sexta-feira, 27 de março de 2020

Linguagem corporal de Bolsonaro revela raiva, medo e desprezo

Linguagem corporal de Bolsonaro revela raiva, medo e desprezo

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Foto: Reprodução
O presidente Jair Bolsonaro mostrou sinais de raiva, medo e desprezo, durante o pronunciamento oficial em cadeia nacional de rádio e TV, na noite da última terça-feira. A pedido do GLOBO, especialistas em discurso e linguagem corporal analisaram o vídeo do discurso em que o presidente criticou as medidas de isolamento para combater a pandemia de coronavírus no país. Segundo os pesquisadores, pela postura e expressões transmitidas por Bolsonaro é possível deduzir as emoções dele.
— São visíveis durante o pronunciamento os sinais de tensão na face, principalmente na boca, olhos, e testa de Bolsonaro, o que é congruente com o momento em que o Brasil passa — avalia o professor Paulo Sergio de Camargo.
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De acordo com Camargo, o presidente também mostrou sinais relevantes de estresse em alguns momentos do pronunciamento.
— Um dos momentos, em que a raiva pode ser observada, acontece quando ele fala da imprensa e das medidas de prevenção dos estados e municípios. Já o medo é evidenciado quando o presidente fala sobre o grupo de risco, quando fala sobre as pessoas acima de 60 anos idade.
Além disso, a linguagem corporal do chefe do Executivo mostra ainda sinais de conflito. O especialista em comunicação não-verbal Damis Nemitz aponta que a postura conflituosa de Bolsonaro para o pronunciamento começou já na introdução.Segundo ele, a introdução contém omissão de informação.
— Ele começa falando quando foi o “sinal amarelo” e já passa direto para o momento de histeria. Esse trecho está conectado pela preposição, “mas”.De acordo com Mark McClish, um dos principais nomes nos estudos de Análise de Declaração, o uso da preposição, “mas” tem a função de refutar o que vem antes, focando atenção em tudo o ue é dito depois da preposição. Ou seja, a intenção é focar no fato de que naquele momento o pânico e a histeria era o que precisava ser contido — explica Netimz.
Segundo o especialista, o presidente utiliza estratégias de discurso para minimizar o impacto do novo coronavírus no Brasil, o que demonstra desprezo.
— O uso de diminutivos, como em ‘gripezinha’ e ‘resfriadinho’ durante o pronunciamento’ gera a intenção de diminuir a intenção de um evento — diz.
Quando Bolsonaro diz “surgiu para nós o sinal amarelo”, a cabeça dele se projeta para frente, num gesto afirmativo. Logo, o presidente após engole seco. “Na sua face podemos perceber um alto nível de adrenalina e estresse. Observe a tensão nos lábios apertados e principalmente no queixo”, diz Camargo.
Quando o chefe do Executivo diz: “assim fizemos, contra tudo e contra todos”. Em três momentos o sentimento de raiva aparece, depois, fecha os olhos e os cantos da boca caem, demonstrando tristeza. Logo após , praticamente durante a mesma frase, o canto direito da boca sobe, sinal clássico de desprezo. “A sequência (raiva, desprezo e tristeza) indica o nível de emocionalidade pelo qual o presidente passa”, avalia Camargo.
Ao falar da imprensa, quando diz “espalharam exatamente a sensação de pavor”, os lábios se afinam, existe pequeno aumento da pupila, o queixo se projeta para frente de maneira tensa. Como a parte da frente da mandíbula está mais apertada a raiva tende a ser maior e isto facilita e amplia a tensão.
O aperto da mandíbula é um sinal altamente confiável da linguagem corporal que indica raiva. A contração dos lábios indica que o subconsciente tenta impedir a exibição externa de emoções. “Este controle é exatamente o que o Presidente tenta realizar neste momento”, aponta Camargo.
Posteriormente coloca a língua para fora, evidenciando um alto nível de adrenalina. “Apesar disso, Bolsonaro mostra uma capacidade de controlar a raiva e a tensão quando pronuncia o discurso”, diz Camargo.
Quando Bolsonaro fala sobre o trabalho da imprensa nos últimos dias e elogia o desempenho do trabalho realizado, sua cabeça se projeta para frente várias vezes. “O gesto é congruente com a afirmação, fala a verdade”, explica Camargo.
Quando Bolsonaro menciona as medidas preventivas adotadas por governadores e prefeitos falando no conceito de “terra arrasada”, o presidente volta a mostrar as micro expressões de raiva e desprezo. “Elas ocorrem em menos de ¼ de segundo’, explica Camargo.

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