sábado, 20 de março de 2021

Carta Capital

 

O MELHOR DA SEMANA
SÁBADO, 20 DE MARÇO DE 2021

É o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil, diz Fiocruz

Para evitar colapso total do sistema de saúde, pesquisadores defendem a adoção rigorosa de ações de prevenção e controle

 FOTO: EVARISTO SA / AFP

O Brasil registrou, na sexta-feira 19, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), 2.815 mortes por Covid-19 em 24 horas. A média móvel ficou em 2.173.

Com o número, o País ultrapassou os 290 mil óbitos provocados pela doença. Ao todo, são mais de 11 milhões de casos contabilizados.

Em mais uma semana de recordes, a Fundação Oswaldo Cruz divulgou um boletim que constatou: É o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil.

Segundo a Fiocruz, até o início da semana, dos 27 estados, 24 e o Distrito Federal estavam com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 iguais ou superiores a 80%.

Os dados indicam o que especialistas alertam há algum tempo: o risco iminente de colapso do sistema de saúde e funerário do País.

Diante das circunstâncias, a Frente Nacional de Prefeitos enviou ao governo federal, na quinta-feira 18, um ofício em que alerta sobre a possível falta de oxigênio e de medicamentos já nos próximos dias.

“O aumento sem precedentes no número de contaminados com o coronavírus e da demanda por atendimento hospitalar aponta para um cenário potencialmente ainda mais trágico já nos próximos dias: a falta de oxigênio e de medicamentos para sedação de paciente intubados", diz o documento

"Já há registros, de Norte a Sul do País, de escassez e iminente falta desses insumos imprescindíveis para enfrentar à COVID-19”, completa.

No documento, os prefeitos pedem que o Ministério da Saúde reforce a aquisição de remédios e determine o redirecionamento de insumos e produtos.

“Não é razoável que pessoas, cidadãos brasileiros, sejam levados à desesperadora morte por 'afogamento' no seco, ou que sejam amarrados e mantenham a consciência durante o delicado e doloroso processo de intubação e depois na sua longa permanência", afirmam.

Junto aos prefeitos, o Conselho de Farmácia também manifestou "extrema preocupação" com a falta de medicamentos.

O trágico cenário brasileiro, indicam especialistas, caminha para uma solução inevitável: um lockdown nacional, além da vacinação.

“Teríamos que ter um lockdown em um período mínimo de 21 dias para podermos impedir a circulação das pessoas que já estão contaminadas, pois hoje nós temos pessoas que se contaminaram muito recentemente e ainda não desenvolveram os sintomas da doença”, explica a epidemiologia Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em conversa com CartaCapital.

Com a possibilidade, o presidente Jair Bolsonaro entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para derrubar decretos dos governos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul que determinaram restrições de circulação de pessoas.

Na ação, o governo federal pede que o STF confirme que o fechamento de atividades não essenciais durante a pandemia só pode ter por base uma lei aprovada pelo Legislativo, e não decretos de governadores.

Em resposta, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou que Bolsonaro, "além de não ajudar, atrapalha".

“Essa ação é mais uma vez a tentativa dele de mostrar que é aliado do vírus, aliado da morte. Ele vive da crise, do colapso, e como ele é incapaz, incompetente para gerir o país, quer aprofundar ainda mais a crise para tentar polarizar com uma parcela da sociedade”, disse o governador.

O resultado da gestão de Bolsonaro frente à pandemia, além do recorde de mortes, resultou na avaliação de 56% dos brasileiros de que o presidente é incapaz de liderar o País, segundo apontou o Datafolha.

Na mesma pesquisa, constatou-se que Bolsonaro bateu recorde de rejeição por sua atuação na pandemia.

O instituto ainda mostrou que, para 79% dos brasileiros, a pandemia está fora de controle. 

Em São Paulo, na quinta-feira, o prefeito Bruno Covas (PSDB) confirmou a primeira morte na capital por falta de leito de UTI. No estado de SP, na sexta, o número passava de 100.

 

 


 

Um novo ministro e um velho discurso

Bolsonaro muda o titular do Ministério da Saúde, mas mantém o negacionismo

 

 FOTO: FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL

O presidente Jair Bolsonaro resolveu trocar o ministro da Saúde pela quarta vez em um ano de pandemia.

Com poucos brasileiros vacinados e sem a garantia de quando o País atingirá uma meta razoável de imunizações, o novo titular da pasta, Marcelo Queiroga, já afirmou que a "política que seguirá é a do governo, não a do Ministério".

