Bolsonaro: dois meses com festival de asneiras e ameaças a direitos
O governo de Jair Bolsonaro chega a seu segundo mês de vida como ameaça aos direitos e fonte inesgotável de anesiras. Foram tantas as demonstrações de parvoíce, despreparo e amadorismo; tantos os malfeitos que se revelaram em tão curto espaço de tempo, envolvendo a família do presidente e seu partido; tantas as evidências de que o mandatário não reúne as qualidades desejáveis para o cargo –que é difícil acompanhar e comentar cada uma dessas ocorrências.
Já seria possível publicar um novo e bem servido Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País) com o que se viu e ouviu neste breve interregno.
Embora farto (o que seria, em tese, bom para o debate), o material produzido pelos novos governantes é de baixíssima qualidade. Mais desestimula do que anima a discussão proveitosa. É como se profissionais da crítica literária ou cinematográfica se vissem na obrigação diária de gastar tinta com produções mambembes, caricatas e sem nenhuma graça ou lampejo de talento.
É um governo abaixo da crítica. Por ora, apenas a cansativa (e fetichizada) reforma da Previdência parece despertar algum ânimo e apoio de setores da opinião pública mais qualificada.Todavia, menos, para muitos, por seus méritos intrínsecos e mais pela evidência de sua importância para a agenda de médio e longo prazos do país.
Pode-se obstar que também o pacote apresentado pelo ministro Sergio Moro tem merecido seus aplausos, o que é fato. Há pontos, admita-se, a se levar em conta, mas é gritante a incivilidade proposta pelo ex-juiz com o intuito de proteger o assassinato cometido por policiais. “Ah, o presidente prometeu em campanha”, desculpou-se.
Moro tem engolido tantos sapos que já começa ele mesmo a lembrar um desses batráquios -a pular daqui para lá, fugir de questionamentos e esconder-se no brejão da lagoa. Suas medidas padecem também de descaso com previsões econômicas. O plano, em sintonia com a visão atrasada do presidente, levaria a um aumento do encarceramento. Quanto isso vai custar e quem vai pagar a conta? Ou a ideia é matar antes e prender?
Moro e Paulo Guedes têm sido contemplados por opinadores com a designação de ministros “não-ideológicos”. Entende-se o propósito de reservar o termo “ideológico” para os personagens mais bizarros da ultradireita circense que ocupa pastas como Educação, Relações Exteriores e Mulher. Mas a eventual competência técnica dos dois paladinos do liberal-moralismo não os livra de suas patentes inclinações ideológicas.
Além dessa clivagem marota, uma outra virou moda -a separação da pauta econômica das demais, que passaram a ser consideradas de “costumes”. Claro que para o economicismo em voga o que interessa é a primeira. O resto pode esperar. O perigo é que o rótulo ” costumes” encobre questões cruciais, inclusive para a economia, como os padrões da educação, a agenda sócioambiental, os direitos civis, a transparência pública etc.
Espanta, ainda (em território além das fronteiras oficiais do governo, mas dentro de sua esfera ideológica e de influência), a desenvoltura com que uma horda de psicopatas vem dando vazão a seus impulsos mais tenebrosos em seguidas agressões e homicídios cometidos contra pessoas vulneráveis. Mulheres, negros, pobres, integrantes da comunidade LGBT, estão todos transformados em alvos autorizados desse governo das cavernas.
Chegamos ao ponto de ver como garantia de normalidade a presença em massa de generais de pijama no poder, já avaliados, a essa altura, como “competentíssimos”.
O futuro a Deus pertence, repetia outro aventureiro que chegou ao Planalto. Não é uma assertiva animadora. Sabe-se que as projeções econômicas não são boas e que mesmo a reforma da Previdência, se aprovada, não terá o condão de patrocinar o sempre anunciado, mas ainda não operado, milagre das expectativas.
Regras previdenciárias mais sensatas servem sim como uma espécie de seguro para quem queira investir num futuro sustentável. Mas por si, não deverão modificar o panorama de maneira notável. A reforma poderá em vez de bombar a economia e fortalecer Bolsonaro, revelar-se pouco estimulante para reanimar os negócios, e enfraquecê-lo. Veremos.
Da FSP
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