quinta-feira, 27 de junho de 2019

O general Heleno não é sério com coisa séria


O general Heleno não é sério com coisa séria

O coronel PM Ricardo Laviola, chefe do Gabinete Militar no segundo governo de Brizola, tinha o hábito de chegar bem cedinho, ainda escuro, ao Palácio Guanabara e fazer sua corrida diária nos jardins que ficam ao fundo ada antiga residência da Princesa Isabel e do Conde D’Eu.
Numa destas alvoradas, encontrou o soldado que montava guarda na portaria e que, por praxe, usava uma submetralhadora no turno da madrugada. O pobre coitado estava sentado em um banco, dormindo e Laviola, sem fazer barulho, pegou a arma e a levou para seu gabinete, onde a trancou numa estante. E foi fazer sua corridinha, como sempre.
Uma hora ou duas depois, atrás de sua mesa, vem um oficial dizer que estão tomando o depoimento do soldado, que dizia ter sido atacado por criminosos, que lhe tinham levado a arma. E, claro, todos acreditando, porque afinal a violência blá, blá, blá… Laviola detemina que o soldado seja trazido, na companhia do oficial de dia, a seu gabinete e pede que ele lhe conte a história.
Ah, sim, veio o “lero”: “alta madrugada, um veículo com quatro homens armados, simula-se uma pane no carro, apontam armas contra o soldado, tomam sua metralhadora e fogem em disparada…”
Laviola, impávido, sem alterar a voz, para de tocar os dedos das duas mãos, como era seu hábito, estende uma chave ao soldado e pede que ele lhe faça o favor de abrir a estante que está a seu lado. Sem entender, ele abre e está lá, de pé, a arma…
“O senhor me faça o favor de recolher este soldado à cadeia, lavre sua autuação e encaminhe ao comando da PM”
É simples assim e, neste momento, o responsável pela segurança da Base Aérea de Brasilia e o responsável pela segurança dos aviões presidenciais deveriam estar detidos para esclarecer como permitiram o embarque de 39 kg de cocaína num dos aparelhos que serviria ao presidente numa viagem internacional.
Tivesse o posto que tivesse, coronel ou major, cometeu, no mínimo, uma falta gravíssima, seja porque submeteram seu país ao vexame mundial de traficar-se (como fogem da palavra!) drogas numa aeronave a serviço do presidente, seja por colocarem em risco a vida do chefe de Estado e de seus auxiliares, porque poderia ser explosivo em lugar de cocaína a carga clandestina.
O general Augusto Heleno, entretanto,  prefere fazer gracinhas como dizer que precisaria de uma “bola de cristal” para evitar o tráfico, que os aviões “não eram com ele”, que foi “um baita azar” e, por último, que não tem efetivo para controlar a entrada nos aviões da comitiva.
Seria tão simples dizer que “houve uma falha, imperdoável, os responsáveis estão sendo punidos e o problema corrigido”.
Heleno não sabe ou não pratica o básico da arte de comandar: dar e cobrar responsabilidades.
Não, dar tapas na mesa nem chiliques.

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