sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Bolsonaro quer um cheque em branco

 

Bolsonaro quer um cheque em branco


Nesta semana, as redes sociais foram inundadas por memes sobre os R$ 15 milhões gastos em leite condensado pelo poder Executivo federal em 2020, revelados em reportagem do portal Metrópoles sobre as despesas do governo com alimentação. No Twitter, jornalistas discutiram a reportagem, a contextualização dos dados - e a falta dela. Parlamentares formalizaram representações pedindo que o TCU investigue as compras do Executivo. O jornal britânico The Guardian repercutiu a história. O Portal da Transparência ficou horas fora do ar. Segundo a CGU, por conta de um volume de acessos “fora do habitual”. Ontem, o Ministro do órgão disse que os números que estão no Painel de Compras, que basearam a reportagem do Metrópoles, não refletem a realidade.

A grandeza dos números assusta, e as pessoas têm o direito de conhecer e compreender os gastos do poder Executivo. No Twitter, o Inesc - Instituto de Estudos Socioeconômicos - ressaltou a importância de investigar as compras do governo, mas sem perder de vista outros montantes que deveriam causar igual espanto, como os 29 bilhões que sobraram dos recursos separados para o auxílio emergencial em 2020. 

Enquanto cidadãos estarrecidos buscavam o Portal da Transparência para entender os gastos do governo, a Fiquem Sabendo revelou que o Tribunal de Contas da União não vai mais receber denúncias de descumprimento à Lei de Acesso à Informação. Caso a LAI não seja cumprida, será necessário recorrer ao Poder Judiciário para garantir que órgãos públicos cumpram seu dever de serem transparentes - o que torna o processo de conseguir informações mais lento, custoso, difícil e menos transparente.

Em nossa newsletter dos Aliados desta semana - exclusiva para os apoiadores da Pública - o editor Thiago Domenici contou que uma das dificuldades que enfrentamos na produção das reportagens do especial Amazônia Irrespirável, que mostra os efeitos da sobreposição entre a Covid-19 e as queimadas, foi a falta de transparência do governo federal. Apesar da dificuldade para acessar dados do Ministério da Saúde, fundamentais para as reportagens, encontramos outras saídas e investigamos mesmo assim.

Aglomerado em uma churrascaria com diversas pessoas sem máscara, enquanto o país tem 220 mil mortos por Covid-19 e há uma semana registra mais de mil mortes por dia, Jair Bolsonaro falou sobre os gastos com leite condensado em mais uma de suas repugnantes e violentas reações, repleta de ataques à imprensa. A quebra de decoro e os ataques aos jornalistas não são novidade, sabemos bem. Mas é importante que não nos acostumemos com eles. Nem com o profundo descaso do presidente e seu governo com os mais 220 mil mortos por Covid-19. 

Bolsonaro quer um cheque em branco. Quer que, tal qual os aglomerados na churrascaria, assistamos rindo e aplaudindo enquanto o oxigênio falta, as mortes aumentam, o auxílio acaba, a fome volta, a floresta vai abaixo e o governo fica cada vez menos transparente. Mas não vamos pagar essa conta: vamos seguir investigando e denunciando a falta de transparência.

Marina Dias, coordenadora de comunicação da Agência Pública



Pauta Pública.
 Nosso podcast recebe a editora chefe do Portal Drauzio Varella, Mariana Varella, para falar como é produzir jornalismo sobre saúde pública durante a maior pandemia do século, e anuncia o começo de uma grande parceria com a Rádio Guarda-ChuvaOuça agora na sua plataforma de streaming favorita. 

O que você perdeu na semana


Céu das crianças. Organizada pelo Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) e pelo Museu do Índio (MI), a exposição virtual “Os céus dos povos originários” traz 30 imagens e histórias sobre céus e terras, contadas por crianças e adolescentes de idade entre 5 e 15 anos. Os participantes são membros de doze povos indígenas, e que residem em 9 estados brasileiros. Visite aqui.

Covid no Amazonas. A crise de saúde em Manaus continua: segundo a Amazônia Real, fila de pacientes no interior do Amazonas à espera de uma transferência por UTI aérea para Manaus ou outros centros do país só cresce. Ao menos 34 doentes de Covid-19 estavam nessa situação até a última quinta-feira (21). 

Palmito de agrofloresta indígena. Por dar origem ao tipo de palmito mais saboroso, a juçara, árvore nativa da Mata Atlântica, foi consumida no Brasil ao limite da extinção. Para reverter a perda, indígenas Guarani do litoral paulista estão plantando juçaras por meio do sistema agroflorestal  já são mais de 100 mil pés desde 1998. 

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Últimas do site
 
Amazônia Irrespirável. Nova série de reportagens inéditas da Agência Pública mostra como a fumaça das queimadas, que bateram recorde em 2020, contribuíram para o agravamento da pandemia. Em Rondônia, que atualmente está vivendo o colapso do sistema de saúde, mês com mais internações por problemas respiratórios graves foi o segundo com mais queimadas. No Mato Grosso e Pará, a junção de duas tragédias confundiu os profissionais da saúde e a população sobre a origem dos sintomas respiratórios. Já no Acre, estado que mais sofreu com queimadas em 2020, a fumaça deixou a qualidade do ar de municípios do estado muito pior do que a recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em plena pandemia. 

Glifosato no México. Enquanto lobby do agrotóxico impera no Brasil, governo do México decreta a proibição do herbicida Glifosato até o final de 2024. Antes dele, Costa Rica, Uruguai e Argentina já haviam aprovado limitações no uso do produto. No Brasil, o Glifosato é um dos pesticidas que mais matam brasileiros por intoxicação. 

Impeachment de Bolsonaro. Já são 64 pedidos de afastamento de Jair Bolsonaro da Presidência. Esta ferramenta da Agência Pública descomplica o juridiquês e explica os motivos pelos quais o presidente pode sofrer impeachment, reunindo entrevistas exclusivas com os autores dos pedidos. 
Pare para ler
 

Mortes no campo. Neste especial, a Repórter Brasil traz um raio-x inédito da violência no campo e revela a impunidade diante dos 31 sem-terra, indígenas e ambientalistas mortos no primeiro ano do governo Bolsonaro. Passado mais de um ano, ninguém foi condenado e apenas um crime foi considerado encerrado. 

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