segunda-feira, 20 de abril de 2020

Agência Pública, em 17/4/2020

Promessas vazias ao estilo do chefe
 
Começou mal o novo ministro da Saúde, Nelson Teich. O oncologista, que fundou um grupo particular de tratamento de câncer e mais recentemente se tornou consultor em Saúde, fez reverência à ciência, mas não se envergonhou de prometer coisas inexistentes. Pela ordem, medicamentos, vacinas e testes - esses apresentados como a solução para acabar com a quarentena, como quer Bolsonaro, mas com um problema um tanto óbvio para qualquer um que acompanhe a cobertura da imprensa e/ou as coletivas até então vespertinas do Ministério da Saúde: não há testes disponíveis no país nem para os que estão doentes, e os profissionais de saúde e de segurança ainda aguardam os prometidos pelo governo federal.
Não há nem reagentes para comprar e fazer os testes no Brasil, como disse em entrevista à Pública a lúcida e didática microbiologista Natália Pasternak, que como a maior parte da comunidade científica, vem insistindo que o isolamento social é a única forma de reduzir as mortes e o impacto da epidemia no sistema de saúde. “Se relaxar, vai ficar um monte de gente doente ao mesmo tempo e vai morrer um monte de gente por falta de atendimento. A alternativa ao isolamento é morrer muito mais gente, não tem outra”, explicou. 
A dra. Pasternak também é uma crítica ferrenha da liberação do uso da cloroquina e hidroxicloroquina, especialmente quando combinada à azitromicina, combinação que comprovadamente provoca arritmia cardíacas graves, que podem levar à morte do paciente. E deixa claro: não há nenhum medicamento com evidências científicas robustas e segurança garantida para combater o coronavírus. Vacina, então, nem pensar antes de pelo menos dois anos, tempo já exíguo para fazer todos os testes necessários para uma substância que vai ser aplicada em bilhões de pessoas. 
Curiosamente, o ministro Henrique Mandetta se despediu dos funcionários do ministério com a mesma frase dita por Fernando Haddad quando perdeu as eleições presidenciais: “Não tenham medo”. Um conselho não muito alentador para a população que continua sob o comando de Jair Bolsonaro, que pareceu titubeante e pálido no pronunciamento que fez após a demissão de Mandetta.
Nesse vale tudo, não há como ter esperanças em um ministro que se disse “completamente alinhado ao presidente” e se comprometeu, sabe-se lá como, a uma flexibilização “inteligente” do isolamento social. Transparência realmente não será o forte do substituto na condução do combate ao coronavírus, o que só agrava o combate à pandemia da qual o mundo sabe pouco e, nós brasileiros, ignoramos até os os números reais de seu impacto por aqui.
Marina Amaral, codiretora da Agência Pública
O que você perdeu na semana

Justiça para os Ashaninka. Acordo judicial inédito garante multa de R$ 14 milhões e um pedido de desculpas ao povo Ashaninka, no oeste do Acre, cujas terras foram desmatadas nos anos 1980 para abastecer a indústria moveleira na Europa. A madeireira penalizada era da família do atual governador do estado, Gladson Cameli (PP). “Foi a primeira vez no Direito brasileiro que algo assim foi feito. Estou muito orgulhoso, foi difícil, mas muito bonito”, observa Antônio Rodrigo, advogado dos indígenas. 

Recursos emergenciais para a Funai. Informação apurada pelo Estado de S. Paulo mostra que Fundação Nacional do Índio (Funai) recebeu, há duas semanas, R$ 10,840 milhões de recursos emergenciais para usar na proteção de indígenas contra o avanço do novo coronavírus. Nenhum centavo desse recurso foi utilizado até hoje, quando o País já soma ao menos nove casos e três mortes dessa população pela Covid-19.

Profissionais infectados em PE. Boletim epidemiológico divulgado esta semana pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco aponta que 377 profissionais de saúde fizeram teste e tiveram resultado positivo para o novo coronavírus. O número representa um em cada três casos da doença registrados em todo o estado. Segundo o secretário André Longo, o alto número no estado é resultado de ser o primeiro do país a adotar um protocolo para testar todos os profissionais de saúde sintomáticos de quadro gripal. 
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Últimas do site
 
Polêmicas com a cloroquina. Segundo especialistas em indústria farmacêutica ouvidos pela Pública, não há evidências robustas que permitam “qualquer defesa possível da utilização da cloroquina nos pacientes da Covid-19.” Drogas como Remdesivir, lopinavir e ritonavir despontam como possíveis alternativas ao fármaco, mas produção desses medicamentos no país poderá ser dificultada por patentes. 

Situação dos povos indígenas na pandemia. Após três indígenas morrerem por coronavírus, aldeias se veem sem amparo e acendem alerta vermelho pelo histórico de doenças contagiosas que dizimaram etnias inteiras. Se de um lado o vírus avança, do outro, há o aumento de invasões de garimpeiros em suas terras, devido ao enfraquecimento da fiscalização. Desde o início do ano já são mais de 30 mil garimpeiros só no território Yanomami.

Microcefalia e o coronavírus. No Nordeste, crianças com microcefalia causada pela epidemia de Zika vírus tiveram seus tratamentos suspensos devido à sobrecarga do sistema de saúde pela Covid-19. Elas também são pacientes de risco para a doença. Além do difícil atendimento nos postos, a demora no resultado de testes para o coronavírus em vítimas do Zika impede mães de velar seus filhos. “Não cheguei a me despedir da minha filha”, conta Fabíola Gomes, que perdeu sua bebê de um ano e meio.

Investimentos em ciência. Segundo a bióloga e pós-doutora em microbiologia Natália Pasternak, festejar experimentos in vitro é dar falsas esperanças à população. “Espero que a gente confie cada vez mais na ciência para ter maior sucesso em uma próxima pandemia”, diz a cientista, que lamenta a falta de investimento em ciência. 
Pare para ver
 
Web série povos da floresta. “Vozes Da Floresta – A Aliança dos Povos da Floresta de Chico Mendes a Nossos Dias” é uma série em vídeo composta por entrevistas com lideranças indígenas, extrativistas e militantes refletindo sobre as lutas pela preservação das florestas e dos direitos dos povos que a habitam. O primeiro episódio é com o ambientalista Ailton Krenak, que discutirá a ideia da Aliança para os dias de hoje, o que é ser índio no Brasil, a ideia de resgate e identidade e outros temas.  
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