UM RELATO EMOCIONANTE DO DIA DE LIBERDADE DE LULA
A assinante do 247 Monica Godun participou do velório do pequeno Arthur e escreveu ao 247 relato emocionante sobre a participação de Lula no velório; "Lula é um gigante, mete medo. Tantas armas, fuzis, fisionomias "de horizonte" (ou de espanto, de surpresa ou incompreensão, pois muitos jovens) ou encarando-nos com cara feia mesma, ostentando seus poderosos trabucos...que dó"
3 DE MARÇO DE 2019 ÀS 19:07 // INSCREVA-SE NA TV 247
247 - A assinante do 247 Monica Godun participou do velório do pequeno Arthur Araújo Lula da Silva, neto do ex-presidente Lula que faleceu aos sete anos, vítima de meningite meningocócica.
Mônica escreveu ao 247 um relato emocionante sobre a participação de Lula no velório, sobre a emoção que tomou conta do local e sobre a operação de guerra que foi montada para levar o ex-presidente para chorar a dor de um ente querido.
Leia, abaixo, o texto na íntegra:
Queridos amigos, e ao Léo Attuch em especial, pelo nó na garganta que me representou...
Cheguei ao cemitério na hora em que Léo Attuch, impedido pela emoção que a todos tomou, interrompeu sua live. Nó na garganta. Por isso lhe dedico, pois sentia a mesma coisa...
Fui, pois, sozinha em casa, não contive a dor lancinante, que me tomou. Não sou avó, mas pouquíssimas coisas me amedrontam tanto como a dor de perder um filho. Quis estender meu abraço ao avô e família, e sentir o abraço de todos que lá se encontravam. Muita gente. Muita gente chorando...como eu.
Sou cinquentona, filha de metalúrgico, profissional liberal formada em universidade pública concorrida, sem nunca pisar em escola particular...afinal seria símbolo dessa tal de "meritocracia" cantada aos quatro ventos por esse pessoal que sequer tem ideia do que é esforço, passar necessidade...Tomei consciência política no final dos anos 70, início dos 80 e de lá pra cá, sofrendo, comemorando, chorando...Quantas vezes quis ir embora. Em 2002, minhas esperanças renovaram. Agora a guarda ficou baixa de novo, mas a consciência de tudo que me rodeia é bem maior. Se pessoas como nós vamos embora, quem cuidará de quem fica, cada vez mais alijado do aprendizado de ver o mundo de forma crítica?
É bom estar perto de gente...hoje em dia, me sinto impelida a classificar como gente normal...mas me incomoda a pergunta "o que seria normal?" nesses nossos tempos, que reluto classificar como sombrios. Vocês do 247 são um sopro acalentador. Gera um sentimento de pertencimento muito grande, muito importante atualmente. Eu, esquerda, simpatizante do PT, "apaixonada" pelo Lula, vivo quieta no meu canto, com medo de discriminação, que sim, tem ocorrido no meu meio profissional. Vocês me aliviam.
Fui a SBC preparada psicológica e fisicamente para deixar o carro longe, andar quarteirões. Fiquei surpresa quando pude entrar com o carro no cemitério e sem ter que estacionar muito longe. Imaginei que encontraria muito trânsito, muita gente nas ruas, muitas faixas de apoio, proibição à entrada do cemitério. Esperava ainda mais gente.
Saudade dos comícios de outrora. Saudade da oposição de outrora...lembro rindo...na campanha de 89, moleca rebelde, invadi uma carreata do Collor com meu carro todo empapelado daquele Lula barbudo: meu carro velho quebrou, atrapalhou toda a carreata, ..., a coisa mais ofensiva que ouvi foi petista fdp, mas me ajudaram com o carro...não tinha ódio, acabávamos rindo juntos. Trabalhava em instituições privadas, durante o governo FHC com a estrelinha vermelha na lapela. Ouvia uns comentários, mas nunca com ódio, nunca fui discriminada social ou profissionalmente. Hoje meus filhos não tem esse direito, têm medo! Mas aquele mundo recente foi possível! E pode ser de novo!
Lá em SBC, muita polícia...arriscaria dizer que pela ostensividade, número de viaturas, fardas, armas, havia mais aparato policial que pessoas em apoio à família e ao Presidente.
Lula é um gigante, mete medo. Tantas armas, fuzis, fisionomias "de horizonte" (ou de espanto, de surpresa ou incompreensão, pois muitos jovens) ou encarando-nos com cara feia mesma, ostentando seus poderosos trabucos...que dó.
Lula desceu, abatido mas altivo, bom estado físico, ergueu o braço ao povo, conseguiu furar a escolta e dar a mão ao público. Saiu, 2 hs depois, altivo, abatido e com uma expressão de indignação indisfarçável. No meio de toda desgraça, ele esteve duas horas com a família, ele pode ver o povo que o apoia. Isso nos reconfortou, não sei se foi suficiente para dirimir o seu sofrimento...provavelmente não.
Lula transcendeu seu corpo físico, é um ícone, talvez tenha optado por seu destino histórico e não simplesmente pessoal. Quem guarda essa imagem, quem tem a noção dessa grandiosidade, tem a obrigação de manter isso vivo, manter isso grandioso até que a historiografia sacramente. E a gente vai criar nosso filhos da forma correta, com bondade, com maior consciência crítica, com a habilidade de praticar a alteridade. E a gente vai passar por tudo isso. E tudo isso vai passar. E a gente vai se sentir grandioso de ter feito parte disso, no pequeno momento histórico do qual somos responsáveis.
Lula Livre seria A Grande Batalha. Sinceramente, neste momento, eu não acredito na vitória dessa batalha. Essa situação levou anos. Vai levar anos pra revertermos isso. Espero estar errada e/ou espero que algo permita a reversão dessa situação de forma ainda tenhamos tempo para que o carregarmos vivo nos braços.
Mas não nos iludamos. A maioria das pessoas estão sendo cegadas, de várias forma, nós sabemos uma por uma delas. E a gente tem que que lutar em todas essas frentes. Mas sem enxergar monstros na maioria dessas pessoas, isso não é verdade, são iludidos, revoltados. Dessa forma, perderíamos nosso poder que é a racionalidade que nos define como humanos. Que a utilizemos da melhor forma. Para além de qualquer coisa, pensar isso faz mal para nós mesmos.
Lula, independente de seu destino, sempre será nossa inspiração.
Vocês do 247 são o caminho para empoderar muitas dessas frentes de luta. Das nossas lutas diárias.
Contem comigo.
Mônica Godun
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