Política
O Novo Velho Continente e suas Contradições
18/10/2019 19:21
Nota da Redaçao: Carta Maior tem a honra de passar a contar com a colaboração regular do poeta, articulista, jornalista e publicitário, Celso Japiassu, brasileiro de João Pessoa, portanto, mais um paraibano que orgulha muito o país.Ele é autor de O Texto e a Palha (em dois volumes), Processo Penal, A Legião dos Suicidas, A Região dos Mitos, O Itinerário dos Emigrantes,O Último Número e Dezessete Poemas Noturnos.Trabalhou na redação do Diário de Minas, da Última Hora e do Correio de Minas, em Belo Horizonte. Atualmente reside com sua família na cidade do Porto, em Portugal.Celso nasceu em João Pessoa, formou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais e viveu no Rio de Janeiro.Ele escreverá, semanalmente, sobre temas da realidade europeia ligados a linha editorial de Carta Maior.
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Do Brexit às agitações e conflitos na Catalunha; dos ataques terroristas na Alemanha à crise dos refugiados e os riscos do baixo crescimento com ameaça de deflação: estes são apenas alguns dos sinais de um novo fantasma que ronda a Europa. Não se trata, hoje, do fantasma do comunismo, como ironizou Marx no seu Manifesto, assinado conjuntamente com Friedrich Engels em 1848. Porém é mais uma vez o fantasma do medo que anda a rondar praticamente todos os países da União Europeia.
Sem esquecer o sempre presente fantasma do fascismo, que nas últimas eleições legislativas de Portugal conseguiu enfim uma representação no Parlamento. O país orgulha-se da sua solução política progressista.
Entre os vários movimentos separatistas, até o pequeno Bolzano, conhecido também como Tirol do Sul, reivindica independência da Itália para ter a liberdade de falar alemão, língua que foi proibida nos tempos de Mussolini.
A luta catalã
Ainda com traumas dos ataques do ETA e do vigoroso movimento independentista basco, a Espanha teme agora a ameaça de um terrorismo catalão, gestado pela violência com que a polícia tem feito a repressão das manifestações de rua. As agitações de agora são fruto da Declaração de Independência da Catalunha, aprovada pelo Parlamento da Catalunha em 2017 e nunca aceita pelo governo central espanhol.
A mobilização do povo catalão teve início durante os anos 1930 com a fundação da ERC-Esquerda Republicana da Catalunha, que conseguiu a autonomia dentro do território espanhol mas foi posteriormente reprimido pela ditadura de Francisco Franco. Desde então cresce a frustração nacional, cujo desejo de autonomia evoluiu para o movimento que reivindica a independência. Seus líderes estão alguns presos e outros no exílio. Mas o povo, que protesta nos enormes movimentos de rua, pretende escrever um novo capítulo da sua história.
Ingleses divididos
O Brexit agita a velha Grã Bretanha e muitos dos seus efeitos ainda estão a ser discutidos. Há uma data fatal para o divórcio acertado com a União Europeia – dia 31 deste mês de outubro. Parte da opinião pública inglesa desejaria um novo plebiscito, por acreditar que os resultados hoje seriam outros e o país poderia continuar como parte da Europa. Os conservadores no poder são contra uma nova consulta popular e o país prepara-se para se reorganizar como uma ilha que sempre foi mas sem prejuízo das suas relações comerciais com o continente.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse enigmaticamente que, ao se negociar com os ingleses, tudo é possível.
A novela ainda não chegou ao fim. Mais um acordo foi negociado por Boris Johnson e depende agora da aprovação da Câmara dos Comuns.
Londres também passou a conhecer agitações de rua contra as mudanças climáticas, assunto cada vez mais presente nas preocupações europeias. É mais um dos temores, o de que o mundo se torne um lugar onde será difícil sobreviver. As recentes ondas de calor, as canículas que trazem às cidades temperaturas inéditas e quase insuportáveis, com algumas vítimas mortais, é combustível para protestos cada vez mais constantes e intensos.
Migrações em desespero
São numerosos refugiados em movimento na procura de salvação. As organizações de Direita aproveitam para se fortalecerem, explorando os medos nacionais, a repulsa aos estrangeiros e o que passaram a considerar uma verdadeira invasão. Na França, de tradição humanista e historicamente acolhedora, cresce o preconceito contra os que chegam trazendo suas próprias culturas além da própria miséria.
Na Itália, a recente onda fascista comandada por Matteo Salvini teve uma das suas origens na recusa aos imigrantes. Kyriakos Mitsotakis, primeiro ministro da Grécia, outro país a receber levas de refugiados que chegam a seus portos em precárias embarcações ou nos navios das organizações humanitárias, acaba de advertir – a Europa deve se preparar para uma nova migração provocada pela tragédia dos curdos, os incessantes conflitos na Síria e as recentes agressões da Turquia.
