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Erika e Marielle, todas elas e todas nós "Essa vitória que não é minha, é nossa, para além de um corpo, é uma vitória de muitas vozes, de muitos grupos sociais (...) Corpos que foram sentenciados à morte - e muitas de nós de fato morreram - mas nós estamos vivas e vamos ocupar esse espaço. Nós estamos mandando um recado aos CIStema: vocês falharam miseravelmente na tentativa de nos aniquilar. Estamos mais fortes do que nunca, mais unidas do que nunca". Estes são trechos do discurso emocionante e potente da primeira mulher trans e negra eleita vereadora em São Paulo com mais de 50 mil votos. Erika Hilton (PSOL) foi também a mulher mais votada e a sexta maior votação da cidade.
Sua vitória, junto a de mais 30 pessoas trans eleitas em todo o país, não é apenas simbólica. É de uma importância real, prática e urgente em um país que figura entre os que mais mata pessoas trans no mundo. Nem é preciso ir muito longe: alguns dias antes da eleição, uma mulher trans que distribuía panfletos para a campanha de Erika na avenida Paulista foi agredida com mordidas e golpes de haste de ferro, como mostra a investigação sobre violência nas eleições feita pela Pública em parceria com outros oito veículos de jornalismo independente que será publicada hoje em nosso site. Patrícia Borges conta em seu depoimento que abordou uma senhora dizendo que seria importante eleger a primeira vereadora "trans, travesti e preta" e que ouviu de volta "‘tudo cambada de viado, tudo tem que morrer". A mulher se afastou e voltou com dois homens que puxaram seu cabelo e agrediram-na com o ferro e mordidas. Vale comemorar sim a vitória das vereadoras e dos vereadores trans no país cujo presidente afirmou que preferia um filho morto a um filho gay e que chamou a decisão do STF em criminalizar a LGBTfobia de "totalmente equivocada". Também foram eleitas mais mulheres vereadoras - em 18 das 25 capitais (em Macapá, o pleito foi adiado por causa do apagão) a participação feminina no legislativo municipal cresceu 36%. E mais pessoas negras, que somarão 44% das cadeiras nas Câmaras Municipais. As candidaturas coletivas, geralmente compostas por integrantes de movimentos sociais diversos, também vão ocupar cerca de 20 cadeiras pelo país em 2021. Essas vitórias, que sim, ainda estão longe de virar o jogo político dominado por homens brancos cis, são importantes para que a disputa possa acontecer dentro dos espaços de poder e de tomada de decisões. Para que vereadoras como Thaís Ferreira (PSOL) e Tainá de Paula (PT), mulheres negras e com belas trajetórias de resistência contra o racismo e a misoginia, eleitas para a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, possam disputar a tribuna com figuras como o reeleito Alexandre Isquierdo (DEM), cria de Silas Malafaia que tentou decretar o dia do orgulho hétero, criou projeto de lei para impedir a hormonização e as cirurgias de transgenitalização em menores de 21 anos e tem como principal bandeira acabar com a "ideologia de gênero". E se estão em menor número nas casas - especialmente no Rio de Janeiro que elegeu neste pleito apenas 10 mulheres, 4 delas negras - mulheres, trans, pretas, corpos desviantes como diz Erika em seu discurso, são gigantes em força e "a possibilidade da ruptura com um projeto nefasto". Marielle Franco é símbolo maior dessa força. Era uma e era milhares. Hoje é todas elas, todas nós. Andrea Dip, editora e repórter da Agência Pública |
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Pauta Pública. Acaba de ir para o ar mais um episódio do nosso podcast, o Pauta Pública. Recebemos a jornalista Juliana Dal Piva, que investiga e traz os bastidores das rachadinhas, esquema cujas investigações apontam diretamente para a família Bolsonaro. Ouça agora. |
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O que você perdeu na semana Mineração em terras indígenas. Dados do projeto Amazônia Minada, do InfoAmazonia, revelam que a Agência Nacional de Mineração (ANM) mantém ativos mais de 3 mil pedidos para minerar em terras indígenas (TI), apesar da prática ser inconstitucional. Os requerimentos de mineração representam uma ameaça real a áreas protegidas, especialmente na Amazônia Legal, onde estão 98% das terras indígenas já reconhecidas do Brasil.
Quilombolas eleitos. Comunidades quilombolas conseguiram eleger um prefeito, um vice-prefeito e 54 vereadores nas eleições municipais de 2020, segundo dados da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais e Quilombolas (Conaq).
Alta de candidaturas trans. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), houve um aumento de 275% de pessoas trans eleitas em relação às eleições de 2016. De acordo com a entidade, 30 candidaturas conquistaram o pleito em meio a mais de 294 proponentes. |
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Últimas do site Crime eleitoral de Malafaia. Contrariando as leis eleitorais, pastor Silas Malafaia orou por seu vereador Alexandre Isquierdo durante o culto na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no Rio de Janeiro, e enviou santinhos aos fiéis pelo correio. Isquierdo foi lançado na política pelo próprio Malafaia e reeleito no último domingo para defender os “valores cristãos” e da família tradicional, além de lutar contra as pautas relacionadas ao gênero e à população LGBTQIA+.
Desmatadores eleitos. De acordo com o levantamento da Agência Pública, 85 municípios brasileiros elegeram prefeitos e vices multados por crimes ambientais. Um quarto deles governarão cidades na Amazônia Legal, especialmente nos estados do Pará e Mato Grosso, o que pode acelerar o desmatamento na região.
Guerra santa por votos. Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) dispõe de um exército de obreiros e voluntários para ganhar votos para candidatos do partido Republicanos, ligado à Igreja. Além da mobilização de voluntários, boca de urna e campanha nos cultos seriam algumas das estratégias da igreja de Edir Macedo.
Backlinks para sites bolsonaristas. Portais de apoiadores do presidente, inclusive os investigados por disseminar desinformação, sobem de posição nas buscas do Google após eleição de Jair Bolsonaro e uma das causas é a ligação direta de portais oficiais do governo para esses sites. Jornais também alavancam essas páginas ao colocar o link da informação falsa em seus domínios. |
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Pare para ler Coronavírus no Amazonas. Uma pesquisa realizada pela Fiocruz Amazônia em parceria com Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) identificou que 4 das 30 linhagens do novo coronavírus em circulação no Brasil só são encontradas no estado do Amazonas. E uma delas só foi localizada, até agora, no município de Tabatinga, na região do Alto Solimões, na fronteira do Brasil com a Colômbia. Esse contágio elimina a hipótese de que o vírus teria chegado no Amazonas apenas pela capital Manaus e então se espalhado pelo interior. |
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