'Seria conveniente que não alardeássemos', diz Heleno sobre desmatamento
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, voltou a criticar hoje o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que indicou aumento de 80% no desmatamento amazônico, e afirmou que, "se fossem dados corretos, era preocupante, seria conveniente que nós não alardeássemos isso".
Heleno afirmou que "esses dados [divulgados] prejudicam muito a imagem do Brasil" e sugeriu que "nós cuidássemos do problema internamente, procurássemos corrigir o que está errado".
Nesta tarde, ele participou de evento com Ricardo Salles (Meio Ambiente), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
"É falta de honestidade intelectual de boa parte da imprensa de divulgar a notícia. A notícia é para ser divulgada, a imprensa é para informar, mas ela tem que pautar a informação na honestidade intelectual", disse Heleno.
A conversa com jornalistas fora convocada para apresentar supostos novos dados sobre desmatamento, porém o governo não informou, de forma concreta, valor "real" de remoção de vegetação nativa.
Tal qual o presidente e o ministro Salles, Heleno considerou que os dados "falsos" nos colocam "como grande destruidor do meio ambiente e da humanidade".
A apresentação de hoje foi mais um capítulo do embate entre o governo e o instituto científico, que monitora o desmatamento na Amazônia e no Cerrado há mais de 30 anos.
Bolsonaro fala em "demissão sumária" do presidente do Inpe
Aos jornalistas, Bolsonaro subiu o tom contra o presidente do Inpe, Ricardo Galvão, afirmando que, se ele "quebrou a confiança, vai ser demitido sumariamente". "Os números foram espancados, com o objetivo, me parece, de atingir o nome do Brasil e o governo", disse o presidente.
O entrave entre o governo e o Inpe teve início na segunda quinzena de julho, quando a Reuters, com base nos satélites que capturam o desmatamento e acoplam seus dados no sistema Deter-B, mostrou que mais de mil quilômetros de floresta na Amazônia foram derrubados naquele período -- número 68% maior que o mês de julho do ano passado.
O entrave entre o governo e o Inpe teve início na segunda quinzena de julho, quando a Reuters, com base nos satélites que capturam o desmatamento e acoplam seus dados no sistema Deter-B, mostrou que mais de mil quilômetros de floresta na Amazônia foram derrubados naquele período -- número 68% maior que o mês de julho do ano passado.
Até o dia 26 de julho, última data computada pelo sistema, o Deter-B registrou 1.864 km² de desmatamento na Amazônia. A título de comparação, o Inpe registrou, em todo o ano de 2018, 7.536 km² de desmatamento no bioma.
O que diz o Inpe
Em nota, o Inpe afirma que não teve "acesso prévio a essa análise" apresentada hoje pelo governo e que pediu o estudo.
O instituto também diz que "reafirma sua confiança na qualidade dos dados produzidos pelo Deter [sistema que apontou aumento do desmatamento]".
"Os alertas são produzidos seguindo metodologia amplamente divulgada e consistentemente aplicada desde 2004. É amplamente sabido que ela contribuiu para a redução do desmatamento na região amazônica, quando utilizada em conjunto com ações de fiscalização.", diz a nota.
Como funciona o monitoramento do Inpe
O Inpe desenvolveu, ao longo de mais de três décadas, alguns programas de monitoramento do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Vale ressaltar que a função do instituto é apenas mapear as áreas desmatadas - independentemente se a remoção da vegetação é legal ou ilegal - e não fiscalizar, função que fica a cargo do Ibama.
Prodes - O Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite começou a operar em 1988 e realiza um inventário a respeito da perda de floresta nativa na Amazônia. Com base nestes dados, o programa calcula o desmatamento anual no bioma, levando em consideração o período de agosto a julho (por conta das nuvens, depende da estação seca para ter maior exatidão). O Prodes considera somente o desmatamento em áreas de mais de 6,25 hectares e o resultado é divulgado anualmente no mês de dezembro.
Deter-B - Considerado o sistema mais avançado, foi criado em 2004 sob o nome de Deter-A como uma forma de apoio ao combate do desmatamento ilegal e da degradação da Amazônia e do Cerrado. Em 2015 o Inpe colocou em prática a nova versão do Deter, que produz diariamente alertas relativos à alteração na cobertura da floresta em áreas de, no mínimo, 1 hectare. Os alertas, mapeados a partir de imagens dos satélites CBERS-4 e Indian Remote Sensing Satellite (IRS), são enviados diretamente para o Ibama, e costumam ser um dos principais sustentáculos das operações de fiscalização e repressão do órgão.
TerraClass - Desenvolvido a partir de uma parceria do Inpe com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o sistema identifica a procedência (agricultura, pecuária, etc) das áreas desmatadas e registradas pelo Prodes. Também classifica somente áreas maiores que 6,25 hectares.
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