sábado, 22 de fevereiro de 2020

Os que atiram para matar

Os que atiram para matar

Não vale a pena repetir o que disse Bolsonaro essa semana ao agredir da forma mais baixa possível a jornalista Patrícia Campos Mello. Melhor será acompanhar os desdobramentos dessa história que, segundo juristas, pode levar a um pedido de impeachment contra o presidente por falta de decoro. 
Para além da tentativa de intimidar a imprensa, apoiando-se na defesa de um sujeito que mentiu aos congressistas e ao Ministério Público, o espetáculo de grosseria choca também pela motivação aparente: desviar a atenção das revelações que emergem da investigação sobre a morte de Adriano Nóbrega, o miliciano amigo da família como reitera a entrevista com o vereador Ítalo Ceiba, que contou ao Globo que, além de condecorar o ex-PM, Flávio Bolsonaro o visitava na prisão
Enquanto o Bolsonaro pai chamava Nóbrega de “herói”, as ruas de Fortaleza eram tomadas por PMs encapuzados fechando o comércio, agredindo e constrangendo a população do Ceará. O motim, supostamente motivado por reivindicações salariais, culminou com um senador da República baleado no peito. E não vale colocar a culpa em Cid Gomes: por mais absurdo que tenha sido o seu gesto, nada justifica o que aconteceu ali. 
O presidente, no entanto, mostrou mais uma vez de que lado está: o dos que atiram para matar. Em live com Onyx Lorenzoni, defendeu os policiais amotinados - tendo como um dos líderes um cabo eleitoral de sua campanha à presidência. 
Na mesma quarta-feira, um áudio vazado flagrou o general e ministro Augusto Heleno acusando o Congresso de chantagear o governo. Diga-se em favor do general que sua fala antidemocrática ao menos não foi uma declaração - ele não sabia que estava sendo ouvido, ao contrário das desavergonhadas falas presidenciais.
Marina Amaral, codiretora da Agência Pública
O que você perdeu na semana

Desmatamento no Xingu. Em 2019, 168.110 hectares foram desmatados na bacia do Xingu, área maior do que o município de São Paulo, em um ritmo de seis árvores derrubadas por segundo. O avanço da atividade agropecuária, grilagem de terras, garimpo, queimadas e sensação de impunidade explicam as altas taxas, mostra o Instituto Socioambiental (ISA)

Celulares contra violência policial. Em um período de duas semanas, uma grávida de cinco meses e um estudante que cobrava ser reintegrado à escola estariam respondendo judicialmente, em São Paulo, por desacato e agressão contra policiais militares. A favor deles estão apenas imagens amadoras, gravadas por testemunhas. Segundo Gabriel Sampaio, coordenador do programa de Enfrentamento à Violência Institucional da ONG Conectas, não há justificativa para que uma gravação seja coibida durante abordagens. 

Patrícia Campos Mello e Adriano Nóbrega. Ao sair nesta terça-feira (18) do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro proferiu ofensas de cunho sexual contra a jornalista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello. A repercussão do insulto teve o efeito de tirar o foco das redes sociais de uma das principais preocupações do presidente: investigação sobre a morte do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, próximo à família Bolsonaro. O repórter Graciliano Rocha mostra como isso aconteceu
Compartilhe este e-mail com um amigo!Compartilhe este e-mail com um amigo!
Últimas do site
 
PL da mineração. Levantamento exclusivo da Pública com base em dados da Funai e da Agência Nacional de Mineração (ANM) traz informações de pessoas físicas e jurídicas que fizeram pedidos minerários em Terras Indígenas (TIs). Houve um aumento de 91% desse tipo de solicitação desde o início do governo Bolsonaro. Entre os potenciais beneficiários estão grandes figuras políticas do Amazonas, cooperativas de garimpo com sócios envolvidos em denúncias por crimes ambientais, uma gigante da mineração mundial e até mesmo um artista plástico paulista.

Torcidas organizadas da Lava Jato. O músico gospel João Carlos abriu um boletim de ocorrência em que afirma ter sido vítima de fraude e estelionato. JC, como é conhecido, foi “laranja” sem consentimento de um contrato de outdoor de apoio à Lava Jato, veiculado no aeroporto de Curitiba. O procurador e ex-integrante da força-tarefa, Castor de Mattos, é apontado como suposto autor do outdoor. Peças publicitárias em apoio à operação não são incomuns - há, inclusive, "torcidas organizadas" dedicadas a isto: em momentos-chave, elas fazem campanhas em prol da Lava Jato e já veicularam mais de cem outdoors desde 2017. 

Sentenças de Moro. Levantamento da Pública mostra que antes do impeachment de Dilma Rousseff, o desempenho dos processos da Lava Jato era 2,5 vezes mais rápido que a média brasileira. Após a cassação, ainda sob comando do então juiz Sergio Moro, decisões passaram a levar quase o dobro do tempo: 448 dias. 


Soldado inocentado. Em decisão unânime nesta terça-feira (18), o Conselho de Justiça Militar decretou que o cabo do Exército Diego Neitzke deve ser inocentado por “legítima defesa imaginária” ao ter fuzilado um carro com 5 amigos no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Vitor Santiago, que foi atingido por dois tiros vindos do soldado e ficou paraplégico, esteve presente no julgamento junto com sua mãe e algumas moradoras da Maré. A decisão causou revolta. 
Pare para ler 
 
Cerceamento do Ibama e ICMBio. Uma série de medidas tomadas pelo governo Jair Bolsonaro está retirando do Ibama e ICMBio a autonomia para ações de preservação ambiental e combate ao desmatamento na Amazônia. Uma fonte que pediu para não ser identificada por temer represálias disse ao Intercept que há um plano do Governo Federal em andamento para esvaziar as funções dos dois órgãos federais especializados em crimes contra o meio ambiente, com o qual colaborará o ministro Sergio Moro. Na prática, Ricardo Salles, que comanda a pasta do Meio Ambiente, poderá perder espaço para o Ministério da Justiça e Segurança Pública em assuntos de fiscalização ambiental. 
Lendo pela primeira vez? Assine e receba toda sexta no seu e-mail!
Continue acompanhando ;)
Facebook
Twitter
YouTube
Instagram

Nenhum comentário:

Postar um comentário