Filme inspirado na saga de Dom Pedro Casaldáliga explica o combate atual à Igreja Católica progressista
Por Ed Wilson Araújo – Uma boa narrativa para entender as denúncias de espionagem contra religiosos da Igreja Católica é o filme “Descalço sobre a terra vermelha”. Baseado em fatos reais, o filme narra a saga do bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), Dom Pedro Casaldáliga.
No auge da ditadura, em 1968, Casaldáliga enfrentava latifundiários, grileiros e jagunços que exterminavam lavradores e índios no Mato Grosso.
O filme retrata uma terra sem lei nem justiça, onde a força bruta e a bala imperavam, com apoio do próprio sistema de segurança oficial.
Em determinada cena, os fazendeiros reunidos concluem que a resistência e organização dos lavradores e indígenas não estavam apenas em Casaldáliga, mas na força das ideias progressistas impregnadas na leitura da bíblia.
Leia-se nessas ideias a Teologia da Libertação, o método “ver-julgar-agir” e as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), que vicejaram na América Latina a partir da Conferência de Medellín (1968), mesmo ano em que Pedro Casaldáliga chegou ao Araguaia.
Parte da igreja, o chamado clero progressista, aderiu à Teologia da Libertação e ao seu princípio fundamental – a “opção preferencial pelos pobres” – atuando em defesa da reforma agrária, do meio ambiente e contra a ditadura militar.
No filme, é nítida também a batalha ideológica que ocorre dentro e fora da Igreja Católica.
Casaldáliga enfrentava os latifundiários no Brasil e era acuado também pela censura do Vaticano, sob o comando do então cardeal linha dura da direita católica Joseph Ratzinger.
A Teologia da Libertação era um incômodo à cúpula do Vaticano, que censurou vários religiosos na América Latina, entre eles Leonardo Boff e Clodovis Boff.
O silêncio imposto aos religiosos, o corte de recursos para as ações da Teologia da Libertação e uma série de restrições ao trabalho de base do clero progressista acabou afastando a Igreja Católica das suas bases no meio do povo.
A postura da cúpula do Vaticano colaborou muito para a proliferação das igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais, ainda mais à direita que a linha dura do cardeal Ratzinger.
No Brasil atual, a suposta espionagem contra o chamado clero de esquerda tem raízes mais profundas. Basta ver o filme que narra a saga do bispo Dom Pedro Casaldáliga.
Diretor: Oriol Ferrer
Coprodução: TVC, TVE, TV Brasil, Raiz Produções e Minoria Absoluta (produtora espanhola)
A película é baseada na obra homônima do escritor Francesco Escribano.
Fonte: http://edwilsonaraujo.com.
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