sexta-feira, 9 de outubro de 2020

'Ustra era homem de honra que respeitava os direitos humanos dos seus subordinados', diz Mourão QUEM ELOGIA TORTURADOR É TORTURADOR

 


'Ustra era homem de honra que respeitava os direitos humanos dos seus subordinados', diz Mourão

Victor Farias
Foto: AP Photo/Eraldo Peres
Foto: AP Photo/Eraldo Peres

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou em entrevista a imprensa alemã que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado por tortura na ditadura militar, foi um homem de "honra" que respeitava os direitos humanos de seus subordinados".

O coronel que morreu em 2015, aos 83 anos, é apontado por dezenas de perseguidos políticos e familiares de vítimas do regime militar como responsável pelas perseguições, tortura e morte de opositores do golpe de 64.

"O que posso dizer sobre o homem Carlos Alberto Brilhante Ustra, ele foi meu comandante no final dos anos 70 do século passado, e era um homem de honra e um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados. Então, muitas das coisas que as pessoas falam dele, eu posso te contar, porque eu tinha uma amizade muito próxima com esse homem, isso não é verdade", disse à Deutsche Welle.

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Mourão afirmou que a tortura não é uma prática que o governo brasileiro concorda ou "simpatize", mas comentou que muitas pessoas que lutaram contra guerrilhas urbanas nos anos 60 e 70 foram "injustamente acusadas de serem torturadoras".

"Em primeiro lugar, não estou alinhado com a tortura, e, claro, muitas pessoas anda estão vivas daquela época, e todas querem colocar as coisas da maneira que viram. É por isso que eu disse antes que temos que esperar que todos esses atores desapareçam para que a história faça sua parte. E, claro, o que realmente aconteceu durante esse período ... esse período passou", disse.

O vice-presidente afirmou também que a democracia é um dos objetivos nacionais permanentes e que o governo quer tornar o Brasil a "democracia mais brilhante do hemisfério Sul".

Questionado se o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro após o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar operação da Polícia Federal contra aliados do presidente, no âmbito do inquérito das fake news, em que o presidente afirmou que as Forças Armadas "não cumprem ordens absurdas", Mourão disse que não se tratava de uma ameaça.

"As Forças Armadas estão alinhadas com sua missão constitucional, e não estão saindo dela. As coisas aqui no Brasil estão tranquilas e indo bem. E deixo bem claro que a democracia é um valor não só para o governo Bolsonaro, mas também para as nossas Forças Armadas. Então não existe nenhuma ameaça ao Supremo Tribunal Federal ou ao sistema Legislativo aqui no Brasil", afirmou.

O vice-presidente disse ainda que a participação de Bolsonaro em atos que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo também não eram uma ameaça à democracia. E disse que a afirmação do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que viu "agressões gratuitas à democracia" na ocasião, eram ocasionadas pela "polarização na política".

"Não, isso acontece porque há polarização na política. O governo de São Paulo se opôs a Bolsonaro. Isso é muito mais conversa do que, digamos, ação", comentou.

Questionado se essa era uma conversa perigosa, o vice-presidente afirmou que não, já que "ninguém tem poder de fazer o que quer aqui no Brasil".

"Não, não é perigosa. É perigoso quando você tem poder de fazer o que quer, mas ninguém tem poder de fazer o que quer aqui no Brasil", afirmou.

Ustra era conhecido nos porões da ditadura como “Dr. Tibiriçá”, ele era o único militar brasileiro declarado torturador pela Justiça.

O Dossiê Ditadura, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, relaciona o coronel com 60 casos de mortes e desaparecimentos em São Paulo. A Arquidiocese de São Paulo, por meio do projeto Brasil Nunca Mais, denunciou mais de 500 casos de tortura cometidos dentro das dependências do Doi-Codi no período em que Ustra era o comandante, de 1970 a 1974.

Em 2015, o Ministério Público Federal (MPF), ofereceu denúncia contra Ustra. Ele é apontado como responsável pela morte do militante comunista Carlos Nicolau Danielli, sequestrado e torturado nas dependências do Destacamento de Operações e Informações do (DOI), em São Paulo, em dezembro de 1972.

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