sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

147 golpistas no Congresso americano

 8 de janeiro de 2021
147 golpistas no Congresso americano

As lamentáveis cenas da invasão ao Congresso americano chocaram o mundo porque expuseram de maneira crua como o ódio semeado pelo presidente corroeu aquela que já foi a maior democracia global. 

A turba, que transformou o prédio do Capitólio em cenário de filme de terror e palco de pelo menos quatro mortes, fora incitada minutos antes pelo presidente Donald Trump durante a “Marcha para Salvar a América”, diante da Casa Branca, onde exortou milhares de pessoas (muitas delas armadas) a irem para cima do Congresso para “parar este roubo”: “Nós estamos aqui reunidos no coração do capitólio por um motivo muito básico e muito simples, para salvar a nossa democracia”.

“Faremos história”, disse. “Vamos ver se temos ou não líderes grandes e corajosos, ou se temos líderes que deveriam se envergonhar de si mesmos”

Finalizou: “Nós vamos ao Capitólio para dar aos nossos republicanos, os fracos, o orgulho e coragem que eles precisam para retomar o nosso país”. 

Mais revelador é o fato de que oito senadores e 139 deputados do partido republicano votaram contra o reconhecimento da eleição de Joe Biden na Pensilvânia e no Arizona. Isso representa 27,4% do total de representantes do povo americano – mais que um em cada quatro – e a maioria dos republicanos na Câmara. Numa sessão que durou até as 3 da manhã, demonstraram seu desprezo pelo voto popular e sua determinação em ir até onde fosse preciso para permanecer no poder. 

Ainda antes da invasão, à pergunta se a contagem dos votos do Arizona foram regulares e autênticos, o deputado Paul Gosar respondeu: “eu me levanto em meu nome e em nome de 60 colegas para me opor à contagem dos votos do Arizona”. Nervoso, gaguejou. Imediatamente, dezenas de republicanos aplaudiram, levantando-se de seus assentos. É uma cena de dar arrepios

Se alguém tinha alguma dúvida, eis a prova que Trump não estava sozinho na sua tentativa de golpe, que atingiu o ápice ontem, mas vem sendo costurada com falsas palavras e claros gestos desde pelo menos a derrota eleitoral.  

Por aqui, Bolsonaro já deu a letra à sua militância: “se tivermos o voto eletrônico em 2022, vai ser a mesma coisa. A fraude existe”. Até agora, quem achou que poderia se ver livre de Bolsonaro, como Sergio Moro, foi estraçalhado. E não custa lembrar, como fez nosso editor Bruno Fonseca, a mensagem claríssima que o presidente deu aos seus ministros durante a famigerada reunião de abril do ano passado: 

“Por isso que eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme!” 

“Se tivesse armado, ia pra rua.”

Só nos resta esperar que as cenas dos congressistas americanos fugindo, assustados, da turba enfurecida, traga pesadelos aos nossos deputados, como Rodrigo Maia, que ficou sentado sobre 54 pedidos de impeachment diante de um desfile de crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro.

Natalia Viana, cofundadora da Agência Pública

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O que você perdeu na semana


Bolsonaristas e a invasão ao Capitólio. Com 1,17 milhão de assinantes no YouTube e quase 500 mil seguidores no Twitter, o Terça Livre é hoje uma das referências do pensamento conservador nas redes sociais do Brasil. Neste texto, o repórter Fábio Zanini relata como foi acompanhar a repercussão da invasão ao Congresso americano entre bolsonaristas: "Foi como viver num universo paralelo, em que a direita era a vítima, arruaceiros eram manifestantes pró-democracia e o presidente derrotado nas urnas se comportava como um pacifista."

Machismo nos eSports. Mulheres muito jovens — entre elas, menores de idade — foram às redes sociais na última terça-feira (5) para denunciar diversas violências de gênero, entre elas abusos sexuais e agressões, que teriam sido cometidas por pelo menos cinco jogadores profissionais de videogame e conhecidos no mundo do esporte eletrônico. Depois dos relatos, alguns nomes foram afastados de suas equipes, como é o caso de Guilherme "Kake" Morais, que representava o Flamengo eSports. 

Combate à violência contra a mulher na pandemia. Relatório do Banco Mundial mostra que vários países adotaram ferramentas tecnológicas como parte das medidas para fortalecer os sistemas de resposta e apoio às mulheres em situação de violência durante a pandemia de Covid-19. 

Últimas do site
 
Rede de desinformação no YouTube do presidente. Levantamento mostra que canal do presidente Jair Bolsonaro no YouTube leva usuários a vídeos de apoiadores que disseminam desinformação sobre a pandemia do novo coronavírus, publicam conteúdos contra as instituições e são investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por associação a atos antidemocráticos. 

Bolsa de reportagem para jornalistas. A Agência Pública em parceria com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) está convocando repórteres de todo o país a propor pautas investigativas sobre acesso à internet no Brasil e as diversas questões relacionadas ao tema, como falta de acesso a dispositivos, franquias de dados limitadas e bloqueio do acesso móvel. São quatro bolsas de R$ 7 mil e as inscrições vão até o dia 5 de fevereiro. 

Os bastidores do maior vazamento do jornalismo. Fundador do WikiLeaks, Julian Assange foi um dos responsáveis por escancarar para o mundo documentos que revelam crimes de guerra do governo dos Estados Unidos. Nossa codiretora, Natalia Viana, colaborou com Assange e conta tudo na newsletter em parceria com o Canal Meio. Os episódios serão enviados para os que se inscreverem, às segundas-feiras. 
Pare para ler
 

Prefeituras indígenas. Segundo dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), oito indígenas venceram as últimas eleições para a prefeitura de seus municípios. A Associação dos Povos Indígenas do Brasil, no entanto, sustenta que seriam dez os prefeitos eleitos. Em relação a 2016, o aumento foi de 27%. “Há essa sensação de maior representatividade, mas antes de 2016 não existiam sequer dados oficiais”, argumenta a socióloga e ativista política Avelin Buniacá Kambiwá. 

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