quarta-feira, 25 de novembro de 2020

A Pública: Como a coragem das fontes contribui para o nosso jornalismo

 


Durante mais de um ano, o editor e repórter da Pública Thiago Domenici investigou as irregularidades cometidas pelo grupo educacional Laureate Brasil, de robôs corrigindo provas a demissões por popup. Agora, as reportagens motivaram um pedido do Ministério Público Federal para que o MEC investigue as instituições de ensino comandadas pelo grupo

Na newsletter de hoje, Thiago conta como a coragem das fontes foi essencial nessa investigação, que, por sua vez, resultou em uma ação efetiva do poder público para mudar aquela realidade. 

Envie seu comentário sobre universidades privadas e outros assuntos para as Cartas dos Aliados! 

Um abraço, 

Giulia Afiune
Editora de Audiências
Como a coragem das fontes contribui para o nosso jornalismo 
por Thiago Domenici
 

O jornalismo da Agência Pública não é pautado por slogan de lacração. Quem nos acompanha todos esses anos sabe que fazemos um jornalismo investigativo sério e que sempre estamos comprometidos com o interesse real que uma reportagem pode despertar. 

O que fazemos aqui, acredite, requer muita ralação, paciência, métodos transparentes de apuração, tropeços e, claro, alguma sorte. Jornalismo, não importa se chamado em peças de marketing de "profissional", só é jornalismo mesmo quando fiscaliza e busca a história mais próxima da verdade dos fatos – não a mais conveniente.

Digo isso, porque outro dia recebi uma mensagem que vai dar contexto a esse preâmbulo todo aí de cima. Dizia assim: "Obrigado pela ajuda, espero que com a divulgação da reportagem a instituição mude". O autor, sem esperar minha resposta de agradecimento, emendou: "Na verdade essa reportagem me libertou da 'escravidão'. Se eu soubesse disso já teria conversado com vc muito antes". 

Pelo sigilo da fonte, não posso revelar o nome deste professor que, mesmo sob anonimato, teve a coragem para denunciar falcatruas e irregularidades na universidade onde deu aula até o mês passado, a FMU de São Paulo, onde recebeu, por dois meses seguidos, irrisórios 48 reais. 

Evaristo, como o chamei no texto, é parte de uma legião de mais de 40 professores que este repórter entrevistou ao longo de um ano para a série de reportagens que denunciam o grupo educacional Laureate, com 11 universidades privadas no país e mais de 260 mil alunos, que acaba de ser vendido para outro grupo educacional por alguns bilhões. 

Durante esse tempo, fiz um mergulho profundo em documentos, planilhas e depoimentos que mostram, sob diversos aspectos, como a Laureate enganou o MEC, professores e alunos para lucrar sob a propaganda da educação de qualidade. Se você espiar agorinha, o site da instituição terá uma promoção de "Best Friday + bolsas de até 70% nos primeiros meses". 

Nosso jornalismo revelou o que estava por trás da propaganda: a Laureate demitiu em massa e fraudou atas de reuniões obrigatórias para o reconhecimento de cursos no MEC, usou robôs para correção de provas dissertativas no lugar de professores, sem que os alunos soubessem, e fez docentes atuarem em cursos fora de sua área de formação. É o caso de Flávia, que, com formação em psicologia, foi designada para a disciplina de “direito marítimo”. Ou de Tânia, que, com formação em antropologia, foi designada para disciplinas como “estudo das cores para o design da moda”.

Já a professora Marília me procurou após a publicação da primeira denúncia em maio do ano passado. Nosso encontro, num café barulhento na beira de uma estrada em Lauro de Freitas, me deixou atônito pelo volume de documentos verossímeis que ela reunia. Angustiada, ela contou que via na Pública a única possibilidade de trazer à tona mais irregularidades da Laureate, desta vez em cursos presenciais da área de saúde. 

resultado dessa apuração foi publicado há 10 dias, em parceria com a Folha de S. Paulo

Para o jornalismo ter mais impacto, é preciso que o poder público e o judiciário se mexam. E motivada pelas nossas reportagens, uma ação civil pública foi proposta em setembro pelo Ministério Público Federal, que chama de “absolutamente injustificável” a omissão do Ministério da Educação diante dos indícios de irregularidades. O procurador da república à frente do caso diz que é de "fundamental importância determinar urgentemente a fiscalização desses cursos para evitar mais prejuízos a futuros e atuais alunos das escolas do grupo [Laureate] que depositam seus sonhos, seu tempo e seus recursos em cursos superiores que não apresentam os requisitos mínimos de qualidade para existir”. Ele tem razão e o que parece óbvio precisa ser dito sempre que preciso: educação não é mercadoria. 

No caso da Laureate, em nenhum momento o grupo admitiu seus erros. Quem sabe diante da justiça, admita algo na linha do que um professor chamou de "estelionato educacional."

Mas o que me marcou mesmo nesta investigação é a certeza de que, sem a coragem das denúncias, o nosso trabalho de nada serviria. É fundamental, cada vez mais, que as pessoas acreditem no jornalismo investigativo como meio de mudança real. 

Thiago Domenici é editor e repórter da Pública. 

Rolou na Pública
 

Violência nas eleições municipais. Na última sexta-feira, publicamos em parceria com outros oito veículos independentes, um levantamento exclusivo sobre violência nas eleições. Recebemos relatos por meio de um questionário e também monitoramos os casos que eram noticiados na imprensa. Após um intenso trabalho de apuração que envolveu mais de 20 repórteres, chegamos a 114 casos de violência eleitoral no país todo – um a cada três horas. 

Participe da cobertura. Seguimos coletando relatos de violência política e também de campanha eleitoral em igrejas. Presenciou ou ficou sabendo de casos de violência relacionados às eleições? Conte para nós. Viu políticos fazendo campanha em templos religiosos? Faça seu relato

Universal nas eleições. Os relatos que recebemos sobre campanhas em igrejas nos ajudaram a produzir a reportagem que revelou as estratégias da Igreja Universal para emplacar seus candidatos nas eleições. 

Emails de Aliados recebidos nas últimas semanas: 

Parabéns por seu trabalho na luta por informação e democracia!

Luis Pinto, Mogi das Cruzes (SP)
 

Sorte, sucesso, resistência, hoje e sempre! Força e Coragem! Vamos vencer e transformar esse sistema injusto! Parabéns pelo trabalho!

Salete Chiarastella, Campinas (SP)
 

Desejo que continuem fazendo este importante trabalho e que tenham cada vez mais influência nos debates e discussões de assuntos que realmente importam para a melhoria da vida de todas e todos. Grande abraço!

Jimi Nakajima, Uberlândia (MG)

Novas dos Aliados
 

Rachadinhas em pauta. No episódio mais recente do podcast Pauta Pública, recebemos a jornalista Juliana Dal Piva para contar os bastidores de suas reportagens sobre o esquema das rachadinhas – que apontam diretamente para a família Bolsonaro. Se você ainda não ouviu, corre lá! Se já ouviu, responda este email contando o que achou! 

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