“O governo está trabalhando, as políticas públicas estão sendo colocadas em prática. Pazuello já anunciou todo o cronograma da vacinação em entrevista ontem. A política é do governo Bolsonaro, não é do ministro da saúde. A saúde executa a política do governo”, disse, ao ser questionado sobre mudanças em relação à vacinação.

(Aqui, você fica sabendo mais sobre a trajetória do ministro).

Em seus primeiros discursos, Queiroga disse que lockdown não pode ser política de governo.

“Esse termo de lockdown decorre de situações extremas. São situações extremas em que se aplica. Não pode ser política de governo fazer lockdown. Tem outros aspectos da economia para serem olhados”, afirmou à CNNBrasil.

Para ele, é preciso “assegurar que a atividade econômica continue”. “A gente precisa gerar emprego e renda. Quanto mais eficiente forem as políticas sanitárias, mais rápido vai haver uma retomada da economia”.

O novo ministro ainda não se acomodou na cadeira, mas o Senado Federal pretende convidá-lo para esclarecer medidas contra Covid.

"Vamos articular com o Ministério da Saúde a vinda dele, Mesmo na fase de adaptação, é importante que ele venha mostrar a cara para o Brasil e responder as perguntas dos membros da comissão e demais senadores”, afirmou presidente da Comissão Temporária da Covid-19, Confúcio Moura (MDB), em entrevista a CartaCapital.

Para especialistas consultados, "não dá para esperar nada de Queiroga. O ministro da Saúde é o presidente".


 

CartaCapital é a nova casa de Glenn Greenwald no Brasil

Além de colunista da edição semanal impressa da revista, o jornalista conduzirá entrevistas ao vivo e podcasts

Vencedor de um prêmio Pulitzer e peça-chave em investigações que mudaram o curso da história, o jornalista e escritor Glenn Greenwald tem CartaCapital como nova casa no Brasil.

Além de colunista da edição semanal impressa da revista, Greenwald conduzirá entrevistas e podcasts.

“Quando vim morar no Brasil, uma das primeiras revistas de política que li foi a CartaCapital. Sempre honesta nos seus pontos de vista, com reportagens e análises complexas, profundas, informativas. Com CartaCapital, eu aprendi muito sobre as complexidades da política do Brasil”, comemora o jornalista.

 


 

Filho 04 de Bolsonaro na mira 

MPF apura possível crime de tráfico de influência de Jair Renan

FOTO: AFP

Ministério Público Federal (MPF) instaurou um procedimento preliminar para apurar possíveis crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro envolvendo um grupo empresarial do setor de mineração e Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro.

Jair Renan teria recebido um carro elétrico de representantes da Gramazini Granitos e Mármores Thomazini, avaliado em 90 mil reais, conforme informações divulgadas pelo jornal O Globo.

Um mês após a doação, em outubro do ano passado, a empresa conseguiu agendar um encontro com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, do qual também participou Renan.

Com isso, Marinho virou alvo de requerimento de deputados federais que pedem esclarecimentos.

O grupo de parlamentares cobra, ainda, que o ministro explique à Comissão de Trabalho, Administração e Serviços Públicos os benefícios fiscais concedidos desde 2019 à empresa.

“[Solicita] exposição dos critérios e metodologia para concessão de benefícios fiscais pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, bem como em relação à concessão do benefício fiscal relativo a 75% do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, válido até 2028 à empresa Gramazini Granitos e Mármores Thomazini”, justificam os deputados Rogério Correia (PT-MG), Erica Kokay (PT-DF), Marcon (PT-RS) e Leonardo Monteiro (PT-MG).

 

‘Sócio’ e ex-personal trainer de ’04’ recebe promoção relâmpago no governo do DF

 

Um ex-personal trainer de Jair Renan faturou duas promoções relâmpago no governo do Distrito Federal.

Allan Gustavo Lucena recebia cerca de 3 mil reais como subsecretário Programas e Incentivos Econômicos do DF em 2019. Agora, o ordenado sobe para mais de 12 mil, pois ele foi nomeado Subsecretário de Administração Geral, da Secretaria de Estado de Empreendedorismo do DF.

Por meio de nota, o GDF informou apenas que “os cargos comissionados são de livre provimento. A nomeação e a exoneração são prerrogativas do chefe do Executivo”, mencionando o governador Ibaneis Rocha (MDB).

O provável conflito de interesses levou o deputado distrital Chico Vigilante (PT) a encaminhar na quinta um requerimento ao GDF pedindo esclarecimentos, já que Lucena também acompanhou Jair Renan em reunião com ministros e empresários.

Menos de doze horas depois de protocolado o pedido, o governo do Distrito Federal o exonerou.

Na segunda-feira 15, a Polícia Federal abriu um inquérito para apurar negócios envolvendo Jair Renan.

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