Começa auge da pandemia e Brasil tem recorde de mortes
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
O Brasil registrou, em 24 horas, 114 mortes por Covid-19, um recorde desde o primeiro caso de contágio por coronavírus no país, notificado no dia 26 de fevereiro. O Ministério da Saúde informou nesta terça-feira que já são 667 óbitos e 13.717 casos confirmados. O Estado de São Paulo, que lidera o ranking de casos (5.682) também registrou um recorde de novos óbitos, chegando a 371 mortes. Desde a segunda-feira, foram confirmadas 67 mortes, quase três por hora. A letalidade da doença em todo o país subiu de 4,6% para 4,9%. Todos os números seguem sendo um retrato incompleto da pandemia no país, especialmente pelo déficit de testes para medir a disseminação da doença.
Seja como for, a curva brasileira de progressão de casos da Covid-19 inspira preocupação. O Brasil registrou 1.194 casos e 18 mortes no dia 21 de março. Um dia depois, eram 1.593 casos e 25 óbitos. Em 23 de março, eram 1.958 pessoas infectadas e 34 mortes. Cinco dias depois do milésimo caso, o Brasil registrou 2.989 casos e 77 óbitos. Em duas semanas, o Ministério da Saúde registrou a marca de mais de 10.000 contágios no país.
Em meio a esse cenário —e nas vésperas do pico de contágio previsto para as semanas entre abril e maio— Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, corre para agilizar a remessa de materiais médicos comprados na China. A falta de ventiladores e equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras, essenciais ao combate da pandemia, é um dos maiores gargalos do Brasil na crise sanitária. Mandetta informou que conversou por telefone com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, para construir um “esforço comum” que permita que os materiais comprados cheguem ao país.
A Embaixada da China pediu retratações nas últimas semanas pelas declarações consideradas ofensivas por parte de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal e filho do presidente Jair Bolsonaro, e do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que criticaram a postura adotada pelos chineses no combate ao coronavírus. Nesta terça, no entanto, Wanming mencionou a conversa com Mandetta em termos amigáveis: “Nesta tarde, na conversa telefônica com ministro Luiz Henrique Mandetta, coincidimos em reforçar a cooperação bilateral, especialmente entre os dois ministérios da saúde, para compartilhar experiências do combate à Covid-19 em prol do enfrentamento conjunto deste desafio global”, publicou nas redes sociais.
Mandetta afirmou que espera comprar uma remessa de respiradores da China, no valor de um bilhão de reais, mas tratou essa operação como “ainda uma possibilidade”. “Não sabemos ainda ao certo se a compra empenhada, contratada… Precisamos agora ter uma precisão de entrega do fornecedor que assinou. E estamos procurando outras possibilidades no mercado interno e mercado externo”, explicou. O ministro da Saúde também disse que o Brasil mandará aviões na sexta-feira para trazer 40 milhões dos 250 milhões de equipamentos que já comprou no país asiático. “Precisamos de agilidade nesses trânsitos aéreos e por parte da embaixada, que também deve nos ajudar para que possamos entrar, pegar esse material e voltar”.
De acordo com o ministro, mais de 53 milhões de EPIS já foram distribuídos a Estados e municípios desde o início da pandemia, e que os estados já receberam 135 mil testes do tipo RT-PCR, que são mais precisos. A previsão é que outros 300 mil cheguem ainda esta semana.
O Ministério da Saúde reiterou, durante a coletiva desta terça-feira, que medicamentos à base de cloroquina (como seu análogo, a hidroxocloroquina) só podem ser prescritos para pacientes críticos ou graves com Covid-19 internados em hospitais —ao contrário do que tem defendido Jair Bolsonaro. O secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, chamou a atenção para o principal risco da substância: a arritmia cardíaca como efeito colateral.
“O que nos preocupa é o potencial de gerar arritmias cardíacas. O coração é uma bomba, que depende da ativação de um sistema elétrico próprio. Esse medicamento pode produzir prolongamento de uma dessas fases elétrica do coração e criar, propiciar um ambiente favorável a uma arritmia que pode ser potencialmente fatal”, explicou Vianna. O secretário acrescentou que os pacientes devem fazer um eletrocardiograma para avaliar esse risco, que deve ser monitorado ao longe de todo o tratamento.
Já Mandetta afirmou que médicos podem prescrever esses medicamentos para pacientes com sintomas leves, caso os profissionais assumam os riscos. “Se ele [médico] se responsabilizar individualmente, não tem óbice nenhum. Ninguém vai reter a receita de ninguém. Agora, para que nós possamos, no Ministério da Saúde, assinar que o ministério recomenda que se tome essa medida, nós precisamos de um pouco mais de tempo para saber se isso pode se configurar em coisa boa ou se isso pode ter algum efeito colateral”, disse.
A declaração veio um dia depois de o ministro se recursar a endossar um decreto proposto pelo Governo —Bolsonaro é um dos maiores entusiastas da cloroquina— para liberar profissionais da saúde a usar a substância. “Me levaram, depois da reunião lá, para uma sala com dois médicos que queriam fazer protocolo de hidroxicloquina por decreto. Eu disse a eles que é super bem-vindo, os estudos são ótimos. É um anestesiologista e uma imunologista que lá estavam”, disse Mandetta na segunda-feira. A imunologista é Nise Yamagushi, do Instituto Avanços em Medicina, e o anestesiologista é Luciano Dias Azevedo, ligado ao um grupo de docentes universitários bolsonaristas, o Docentes pela Liberdade.
O Ministério da Saúde informou que há nove pesquisas em curso no Brasil para obter tratamentos para a Covid-19, em mais de 100 centros de pesquisa, e que pelo menos seis deles analisam os riscos e benefícios da cloroquina e da hidroxocloroquina, em combinação com o antibiótico Azitromicina. “Esperamos ter resultados preliminares desses estudos já no dia 20 de abril”, afirmou Mandetta.
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