O que significaria para a cultura brasileira o fechamento da Cinemateca?
Entidade mais importante para a manutenção e preservação da memória do audiovisual brasileiro, a existência da Cinemateca Brasileira vem sendo colocada em xeque. O governo federal sugeriu o fim antecipado do contrato da instituição com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), que gere as atividades da instituição desde 2018.
Funcionários estão sem receber salários desde abril e, segundo ofício do Ministério Público, nenhuma parcela do orçamento de R$ 12 milhões relativo a 2020 foi repassada pela Secretaria Especial da Cultura. Caso o governo decida de fato "matar" o órgão, que existe desde 1946 e é referência internacional, cerca de 150 funcionários serão demitidos.
Perda irreparável
Assim como acontece na Europa e outros países da América da Sul, a Cinemateca Brasileira é responsável pela preservação de cerca de 245 mil rolos de filmes e 30 mil títulos, entre obras de ficção, documentários, cinejornais, filmes publicitários e registros familiares, que ficariam sem cuidados e sob risco de serem perdidos para sempre. Não é pouca coisa. A entidade é conhecida por abrir o maior acervo de imagens em movimento da América latina.
Material corre risco de incêndio
O local, localizado na Vila Clementino, zona sul de São Paulo, tem depósito com rolos de nitrato de celulose, material altamente inflamável e usado até meados do século 20 na produção audiovisual. Existe alto risco de incêndio caso as películas não sejam acondicionadas adequadamente. O prédio da Cinemateca, que é é tombado, já sofreu com enchentes e incêndios, o último em 2016.
Qual é o acervo da Cinemateca?
A Cinemateca possui, por exemplo, registros raros, como a coleção de imagens da TV Tupi, primeira emissora do país inaugurada em 1950 e extinta em 1980. O material foi herdado em 1985 e traz 180 mil rolos de filmes em 16 milímetros, como programas, reportagens e coberturas históricas de telejornais da época. A história da TV e do cinema do Brasil está lá.
1 milhão de documentos
A entidade também dispõe de um patrimônio de cerca de 1 milhão de documentos relacionados à área do audiovisual, como livros, roteiros, periódicos, recortes de imprensa, documentos pessoais doados, cartazes, fotografias e desenhos, importantes para a contextualização histórica e preservação da memória da produção nacional.
Fim dos restauros?
Este é outro ponto que está sob ameaça com um eventual fechamento. A Cinemateca também exerce atividades de restauro e preservação. A instituição, que abriga produções dos estúdios de cinema Vera Cruz e Atlântida, já restaurou em laboratório filmes como o clássico "Macunaíma", estrelado por Grande Otelo e baseado na obra de Mário de Andrade, "Os Fuzis", de Ruy Guerra, e "Manhã Cinzenta", de Olney.
Eventos sob ameaça
Além de servir como guardiã da memória do audiovisual brasileiro e internacional, a Cinemateca, localizada na Vila Clementino, possui duas modernas salas de exibição, patrocinadas pela Petrobras e BNDES, e uma área externa para projeção de filmes. Além de promover mostras próprias, o local é palco tradicional de eventos e festivais importantes para o fomento do cinema, como a Mostra Internacional de São Paulo, Anima Mundi e In-Edit, que também ajudam a equilibrar as contas do órgão.
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