domingo, 3 de março de 2019

Dor e revolta marcam despedida de Arthur, neto do ex-presidente Lula

Dor e revolta marcam despedida de Arthur, neto do ex-presidente Lula

Lula participou do velório de seu neto de 7 anos em São bernardo do Campo (SP) neste sábado de carnaval

REDAÇÃO
Brasil de Fato Brasil de Fato
“Lula é minha família”, disse Lucas Henrique de Castro, jovem de 26 anos, chorando copiosamente num banco do cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo do Campo, onde Arthur Araújo Lula da Silva, neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi cremado neste sábado (2).
Assim como centenas de outras pessoas, incluindo políticos e pessoas comuns, Lucas veio prestar solidariedade à família Lula da Silva. Aos 7 anos de idade, Arthur faleceu ao meio dia dessa sexta-feira (1), em decorrência de uma meningite meningocócica.
Detido na Polícia Federal de Curitiba desde 7 de abril de 2018, Lula foi autorizado a sair da prisão para se despedir de seu neto, direito previsto no artigo 120 da Lei de Execução Penal (LEP). Abatido, o ex-presidente chegou por volta das 11h deste sábado ao cemitério, onde desde 22h do dia anterior, seu neto estava sendo velado.
Lula estava sob forte aparato da Polícia Federal e policiais da Rocam, além de dezenas de viaturas e policiais militares que chegaram ao local mais cedo. Apesar da parede de policiamento e grades, a população conseguiu ver o presidente acenar por alguns segundos antes de ingressar no velório, que foi restrito a familiares e amigos. Durante uma hora e meia em que esteve no velório, três helicópteros sobrevoavam o crematório, na primeira vez em que o ex-presidente saiu do cárcere nesse um ano de prisão.
O sentimento dos presentes era de luto e de solidariedade, mas também de indignação pela prisão de Lula, que em breve completará um ano. A todo o momento, se escutava gritos que entoavam as palavras “Arthur, presente!” e “Lula Livre!”.
A diarista Diana Dantas, moradora de São Bernardo do Campo, não desgrudou da grade que separava o caminho por onde o presidente foi conduzido. "Eu sou vó. É muito triste. Sou eleitora dele [Lula]. Eu sou Lula. Vim prestar solidariedade e vê-lo também", lamentou.
Da mesma forma a ajudante geral, Patrícia Pereira, disse que além da solidariedade, o que a trouxe foi o sentimento de amor a Lula. “Amo muito o presidente Lula. Ele tá preso, mas continua sendo meu presidente", afirmou.
Solidariedade
A militância teve de ser contida pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, após a chegada do petista. Do lado de fora, simpatizantes, amigos e moradores do entorno tinham a expectativa de ver o ex-presidente.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Okamoto lamentou o fato de Lula ter que passar por tudo isso sob essas condições. Okamoto considera "uma falha brutal da nossa justiça" o fato de Lula ter sido impedido de ficar com sua família durante o último ano.
Okamoto se mostrou desiludido com o Poder Judiciário brasileiro, ao afirmar que resta apenas "acreditar na justiça divina, porque a justiça dos homens está muito falha. É lamentável que um país como o nosso tenha falhado tanto em promover a justiça. Nosso povo está muito prejudicado".
Diversos políticos, integrantes de movimentos popualres e entidades sindicais estiveram presentes no velório. Entre os parlamentares, a ex-presidente Dilma Rousseff, Fernando Haddad, Ivan Valente, Gleisi Hoffman, Benedita da Silva, Rui Costa, Aloísio Mercadante, Eleonora Menicucci, Alexandre Padilha, José Genoíno, Eduardo Suplicy, Guilherme Boulos, os irmãos Paulo e Celso Frateschi, entre outros.
Cerimônia
“Hoje tivemos que cumprir um dos papéis mais difíceis que a gente tem que fazer na vida. Acompanhar a despedida do presidente Lula de seu netinho, de 7 anos, que já era bom de bola e partiu de forma trágica. A determinação da Justiça Federal era que ele poderia ficar apenas uma hora e meia no recinto, não poderia se manifestar com as pessoas que estavam aqui e nem haver nenhuma manifestação política. Absurdo! Imagina se alguém vai num velório fazer comício”, indignou-se João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Durante a cerimônia, Lula contou, segundo o dirigente do MST, que o menino vinha sofrendo muito bullying na escola por seu avô estar preso.
“Lula fez um compromisso com o Arthur, botando as mãos em cima do menino. Ele disse: ‘Eu prometo a você, ainda haverá justiça nesse país’”, contou Stedile, que acompanhou o velório próximo ao ex-presidente.
Ele acrescentou que Lula pediu ao menino que levasse um abraço a Dona Marisa Letícia e que ela cuidaria dele no céu.
Juliana Cardoso, vereadora eleita em São Paulo, também lamentou a morte repentina Arthur. “A morte de uma criança é sempre muito difícil. Ao mesmo tempo uma situação como essa, em que o presidente Lula chegou fazia duas horas no Aeroporto de Congonhas e foi mantido lá, quando poderia estar na despedida do neto”, afirmou.
Indignação
O ex-ministro da Casa Civil do governo de Dilma Rousseff, Gilberto Carvalho, mostrou sua indignação em relação aos comentários de ódio divulgado por alguns adversários políticos, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL).
“É um absurdo que nessa hora de tanta dor continuem expressando um ódio que parece não ter fim. Queria pedir que Deus perdoe essas pessoas e que ao mesmo tempo plante no coração delas pelo menos uma dúvida: se é justo o que eles estão fazendo. Porque no dia, que Deus me livre, eles perderem alguém nessas condições, eles vão saber a crueldade que estão fazendo nesse momento".
Na mesma linha, Guilhermes Boulos, da direção do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), ressaltou a importância de separar a luta política das relações pessoais.
"Quando se comemora a morte de alguém, de uma criança de 7 anos, não estamos mais falando de política, mas de caráter, de humanidade. O que aconteceu ontem nas redes sociais serve como uma reflexão para a sociedade: até que ponto nós chegamos? Abriram a porteira da insanidade", enfatizou Boulos.
Em janeiro, após a morte do irmão do ex-presidente, Genival Inácio da Silva, o Vavá, o pedido para saída da PF chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), em decorrência das negativas em instâncias inferiores da Justiça. Quando o ministro Dias Toffoli expediu a autorização, o velório de seu irmão já havia ocorrido e Lula decidiu não deixar a PF, considerando-se impedido pelo Poder Judiciário de participar desse momento, conforme prevê a legislação brasileira.
Arthur foi cremado no mesmo local onde foi cremada há dois anos a esposa de Lula, Marisa Letícia.

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