Mais de 500 economistas, banqueiros e empresários do país assinaram e divulgaram carta aberta em que pedem medidas mais eficazes para o combate à pandemia do novo coronavírus. Em um texto com vários dados, o grupo chama a atenção para o atual momento crítico da pandemia e de seus riscos para o país, e também detalha medidas que podem contribuir para aliviar o que consideram um grave cenário. A carta tem a chancela de Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, co-presidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco. Também assinam os ex-ministros Pedro Malan, Marcílio Marques Moreira e Rubens Ricúpero, além dos ex-presidentes do BC Armínio Fraga, Gustavo Loyola, Ilan Goldfajn e Pérsio Arida. Os donos do PIB e seus porta-vozes parecem ter acordado para a dimensão da crise sanitária no país, que ganha as proporções de tragédia humanitária, como define hoje o jornal argentino Página 12.
Uma nova declaração agressiva de Bolsonaro, ontem, entretanto, mostra a disposição do presidente de ignorar os apelos e retomar o enfrentamento com governadores e a classe política e empresarial. "Estão esticando a corda, faço qualquer coisa pelo meu povo", disse em aglomeração no Alvorada, na comemoração do seu aniversário. Ele repetiu que ninguém o tira da Presidência e que população pode contar com as Forças Armadas. "Só Deus me tira da Presidência". E acenou aos extremistas: "Pode ter certeza, o nosso Exército é o verde oliva e é vocês também. Contem com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade".
Na política, a matéria mais importante do dia está no Estadão. O jornal relata que a crise sanitária brasileira abriu caminho para diálogo entre PSDB e PT. Emissários dos dois partidos querem reunir os ex-presidentes Lula e FHC, que apoia a iniciativa. Os governadores Rui Costa e Wellington Dias elogiam Doria. O jornal diz que PT e PSDB selaram uma trégua e estão pela primeira vez alinhados em várias frentes contra Bolsonaro. A principal delas é o Fórum dos Governadores, onde tucanos e petistas têm se apoiado mutuamente e até trocado elogios.
UOL destaca em reportagem publicada agora pela manhã que o namoro de Bolsonaro com o Centrão – tema da revista Época no final de semana – está balançando. O texto de Luciana Amaral diz que a pandemia e Lula levam Centrão a repensar limite de fidelidade a Bolsonaro. "Um dos principais pontos no radar do Centrão hoje é a rejeição crescente da população a Bolsonaro na gestão da crise sanitária, como mostra pesquisa Datafolha", diz o texto.
Na mídia internacional, manchete do New York Times é a chance perdida de países ricos de ajudarem as populações de países pobres a se vacinarem. Segundo o jornal, apesar dos avisos, autoridades americanas e europeias abriram mão da influência que poderia ter garantido o acesso de bilhões de pessoas. Isso corre o risco de prolongar a pandemia. E virou janela de oportunidade para Rússia e China. "O presidente Biden e Ursula von der Leyen, a presidente do ramo executivo da União Europeia, estão relutantes em mudar de rumo", aponta o diário estadunidense, o mais influente do mundo.
"Biden prometeu ajudar uma empresa indiana a produzir cerca de 1 bilhão de doses até o final de 2022 e seu governo doou doses para o México e Canadá. Mas ele deixou claro que seu foco está em casa". Diz o jornal: "A Rússia e a China, enquanto isso, prometeram preencher o vazio como parte de sua diplomacia de vacinas". O vácuo já está sendo ocupado. E a China mantém ofensiva na América Latina.
O chinês Diário do Povo destaca em manchete de primeira página a iniciativa de Xi Jinping de gravar um video ao povo da Colômbia – a pedido do presidente Ivan Duque – tratando da chegada das vacinas chinesas. "Mesmo as montanhas e os mares não podem distanciar as pessoas com aspirações comuns", disse Xi, observando que o vasto Oceano Pacífico não pode impedir a profunda amizade entre o povo chinês e colombiano. O Global Times também deu amplo destaque.
