sábado, 5 de setembro de 2020

Agência Pública, em 04/9/2020

 

Onde termina o jornalismo e começa a cultura?


Como as notícias conseguem se transformar em cultura? Essa questão sempre me interessou. Após meses investigando o assunto, foi fascinante observar, por exemplo, como o humorista Marcelo Adnet fez um vídeo baseado na série de reportagens da Agência Pública sobre a relação do FBI com a Lava Jato, levando centenas de milhares às gargalhadas com Moro carregando no sotaque americano. Será que a memória coletiva pode ajudar a corrigir as injustiças quando a própria Justiça falha, como infelizmente ocorre tanto no Brasil?

Este é um problema que inquieta jornalistas que noticiam uma realidade que parece cada vez mais brutal. Como explicar para a opinião pública que o Brasil está de cabeça para baixo? Ao relembrar os patéticos e breves Ministros da Educação do governo Bolsonaro – um deles chegou a dizer que havia extensivas plantações de maconha nas universidades – a apresentadora do Canal Reload Larissa Venturini, encara a câmera e canta Cássia Eller: “o que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou?”

É essa a clareza e frescor que estamos buscando com o Canal Reload – “recarregue” em inglês –, um canal de jornalismo em vídeos no Instagram e Youtube que lançamos esta semana. A Pública se juntou a outras nove organizações que têm inovado no jornalismo digital para usar e abusar da criatividade e, assim, melhor espalhar o conteúdo de qualidade que já fazemos. São elas: ((o))ecoAgência LupaAmazônia RealCongresso em FocoÉnoisMarco Zero ConteúdoPonte JornalismoProjeto #Colabora e Repórter Brasil

Juntas, fomos ouvir aqueles que estão sendo violentamente disputados na economia da atenção das redes sociais, mas que, curiosamente, são os menos ouvidos: os jovens.

“Já passou da época da gente ficar usando palavra bonita só pra usar palavra bonita, né?”, provoca João Freire, outro apresentador do Canal Reload. “Quebrar esse muro invisível de uma barbárie que se acha civilizada só por ser branca e por ser inacessível pra maioria da população”, ensina Bell Puã, também uma das caras do canal.

Quem apresenta o Reload são 12 jovens de vinte e poucos anos, ávidos por informação, alguns pioneiros em suas famílias, da primeira geração que chegou às universidades graças ao Prouni e às cotas. Eles não tinham nem cinco anos quando Lula chegou a presidência, estavam em plena adolescência quando irromperam as manifestações de 2013, e ainda nem eram adultos quando Dilma foi removida da presidência. Vêm de diferentes regiões do país, têm diferentes cores, sotaques, trajetórias e etnias. Eles são uma amostra dos milhões de brasileiros que não sabem direito como ou onde se informar, para quem o jornalismo tradicional soa pedante, distante, incompreensível. Os jovens de hoje não ligam para a imprensa tradicional porque ela não se conecta com eles. As notícias não penetram no caldo cultural onde eles estão inseridos.

É essa barreira entre nós, que crescemos ouvindo o barulho do folhear de jornal pelos nosso pais, e eles, que já cresceram dividindo a atenção entre os seus e as telinhas de celular, que o Reload pretende quebrar. 

Convidados pelas dez organizações, esses comunicadores, junto com a equipe de vídeo liderada por Hugo Cucurullo, vão mergulhar na linguagem Youtuber, criando histórias em quadrinhos, animações, gifs, videoclipes e poesia jovem para conquistar o coração e a mente dos seus pares para o jornalismo de qualidade. É uma missão e tanto, que eles abraçaram com entusiasmo.  

Assim como nós. Aqui na Pública sabemos que é nosso dever invadir esses espaços onde eles já estão para combater a desinformação criminosa que prolifera nas redes sociais. E, com a boa companhia desses talentosos jovens, tenho certeza que nossa chance de vencer ficou bem maior.

 

Natalia Viana, codiretora da Agência Pública

O que você perdeu na semana


Violência sexual dispara. Os casos de violência contra a mulher aumentaram 40% no Brasil durante o período de isolamento social, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Isso inclui casos de violência sexual. Como mostra esta reportagem do El País Brasil, o Hospital Pérola Byington, referência no atendimento a esses casos em São Paulo, realizou 279 procedimentos de aborto legal só no primeiro semestre deste ano. No primeiro semestre de 2019, foram 190.

Julian Assange em risco. Na próxima terça-feira, o Tribunal Criminal Central de Londres fará audiência para decidir se o fundador do Wikileaks, Julian Assange, será extraditado e julgado nos Estados Unidos. Para Juan Passarelli, diretor do documentário “A Guerra Contra O Jornalismo: O Caso de Julian Assange”, o direito à informação está em risco: “Esse direito que todos temos de receber informações sobre o que fazem as pessoas que elegemos com nossos votos, com nossos impostos. Isso é o que Julian Assange revelou, o que estava acontecendo e por isso que está preso hoje em dia.” 

Cautela com os dados. O número de mortes por Covid-19 no Brasil em agosto foi 12% menor do que no mês de julho. Apesar de as estatísticas mostrarem uma diminuição no número de óbitos, especialistas ouvidos pelo Nexo apontam que ainda não é o suficiente para classificar o quadro como de queda consolidada e que os dados devem ser vistos com cautela. 

A sua prefeitura está fazendo propaganda de cloroquina ou ivermectina?
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Ataques xenofóbicos. Após início da crise envolvendo a Igreja Universal do Reino de Deus em Angola, que culminou no rompimento com a gestão brasileira, angolanos residentes no Brasil relataram casos de agressão e xenofobia. Entrevistado conta que conhecidos estão sendo seguidos na rua por brasileiros, que cobram satisfações sobre a situação envolvendo a Universal.

População em situação de rua. Em entrevista, o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua em São Paulo, fala sobre as mortes de pessoas em situação de rua durante a recente onda de frio na cidade e critica a "negligência" e a "incompetência" do poder público durante a pandemia. "Achar que a solução para a cidade hoje é camping? Isso quando 80% da rede hoteleira está ociosa, quando São Paulo tem mais casa sem gente do que gente sem casa?"

Excluídos do isolamento. Censo da População em Situação de Rua 2019, divulgado em janeiro deste ano, estima que cerca de 25 mil pessoas vivem nas ruas paulistanas. A repórter Júlia Dolce conta as histórias de algumas dessas pessoas, para quem, principalmente em meio ao frio e à pandemia, todos os dias são urgentes.

Força-tarefa da cloroquina. Em ao menos nove estados, membros do Ministério Público Federal e dos MPs estaduais têm atuado para que a cloroquina seja oferecida no SUS. Em pelo menos três casos, os procuradores envolvidos têm ligação com o MP Pró-Sociedade. Criado em 2018, o grupo defende, entre outros, a educação como "prerrogativa da família" e que o conservadorismo e o capitalismo são fatos, não ideologias.
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Armas enviadas por sedex. Reportagem da revista piauí mostra como traficantes de armas abasteciam criminosos de facções rivais, policiais e milicianos. Armas e munições adquiridas no Paraguai eram enviadas de Foz do Iguaçu até destinos em diferentes estados, escondidas em correspondências ou veículos. 

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