'Lava Jato manobrou para evitar eleição de Lula', diz Le Monde; veja repercussão internacional
Conversas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol, reveladas pelo site The Intercept, foram destaque na imprensa internacional; Página/12 chamou caso de 'Brasilgate'
As conversas entre o então juiz federal e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador da Força-Tarefa da Lava Jato Deltan Dallagnol, reveladas neste domingo (09/06) pelo site The Intercept e que mostram que os dois atuaram para impedir uma vitória eleitoral de Fernando Haddad e antecipar a prisão de Lula, foram destaque na imprensa internacional. Para o jornal francês Le Monde, a operação “manobrou para evitar a eleição” do ex-presidente.
“Mensagens também revelam que os próprios promotores tinham 'sérias dúvidas sobre a existência de provas suficientes da culpa de Lula' no caso da obtenção de um suborno por meio de triplex, que finalmente o mandou para a prisão por oito anos e dez meses depois de uma recente revisão de sua sentença. Essa condenação impediu que Lula, o favorito das intenções de voto na época, fosse candidato na eleição presidencial em outubro passado. Ele sempre reivindicou sua inocência e afirmou ser vítima de maquinações políticas destinadas a impedi-lo de concorrer a um terceiro mandato após os de 2003 a 2010”, diz o jornal francês.
O jornal argentino Página/12 chamou o caso de “Brasilgate”. “Se, até agora, Moro e Dallagnol puderam manter o segredo sobre como armaram o complô judicial, ele começa a rachar com os dados revelados pelo Intercept. (…) Os materiais contêm pistas de que os fiscais da força-tarefa falavam abertamente de seu objetivo de frear um triunfo do PT nas eleições de outubro de 2018”, afirma o periódico.
A emissora multiestatal teleSUR também destacou as revelações em seu site. “Para além de impedir a candidatura de Lula, a informação [do Intercept] revela discussões internas e atitudes altamente controversas, politizadas e legalmente duvidosas do caso Lava-Jato e do julgamento contra o ex-presidente. (…) Sua exclusão da eleição, baseada na decisão de Moro, foi uma peça-chave para abrir caminho para a vitória do então candidato de ultradireita Jair Bolsonaro.”
Já o La Jornada, do México, disse que as conversas “desnudam” a operação contra Lula. “Chats do Telegram desnudam operação contra Lula no Brasil. Os promotores encarregados da operação de combate à corrupção Lava, liderada por Deltan Dallagnoll, ‘falavam abertamente de seu desejo de evitar’ que o Partido dos Trabalhadores (PT) vencesse a eleição presidencial do Brasil em 2018. E o juiz Sergio Moro, agora poderoso ministro da Justiça do governo do neofacista Jair Bolsonaro, "colaborou secretamente e sem ética" com a equipe do Ministério Público para acertar o caminho para o agora presidente”, afirma.
O espanhol El Pais disse que as revelações “põem em dúvida a imparcialidade da operação Lava Jato”. “O que The Intercept revela é que o atual ministro da Justiça orientou as investigações do chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, para facilitar as condenações, algo proibido pela Constituição e pelo Código Penal Brasileiro”, diz.
A emissora catari Al Jazeera chamou as revelações de “explosivas”. “As acusações vêm em uma hora ruim para Bolsonaro, que já está enfrentando uma oposição crescente com menos de seis meses no cargo, enquanto a maior economia da América Latina está cambaleando no limite da recessão e sua reforma da previdência continua empacada em um Congresso hostil””, afirma.
Isaac Amorim/MJSP
Conversas de Moro (foto) com Deltan Dallagnol foram reveladas pelo site The Intercept
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