Coronavírus: O que a covid-19 faz com o seu corpo
Com mais de 200 mil infectados e mais de 8 mil mortos, o coronavírus se espalhou para mais de 110 países do mundo.
Embora ainda existam muitas dúvidas sobre esse novo vírus que apareceu pela primeira vez na província central de Hubei na China, no final de 2019, estima-se que o contágio ocorra quando inalamos pequenas gotas expelidas pela tosse ou espirro de um vírus de pessoa infectada.
Também conhecemos seus sintomas: cansaço, febre e tosse seca são os principais, mas também alguns pacientes podem apresentar dores musculares, congestão nasal, dor de garganta e diarreia, de acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Mas o que exatamente o coronavírus faz ao nosso corpo? Como você se infecta? E como nosso corpo se recupera da doença, chamada de covid-19?
"O coronavírus é principalmente um vírus respiratório", explica William Schaffner, professor de medicina preventiva e doenças infecciosas no Centro Médico da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos.
Por esse motivo, começa infectando a garganta.
Quando o vírus entra no nosso corpo — por meio dos olhos, boca ou nariz — "ele se liga às células da mucosa do fundo do nariz e da garganta", diz o especialista.
Para se replicar, o coronavírus precisa 'sequestrar' uma célula.
Graças às proteínas em forma de lança que se projetam de sua superfície, o coronavírus pode penetrar na membrana dessas células.
"E uma vez dentro da célula, como os outros vírus, ele começa a dar ordem para produzir mais vírus".
É assim que o vírus deve se replicar, pois, sendo um agente infeccioso microscópico acelular, só pode se multiplicar dentro das células de outros organismos.
Quando as cópias estão prontas, elas deixam a célula onde se originaram, a destroem e começam a infectar outras células.
Cada vírus pode criar entre 10 mil e 100 mil cópias.
"Quando isso ocorre, o corpo percebe que o vírus está lá e produz uma resposta inflamatória para tentar combatê-lo", explica Schaffner.
"É por isso que começamos a sentir um pouco de dor de garganta e podemos ter um nariz entupido".
Percurso
"O vírus então entra nos tubos brônquicos (as vias aéreas que vão para os pulmões) e ali produz inflamação na mucosa desses tubos".
"Isso causa irritação e, portanto, começamos a tossir" , diz Schaffner.
Quando isso ocorre, "a resposta inflamatória aumenta porque o corpo está combatendo o vírus e, consequentemente, a febre aparece".
Nesse ponto, começamos a nos sentir mal e a perder o apetite.
De acordo com uma análise da OMS baseada no estudo de 56 mil pacientes, 80% dos infectados desenvolvem sintomas leves (febre, tosse e, em alguns casos, pneumonia), 14% sintomas severos (dificuldade em respirar e falta de ar) e 6% doença grave (insuficiência pulmonar, choque séptico, falência de órgãos e risco de morte).
A situação pode piorar se o vírus "sair do canal brônquico e atingir os pulmões, onde causa inflamação (pneumonia)".
"Se uma porção suficiente de tecido pulmonar for afetada, será mais difícil para o paciente respirar, porque ele não pode respirar o 'ar ruim' e inalar o 'bom'".
Quando o corpo não recebe oxigênio suficiente, o paciente deve ser hospitalizado e pode precisar estar conectado a um respirador.
'Guerra'
O problema não é apenas a infecção, mas a maneira como nosso corpo responde para combatê-la, explica Kalpana Sabapathy, médico clínico e epidemiologista da equipe de saúde global da Escola de Higiene e Medicina Tropical em Londres, Reino Unido, à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.
"Para evitar que a infecção sequestre nossas células, nosso corpo produz substâncias químicas bastante agressivas".
No caso da pneumonia, "(o vírus) cria congestão nos pequenos sacos de ar na base dos nossos pulmões (alvéolos)".
Essas pequenas estruturas são aquelas que normalmente se enchem de ar e, através de suas paredes, ocorre a troca pela qual o oxigênio chega ao sangue e daí para o resto do corpo.
"Mas se essas bolsas estão cheias de infecção, combinadas com a resposta do nosso corpo a essa infecção, elas têm menos capacidade de ar", diz Sabapathy.
"E se o corpo não recebe oxigênio suficiente, isso leva à insuficiência respiratória e o coração, sem oxigênio suficiente pela corrente sanguínea, não pode funcionar".
Schaffner compara a resposta inflamatória com um conflito bélico.
"Imagine que é uma guerra. Existem dois exércitos que lutam entre si, mas às vezes as bombas machucam civis. Ou podem cair no hospital ou no museu, mas não no inimigo", diz ele.
Em outras palavras, a resposta pode ser tão poderosa que acaba danificando o tecido onde o vírus é encontrado.
"Chamamos isso de dano colateral. É o que pode acontecer quando a resposta inflamatória é tão forte que aumenta o problema da pneumonia", acrescenta.
Isso significa que a infecção não precisa passar para outra parte do corpo para que uma pessoa infectada fique em estágio crítico.
Mas o coronavírus também pode se espalhar para outra parte do corpo?
Por todo o corpo
Como Amy Compton-Phillips, diretora clínica do Sistema de Saúde Providence nos Estados Unidos, explicou ao jornal americano New York Times, a infecção pode se espalhar do nariz para o reto.
Embora inconclusivo, um estudo publicado em março na prestigiada revista científica The Lancet sugere que o covid-19 "não é apenas capaz de causar pneumonia, mas também pode causar danos a outros órgãos, como coração, fígado e rins, assim como em sistemas corporais como o sangue ou o sistema imunológico".
Com base em estudos realizados sobre a SARS (síndrome respiratória aguda grave), "prima" da covid-19, "achamos que ela pode ir para outras partes do corpo", diz Schaffner.
Isso pode explicar em parte por que alguns pacientes infectados sofreram diarreia e dor abdominal, problemas que não estão diretamente ligados a uma infecção respiratória.
Essas doenças, diz Schaffner, referindo-se a SARS e MERS (coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio) "parecem muito semelhantes nos estágios mais graves".
Mas para chegar a essa conclusão, será necessário "conhecer os resultados das autópsias, e essas informações estão apenas começando a ser reveladas", diz ele.
Quanto aos danos a longo prazo, tanto nos pulmões quanto em outros órgãos, o especialista diz que a grande maioria dos pacientes tem uma recuperação completa.
Embora também "haja alguns relatos de pacientes que, como consequência da inflamação, possam ter algumas cicatrizes nos pulmões e uma função pulmonar reduzida".
"Levará tempo para determinar isso com mais precisão, e agora a atenção está focada nos casos agudos da doença".
"Ainda não tivemos tempo para pensar no longo prazo", conclui o especialista.
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