espirituais do Brasil Escritor prolífico, dois de seus livros são conhecidos mundialmente, “Batismo de Sangue” e “Fidel e a Religião”. Ficou preso duas vezes na ditadura, a segunda por quatro anos (1969-73). É um nome fundamental na Teologia da Libertação na América Latina.
Conheceu Lula em São Bernardo em 1980 e tornaram-se grandes amigos. Há 40 anos caminham juntos e Frei Betto tornou-se uma referência de espiritualidade para a família Silva.
Conheceu Lula em São Bernardo em 1980 e tornaram-se grandes amigos. Há 40 anos caminham juntos e Frei Betto tornou-se uma referência de espiritualidade para a família Silva.
Leia a entrevista:
Paz e Bem: Você conheceu Lula em São Bernardo na virada dos anos 1970-1980, quando atuava na Pastoral Operária, logo depois de deixar Vitória, onde atuou nas Comunidades Eclesiais de Base numa favela da cidade. Como foi o encontro das espiritualidades de Lula e Betto em 1980?
Frei Betto: Desde o segundo semestre de 1979 iniciei a assessoria à Pastoral Operária do ABC, nomeado por Dom Cláudio Hummes. Porém, só fui encontrar Lula pela primeira vez em janeiro de 1980, em João Monlevade (MG), na posse de um sindicalista. Ele então me convidou a ir a casa dele. Na visita, percebi que ele e Marisa eram católicos, sendo que ela havia tido formação familiar e paroquial de muita devoção, e ele, uma religiosidade menos devocional. Mas tinha por hábito orar antes das refeições. Não posso dizer que houve propriamente um “encontro de espiritualidades”. Sempre fui avesso ao proselitismo religioso. Portanto, pouco falamos de nossas experiências de fé.
Lula é um homem de fé?
FB: Sim, de muita fé, de quem sente forte presença de Deus na vida dele. Na última visita que fiz a ele na prisão, dia 17 de dezembro passado, levei a eucaristia para celebrarmos o Natal.
Como era a relação de Lula com as Comunidades Eclesiais de Base?
FB: Ele nunca pertenceu a nenhum movimento pastoral. Mas como as CEBs foram responsáveis pela capilaridade nacional do PT, como ele mesmo admite, os contatos com elas se sucederam com muita frequência. Em algumas regiões do Brasil era comum a coincidência entre núcleo do PT e CEBs. Certa ocasião, no interior do Maranhão, ao visitar um núcleo petista, a reunião teve início com uma senhora puxando uma oração. O dirigente que acompanhava Lula alertou-a não caber oração em uma reunião partidária. Ela retrucou: “Como não? Aqui todos são petistas e todos militam na pastoral”.
Qual foi de fato a relevância das CEBs para a formação do PT?
FB: O PT resulta de quatro vertentes: CEBs, sindicalismo combativo, militantes de esquerda remanescentes da luta contra a ditadura e intelectuais. Porém, das quatro eram as CEBs que tinham mais capilaridade no território nacional, da periferia de São Paulo aos grotões amazônicos. Muitas figuras que tiveram liderança no PT vieram das CEBs, como Luiza Erundina, Marina Silva, Vicentinho, Olívio Dutra e Paulo Paim, entre outros
Como era a espiritualidade de Marisa Letícia?
FB: Marisa, se bem me lembro, tinha sido Filha de Maria na juventude. Tanto ela quanto Lula sempre gostaram de celebrações litúrgicas e fizeram questão de batizar e casar os filhos na Igreja. Mas nunca conversei com ela a ponto de saber como orava etc.
Como a espiritualidade de ambos Marisa e Lula interagia?
FB: Os valores evangélicos estavam arraigados neles. Participavam ativamente quando eu fazia celebrações na intimidade familiar. Passamos muitos natais juntos e sempre fizeram questão de celebrar como festa religiosa. E jamais deixaram de comparecer à Missa do Trabalhador, celebrada todo 1 de Maio na Matriz de São Bernardo do Campo por iniciativa da Pastoral Operária.
Você participou do primeiro governo Lula, como assessor dele e no Fome Zero. Como você avalia sua experiência?
FB: A minha experiência está avaliada em dois livros editados pela Rocco: “A mosca azul – reflexão sobre o poder” e “Calendário do Poder”, meu diário de dois anos de trabalho no Planalto. Foi uma experiência positiva, sobretudo por se tratar de um programa voltado a erradicar a miséria e superar a fome dos mais pobres. Contudo, no meio do caminho o governo decidiu substituir um programa de caráter emancipatório, o Fome Zero, por outro, bom, mas de caráter compensatório, o Bolsa Família. Como discordei da mudança, voltei a ser um feliz ING – Indivíduo Não Governamental. E como assessor da Presidência aprendi que o poder não muda ninguém, faz com que a pessoa se revele.
Como a questão da espiritualidade colocava-se para Lula quando presidente?
FB: Para Lula os direitos dos mais pobres é o que importa, considerando que, na infância, ele conheceu a miséria. Nesse sentido ele sempre teve forte espiritualidade de “opção pelos pobres”. E nas datas litúrgicas importantes, como Páscoa e Natal, pedia que eu promovesse uma celebração para os funcionários do Planalto. E ele e Marisa sempre participavam.
Lula recebeu religiosos, religiosas, lideranças espirituais de diversos caminhos na cadeia. Você esteve com ele também. Como está a jornada espiritual de Lula neste momento. Como se dá a interação dele com lideranças de tantos caminhos?
FB: Ele sempre foi aberto ao diálogo inter-religioso e nunca teve preconceito a qualquer manifestação religiosa. Em suas campanhas presidenciais várias vezes participei de Comitês Religiosos que congregavam lideranças de várias crenças. E as visitas na prisão (fiz duas) tinham um amplo leque de profissões religiosas. Infelizmente a juíza Lebbos proibiu, agora em janeiro, visitas religiosas toda segunda-feira. Agora é apenas uma vez ao mês. Ou seja, apertam cada vez mais as algemas de Lula.
Como você avalia essa recente decisão da juíza Carolina Lebbos de restringir as visitas de lideranças religiosas a Lula?
FB: É uma medida draconiana de quem legisla com o fígado. Mas não tem como ela impedir que Lula continue a ser a maior liderança popular de nosso país.
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