sexta-feira, 24 de abril de 2020

Por que Bolsonaro quer mexer em mais um vespeiro?

Ed. #149 |  24 de abril de 2020
Perguntas sem respostas em um país de democracia instável

No momento em que escrevo Moro balança no cargo mas ainda não caiu, bem como o diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo. A pergunta se impõe: o que levaria o presidente a arrumar confusão com o mais popular de seus ministros trocando o comando da PF em plena pandemia? 
Já sabemos que Mandetta, igualmente popular, aparentemente caiu por discordar das atitudes irresponsáveis de Bolsonaro em relação ao combate ao coronavírus. Ultrapassamos as 400 mortes em 24 horas e estamos perto dos 50 mil casos confirmados de infecção. Números que não significam muita coisa em termos absolutos, como sabemos, dada a subnotificação e falta de testes. Mas a curva exponencial não deixa margem à dúvida: o ex-ministro da Saúde tinha razão. Por que mexer em mais um vespeiro nesse momento?
Seria para “estancar a sangria” provocada por supostas descobertas da PF sobre a milícia digital comandada por Carlos e Eduardo Bolsonaro (incluindo os patrocinadores) como sugeriu O Antagonista, sempre tão próximo de Moro? Milícia, aliás, muito provavelmente envolvida com a organização da manifestação que pediu a volta do AI-5, o fechamento do Congresso e do STF, com direito a discurso do presidente, agora alvo de investigação pedida pela Procuradoria Geral da República e autorizada pelo STF na terça-feira. 
Há 24 pedidos de impeachment de Bolsonaro nas mãos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Ontem o decano do STF, Celso de Mello, tomou duas atitudes com potencial para atingir em cheio o presidente da República. A primeira foi incluir Bolsonaro na investigação sobre a manifestação inconstitucional, corrigindo a omissão da PGR; a segunda foi dar um prazo de 10 dias para que Maia se manifeste sobre um desses pedidos, movido em março por dois advogados que o acusam de omissão por não encaminhá-lo ao plenário da Câmara. 
Não sabemos ainda como vai se encerrar a semana. Certo, porém, é que continuaremos com muitas perguntas sem as respostas que poderiam definir, não apenas o futuro político do país, mas também o que vai acontecer com a saúde de todos nós.
Marina Amaral, codiretora da Agência Pública
O que você perdeu na semana

Desinformação no Ministério da Saúde. Checagem de fatos feita pela Agência Lupa mostra que Ministério da Saúde erra ao informar que casos assintomáticos da Covid-19 não são contagiosos. Informação é contrariada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por um estudo publicado pela revista Science, que estimou que dois terços das infecções são causadas por pacientes assintomáticos ou com sintomas leves. 

Impactos da MP de Bolsonaro. Até a noite desta quarta-feira (22), acordos entre patrões e empregados para suspender contratos ou cortar salários e jornadas já atingiam 3,5 milhões de trabalhadores, mostra reportagem da Folha. A permissão para essas negociações foi concedida em MP (Medida Provisória) editada pelo presidente Jair Bolsonaro. Entre os que tiveram jornada reduzida, a maior parte terá corte de salário de 50% ou mais. 

Especulações sobre origem do coronavírus. Baseando-se em incidentes passados nos quais laboratórios chineses de alta segurança deixaram escapar outro tipo de coronavírus, o presidente dos EUA, Donald Trump, endossa a teoria de que o vírus causador da Covid-19 também é fruto de um vazamento, desta vez do Instituto de Virologia de Wuhan. Segundo o geneticista Rasmus Nielsen disse ao EL PAÍS, o vírus do morcego RaTG13, pesquisado oficialmente em Wuhan, se parece tanto com o novo coronavírus “como uma pessoa com um porco”.
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Isenções fiscais a agrotóxicos. Em meio a uma pandemia que gera demandas econômicas urgentes para os cofres públicos, governadores de todo o país decidiram prorrogar a isenção fiscal que beneficia a venda de agrotóxicos. Na prática, governos estaduais deixam de arrecadar mais de R$ 6,2 bilhões por ano, valor que poderia ser revertido na compra de 90 mil respiradores mecânicos.  

Escolha de sofia. Com sistemas de saúde entrando em colapso por falta de leitos de UTI, médicos brasileiros estão sendo obrigados a decidir sozinhos quem vive e quem morre, pois não há protocolos definidos pelo Ministério da Saúde e pelas secretarias estaduais sobre como agir nesses casos. Maior preocupação é evitar decisões subjetivas, relacionadas com o status social do paciente, por exemplo. Segundo especialistas ouvidos pela Pública, idade também não pode ser o primeiro critério.

UTIs para indígenas. Estudo inédito da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) antecipado para a Pública mostra que mais de 200 terras indígenas na Amazônia têm alto risco para Covid-19. De 1.228 municípios brasileiros onde há ao menos um trecho de terras indígenas, apenas 108 possuem algum leito de UTI.

Carreatas contra o isolamento. A Pública investigou quem são os políticos que espalham a mensagem anti-isolamento em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. As carreatas têm um ponto em comum: o envolvimento direto de figuras ligadas ao presidente Jair Bolsonaro na organização ou divulgação dos eventos. Parte dos políticos se empenhou na criação do Aliança Pelo Brasil, partido idealizado pelo presidente que não conseguiu obter o número de assinaturas necessário para se formalizar e concorrer às eleições deste ano.
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Evangelização de índios isolados. Nomeado em fevereiro após uma manobra no regimento interno da Fundação Nacional do Índio (Funai) para ser o responsável pela proteção de povos isolados, o antropólogo Ricardo Lopes Dias, ao contrário de suas afirmações, continuou ligado a missões evangelizadoras de indígenas até o início deste ano. A Funai sempre afirmou que seu coordenador havia se desvinculado de projetos missionários há mais de 10 anos, mas registros levantados pelo GLOBO e depoimentos de índios que trabalharam com o pastor apontam para uma atuação de bastidores do religioso. 
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