No alemão Sueddeutsche Zeitung, reportagem de Christoph Gurk destaca a ofensiva de Bolsonaro para calar a boca dos críticos. "O Brasil vive seus piores dias desde o início da pandemia. Mas o presidente imita os sofredores da Covid e manda a polícia para cima dos críticos – por exemplo, o astro do YouTube, Felipe Neto", noticia o jornal, lembrando que o jovem influencer, aos 33 anos, conta com 40 milhões de seguidores na plataforma de vídeos e é uma das vozes mais críticas à política do líder da extrema-direita brasileira.
O despacho da Associated Press, que foi replicado em mais de 8 mil sites noticiosos no mundo, mostra a tentativa de Bolsonaro calar os críticos: "Quatro manifestantes foram detidos em Brasília na quinta-feira após chamar Bolsonaro de 'genocida' por lidar com a pandemia do coronavírus e exibir uma charge que retrata o presidente como um nazista. Mas na sexta-feira, a polícia assistiu em silêncio a um protesto de uma hora contra Bolsonaro na capital encenado por cerca de 40 pessoas".
LULA
No Globo, Bela Megale escreve que Lula fará um gesto para se reaproximar dos militares. "Na mensagem, o ex-presidente pretende destacar o tratamento que deu a esse segmento em seu governo, apontar investimentos que fez e salientar que as Forças Armadas são um organismo de Estado, que não podem ser partidarizadas", escreve a colunista. Ela ouve Gleisi Hoffmann: "Lula quer saber o que se passa nas Forças Armadas, quer entender por que alguns setores desse grupo têm tanta resistência e guardam sentimentos rancorosos em relação a ele".
DILMA
Em entrevista a Sonia Racy, no Estadão, a cineasta Anna Muylaert fala do impeachment de Dilma e lembra a crise de 2016, que resultou no golpe à ex-presidenta da República. Ao lembrar das filmagens de Alvorada, documentário sobre a queda do governo de Dilma, Anna lembra da força da ex-presidenta. "Existe quase um embasbacamento com a forma com que ela (Dilma) lidou com a situação. Até onde vimos, a Dilma nunca levou para o pessoal. Ela não teve depressão nem mau humor. Ela olhava quase como uma antropóloga, como uma socióloga, ela dizia 'meu Deus, isso vai ter consequências muito ruins para o país'. Mas nunca a vi ela deprimida ali, em nenhuma circunstância. Acho que esse é o grande trunfo do filme", relata.
LAVA JATO
Sobre o Brasil na imprensa internacional, o Financial Times destaca que o establishment do Brasil contra-ataca a campanha anticorrupção. De acordo com o jornal – a partir de declarações de Deltan Dallagnol – noticia que "o esforço histórico para eliminar a corrupção endêmica foi abandonado e seu legado está sob ameaça". A foto que ilustra a reportagem traz Flávio, que está sendo investigado por corrupção, e o presidente. O jornal relata: "O Brasil corre o risco de regredir décadas em sua luta contra a corrupção se nada for feito para conter a crescente confluência de forças que se opõem aos esforços anticorrupção, advertiu o ex-chefe da investigação do Lava Jato do país".
'EFEITO LULA'
No português Diário de Notícias, reportagem publicada no sábado trata do "efeito Lula" sobre Bolsonaro. "Regresso do antigo presidente transformou Bolsonaro e a oposição", destaca o texto do correspondente João Almeida Moreira: "O presidente passou de negacionista a ex-negacionista. O ministro da Saúde caiu e o decisivo 'Centrão' balança. O pré-candidato Doria já admite não concorrer à presidência, e Boulos fala em desistir da sua candidatura".
TRAGÉDIA HUMANITÁRIA
No argentino Página 12, reportagem aponta Bolsonaro como "responsável pela tragédia humanitária" que vive o Brasil. "Analistas brasileiros já enquadram a conduta do presidente de extrema direita na Lei 2.889, de 1956, que define o crime de genocídio e estabelece penas para ele", destaca o jornal, lembrando que o país está perto de 300 mil mortos. Em artigo, Eric Nepomuceno resume a situação brasileira: "Furacão genocida atinge o Brasil". Ele diz que, em meio à tragédia que produz o maior número de mortes diárias por coronavírus no mundo, "o Brasil vive uma situação inusitada, um retrato perfeito do caos reinante: o governo genocida do líder da extrema-direita Jair Bolsonaro tem dois ministros da saúde".
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