O megavazamento de dados de todos os brasileiros vivos e mais 10 milhões de brasileiros que já morreram, revelado na semana passada, chocou muita gente — mas não a mim. Sou Tatiana Dias, Editora Sênior do Intercept e meu trabalho foca especialmente em tecnologia e direitos digitais. Te escrevo hoje para dizer: se eles estão de olho nos seus dados, pode ter certeza, eu e o Intercept estamos de olho neles.
Mas quem são eles? Ainda não se sabe a origem exata dos vazamentos deste mês, mas há tempos nós estamos na cola dos poderosos — sejam governos, megacorporações de tecnologia (as big techs, como Facebook e Google) ou parlamentares que definem a regulação do uso dos seus dados digitais.
Pode parecer um papo paranoico, eu sei. Mas o que aconteceu nesta semana mostrou o que a gente alerta há tempos: estão rifando a sua privacidade, e isso é um problema concreto. Sabe o que pode acontecer? Criminosos podem usar os seus dados para criar contas falsas. Pedir cartão de crédito em seu nome. Fazer compras. Também podem roubar suas contas: terão todos os dados para isso. Mesmo se você tiver autenticação em dois fatores, eles terão o seu celular – que pode ser clonado para que o SMS de confirmação seja interceptado. Também podem aplicar golpes usando suas informações pessoais – eles saberão tudo sobre você e podem ligar se passando por atendente de uma empresa e terão todo o seu histórico para confirmar. Tudo isso sem mencionar o risco que correm pessoas públicas, políticos, ativistas e comunicadores ameaçados. Suas fotos, endereços, salários: está tudo exposto.
Desde 2018, quando entrei para a equipe do TIB, ganhei total liberdade e incentivo para, com minha bagagem de uma década no jornalismo de tecnologia, destrinchar a legislação e denunciar negligências, abusos e violações nessa área. Também desde 2018, ainda no governo Temer, eu venho denunciando e questionando políticas de dados desastrosas.
No governo Bolsonaro, os erros na gestão, na legislação e no controle de dados da população (como em todos os outros setores) pioraram: enquanto a Lei Geral de Proteção de dados foi discutida abertamente por oito anos e três governos até ser aprovada, importantes decretos sobre dados receberam a canetada do atual presidente do dia para a noite e criaram, por exemplo, o Cadastro Base do Cidadão (uma megabase sem precedentes de dados da população) e o Comitê Central de Governança de Dados — que influenciam diretamente a sua vida, aumentando o poder de vigilância desse governo sob o pretexto de garantir segurança.
Você pode confiar no Intercept para denunciar esses casos pelo simples fato de que a gente não tem rabo preso com quem se interessa pelos seus dados. Não é uma frase de efeito: com frequência as big techs reúnem veículos de comunicação no entorno de seus projetos. O Intercept nunca está nessas ondas. Eles sabem que o Intercept é treta. Não queremos ser simpáticos: queremos denunciar abusos e defender seus direitos.
Nós não temos e não queremos parcerias nem patrocínios de big techs, governos, empresas de crédito ou seja lá quem esteja interessado nos seus dados. Nós vamos investigá-los e te explicar com cuidado porque é tão importante você proteger sua privacidade. É essa premissa que mantém nossa independência: não temos o dinheiro deles. E é por isso que precisamos da sua força.
Você já nos apoia para seguirmos denunciando abusos e questionando políticas de dados equivocadas. Obrigada por isso. Você pode nos ajudar ainda mais sem gastar nada, apenas compartilhando nosso link de doação com um amigo ou parente? CONVIDE UM AMIGO →
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