O prazer das viagens
O turismo de massa é hoje um item fundamental na economia e na pauta de quase todos os países. A mística da Europa continua a atrair viajantes de todo o mundo desejosos de conhecer um dos berços da civilização e sua criatividade nas artes, a sua história, suas paisagens e os seus monumentos. Ao mesmo tempo em que significa a melhoria na economia dos países, acarreta no entanto problemas no que se refere à habitação, com cada vez mais imóveis deixando de ser residências para se transformarem em alojamentos locais. Multidões de estrangeiros curiosos – com a atual e forte presença dos chineses – mudam a paisagem das ruas, ocasionam aumentos nos preços e obstruem as ruas. Andar nas ruas de Heidelberg, na Alemanha, lembra a paisagem humana de Beijing.
A União Europeia e a zona do Euro, realização política de uma velha Europa cansada de guerras estão, segundo alguns, ameaçados por suas contradições internas e pelos arrufos separatistas. Mas o velho continente continua a representar a melhor construção da Humanidade na trilha da civilização.
Sem esquecer o sempre presente fantasma do fascismo, que nas últimas eleições legislativas de Portugal conseguiu enfim uma representação no Parlamento. O país orgulha-se da sua solução política progressista.
Entre os vários movimentos separatistas, até o pequeno Bolzano, conhecido também como Tirol do Sul, reivindica independência da Itália para ter a liberdade de falar alemão, língua que foi proibida nos tempos de Mussolini.
A luta catalã
Ainda com traumas dos ataques do ETA e do vigoroso movimento independentista basco, a Espanha teme agora a ameaça de um terrorismo catalão, gestado pela violência com que a polícia tem feito a repressão das manifestações de rua. As agitações de agora são fruto da Declaração de Independência da Catalunha, aprovada pelo Parlamento da Catalunha em 2017 e nunca aceita pelo governo central espanhol.
A mobilização do povo catalão teve início durante os anos 1930 com a fundação da ERC-Esquerda Republicana da Catalunha, que conseguiu a autonomia dentro do território espanhol mas foi posteriormente reprimido pela ditadura de Francisco Franco. Desde então cresce a frustração nacional, cujo desejo de autonomia evoluiu para o movimento que reivindica a independência. Seus líderes estão alguns presos e outros no exílio. Mas o povo, que protesta nos enormes movimentos de rua, pretende escrever um novo capítulo da sua história.
Ingleses divididos
O Brexit agita a velha Grã Bretanha e muitos dos seus efeitos ainda estão a ser discutidos. Há uma data fatal para o divórcio acertado com a União Europeia – dia 31 deste mês de outubro. Parte da opinião pública inglesa desejaria um novo plebiscito, por acreditar que os resultados hoje seriam outros e o país poderia continuar como parte da Europa. Os conservadores no poder são contra uma nova consulta popular e o país prepara-se para se reorganizar como uma ilha que sempre foi mas sem prejuízo das suas relações comerciais com o continente.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse enigmaticamente que, ao se negociar com os ingleses, tudo é possível.
A novela ainda não chegou ao fim. Mais um acordo foi negociado por Boris Johnson e depende agora da aprovação da Câmara dos Comuns.
Londres também passou a conhecer agitações de rua contra as mudanças climáticas, assunto cada vez mais presente nas preocupações europeias. É mais um dos temores, o de que o mundo se torne um lugar onde será difícil sobreviver. As recentes ondas de calor, as canículas que trazem às cidades temperaturas inéditas e quase insuportáveis, com algumas vítimas mortais, é combustível para protestos cada vez mais constantes e intensos.
Migrações em desespero
São numerosos refugiados em movimento na procura de salvação. As organizações de Direita aproveitam para se fortalecerem, explorando os medos nacionais, a repulsa aos estrangeiros e o que passaram a considerar uma verdadeira invasão. Na França, de tradição humanista e historicamente acolhedora, cresce o preconceito contra os que chegam trazendo suas próprias culturas além da própria miséria.
Na Itália, a recente onda fascista comandada por Matteo Salvini teve uma das suas origens na recusa aos imigrantes. Kyriakos Mitsotakis, primeiro ministro da Grécia, outro país a receber levas de refugiados que chegam a seus portos em precárias embarcações ou nos navios das organizações humanitárias, acaba de advertir – a Europa deve se preparar para uma nova migração provocada pela tragédia dos curdos, os incessantes conflitos na Síria e as recentes agressões da Turquia.
O prazer das viagens
O turismo de massa é hoje um item fundamental na economia e na pauta de quase todos os países. A mística da Europa continua a atrair viajantes de todo o mundo desejosos de conhecer um dos berços da civilização e sua criatividade nas artes, a sua história, suas paisagens e os seus monumentos. Ao mesmo tempo em que significa a melhoria na economia dos países, acarreta no entanto problemas no que se refere à habitação, com cada vez mais imóveis deixando de ser residências para se transformarem em alojamentos locais. Multidões de estrangeiros curiosos – com a atual e forte presença dos chineses – mudam a paisagem das ruas, ocasionam aumentos nos preços e obstruem as ruas. Andar nas ruas de Heidelberg, na Alemanha, lembra a paisagem humana de Beijing.
A União Europeia e a zona do Euro, realização política de uma velha Europa cansada de guerras estão, segundo alguns, ameaçados por suas contradições internas e pelos arrufos separatistas. Mas o velho continente continua a representar a melhor construção da Humanidade na trilha da civilização.
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