Marcos Coimbra
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
O povo vê Lula gigante diante do minúsculo Bolsonaro
Sociólogo Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, faz uma análise sobre as três pesquisas de avaliação de governo divulgadas recentemente, por MDA, Datafolha e Vox Populi, esta última com perguntas também relacionadas a Lula, e conclui: "substituíram a maior liderança existente, a mais querida e a mais bem avaliada, por um personagem tosco e minúsculo, que satisfaz a um segmento que diminui a olhos vistos. Mais dia, menos dia, terão que remediar seu erro"
Cada uma à sua maneira, as três pesquisas divulgadas nos últimos dias, realizadas pelo MDA, o Datafolha e o Vox Populi, procuraram caracterizar a imagem atual de Bolsonaro e do governo, bem como o apoio que têm na sociedade. Chegaram a resultados semelhantes.
Todas indicaram queda nas avaliações positivas e redução do tamanho de sua base social, em intensidade e ritmo superiores à de qualquer governo anterior. Nenhuma identificou motivos para imaginar que essas tendências mudarão em prazo razoável, o que significa dizer que os maus números de hoje são, provavelmente, menos ruins que os próximos.
A pesquisa Vox foi além e tratou também da imagem de Lula e seus governos. Permite, portanto, comparar os sentimentos da opinião pública a respeito do ex-presidente com os que dedica ao ex-capitão.
A comparação pode ser feita em três aspectos: administrativo - na atuação de ambos na Presidência da República, pessoal - se as pessoas “gostam” (e quanto) de cada um, e político - na identificação com o que são e representam. A vantagem de Lula em relação a Bolsonaro, em qualquer desses quesitos, é grande. Mais ainda se considerarmos que as coisas tendem a piorar para um e estão estáveis, na hipótese mais desfavorável, para o petista.
Bolsonaro é, por ora, avaliado positivamente como presidente por menos de 30% das pessoas, obtendo 23% na soma de “ótimo” e “bom” na pesquisa Vox. Entre os que o aprovam, estão 5% que acham “ótimo” seu trabalho.
Lula, preso há um ano e meio e alvo de uma incessante campanha de desconstrução pela imprensa corporativa, tem seus dois governos avaliados positivamente por 63% dos entrevistados, quase o triplo do que obtém o atual ocupante do Palácio do Planalto. Olhando somente para os que dizem que foi um “ótimo” presidente, a taxa é de 24%, cinco vezes maior que a do sucessor.
Quando se pede às pessoas que escolham, espontaneamente, o “melhor presidente que o Brasil já teve”, a resposta, para 50% dos entrevistados, é Lula. Para 9%, Bolsonaro (que está em primeiro lugar quando a interrogação é quanto ao “pior presidente que o Brasil já teve ”).
No plano pessoal, 30% dos entrevistados dizem que “gostam muito” de Lula, acompanhados por 23% que afirmam que “gostam um pouco”. Na outra ponta, 8% dizem que o “detestam”. As respostas a respeito de Bolsonaro vão no sentido quase inverso: 10% dizem que “gostam muito” e 21% que o “detestam”.
É possível que o carinho por Lula decorra da avaliação objetiva de seus governos. Para 62% dos entrevistados, foi no período em que Lula foi presidente que “tiveram melhores condições de vida: emprego, maior renda, menos inflação, etc.”. Até entre os que se dizem favoráveis a Bolsonaro a dianteira é de Lula: 32% dos bolsonaristas respondem que foi com Lula que viveram melhor.
Para avaliar o tamanho do “bolsonarismo”, a pesquisa fez uma pergunta direta: “Pensando na forma como Bolsonaro faz política, as ideias defendidas por ele e sua equipe, o modo como fala e se relaciona com seus opositores e as pessoas de uma maneira geral, o que você diria?”. “Gosta muito, se sente uma ou um bolsonarista” foi a resposta de 6% dos entrevistados, enquanto 17% afirmaram que “gostavam, mas não se sentiam bolsonaristas”. Do outro lado, 22% responderam que “detestavam o bolsonarismo” e 25% que “não gostavam, mas não chegavam a detestar”. Em resumo: 23% disseram que “gostavam” e 47%, o dobro, que “não gostavam”.
São números bem piores que os relativos ao petismo. Oferecendo as mesmas opções de resposta, a pesquisa aponta que 28% dos entrevistados podem ser definidos como antipetistas e 32% como favoráveis ao PT. Em oito meses de governo, o antibolsonarismo tornou-se significativamente maior (quase 70% maior) que o antipetismo.
De agora em diante, as coisas tendem a ser mais complicadas para Bolsonaro. O tempo passa e a falta de resultados positivos torna-se mais evidente, ao mesmo tempo em que diminui a paciência da parcela pouco politizada do eleitorado. O apelo exclusivamente ideológico atinge cada vez menos pessoas. Não deve demorar, restará a Bolsonaro o apoio exclusivo de uma pequena minoria.
Aqueles que golpearam a democracia brasileira, especialmente nas Forças Armadas e no sistema de Justiça, com o aval de uma burguesia que só enxerga lucros imediatos, fizeram a troca mais despropositada de nossa história: substituíram a maior liderança existente, a mais querida e a mais bem avaliada, por um personagem tosco e minúsculo, que satisfaz a um segmento que diminui a olhos vistos. Mais dia, menos dia, terão que remediar seu erro.
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