sexta-feira, 5 de março de 2021

Fiquemos em casa

 

Fiquemos em casa


Nesta semana batemos por dois dias seguidos o horrível recorde de mortes por Covid-19 em um dia. Na quarta-feira, foram 1.910 mortos, segundo informações do SUS. Dados da Associação Nacional de Registradores de Pessoas Naturais mostram que 2020 foi o ano em que mais pessoas morreram na história do país. Comparado a 2019, houve um aumento de 8,6% nos óbitos, sendo que até então, essa taxa não havia sido maior que 1,9% entre um ano e outro. 

 

Enquanto isso, a vacinação caminha a passos lentos, e o presidente Jair Bolsonaro segue dando declarações contrárias ao isolamento social. Nesta semana, prefeitos e governadores anunciaram medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19. No Rio de Janeiro, a prefeitura publicou decreto que proibe a permanência em ruas e espaços públicos entre as 23h e 5h. Amanhã o estado de São Paulo entra na fase vermelha, a mais restritiva no plano para conter a Covid-19, o que significa que só atividades essenciais podem funcionar. 

As atividades essenciais em São Paulo, no entanto, incluem o funcionamento de igrejas, desde que sejam tomados todos os cuidados necessários. No início da pandemia, há quase um ano, as igrejas relutaram em fechar, como mostramos nesta reportagem publicada em março de 2020. Como bem lembrou o jornalista Leonardo Sakamoto, há um ano, João Doria pedia compreensão dos líderes religiosos e que eles fizessem seus cultos virtualmente.

Quando anunciou o decreto que definiu as igrejas como atividade essencial na pandemia, no dia 1º de março, Dória falou em “esperança, fé e oração”. Não que esperança, fé e oração não sejam importantes para enfrentarmos esses tempos horríveis; são sim. Mas não deixa de ser lamentável a decisão do governador - que disse ainda nesta semana que “Não se descarta nenhuma medida, desde que elas sejam embasadas pela ciência e pela saúde” - de contrariar os médicos que o aconselham e permitir a abertura de igrejas no momento mais crítico da pandemia.

Na terça-feira, o estado de São Paulo registrou o maior número de mortes por Covid-19 desde o começo da pandemia: 468. Impor medidas restritivas pode ser impopular, mas é fundamental para salvar vidas. Médicos vêm dizendo há tempos que o isolamento social é comprovadamente eficaz para conter a Covid-19. Por que abrir exceções que, ainda com todos os cuidados, geram circulação de pessoas e alguma aglomeração, como é o caso das igrejas? 

Fiquemos em casa. Com esperança, fé, oração, valorizando a ciência e bem atentos ao que está acontecendo, sem nos acostumar com as mortes. Fiquemos em casa.

Marina Dias, coordenadora de Comunicação da Agência Pública 

Pauta Pública. Já ouviu o novo episódio do podcast da Pública? O tema é a ascensão dos militares no governo Bolsonaro. O entrevistado é Fabio Victor, que trabalhou na revista piauí e na Folha de S.Paulo durante 20 anos. Ouça já. 

O que você perdeu na semana


Mineração em terras indígenas. Quase metade dos requerimentos de mineração protocolados na Agência Nacional de Mineração (ANM) em 2020 estão sobre terras indígenas onde há registro na Fundação Nacional do Índio (Funai) de povos isolados, ainda mais vulneráveis a qualquer tipo de doença externa. Além da proliferação de doenças como covid-19 e malária, os garimpos podem contaminar rios e peixes por causa do mercúrio. 

Hidroxicloroquina e o BNDES. A Apsen Farmacêutica, principal fabricante de hidroxicloroquina do Brasil, assinou dois contratos de empréstimo com o BNDES em 2020, no total de R$ 153 milhões, para investir em atividades de pesquisa e ampliar sua capacidade produtiva. O valor é sete vezes maior do que o crédito liberado para a empresa nos 16 anos anteriores. 

Terras à venda na Amazônia. Uma investigação da BBC encontrou no Facebook dezenas de anúncios em que vendedores negociam pedaços da floresta ou áreas recém-desmatadas, que eles não possuem, por valores que chegam à casa dos milhões de reais. 

Últimas do site
 
Bolsonarismo no Telegram. Canais no Telegram são o novo método de bolsonaristas para disseminar suas ideias. Com grupos de até 200 mil pessoas e canais com inscrições ilimitadas, os conteúdos se espalham ainda mais. Preso por ameaçar o Supremo Tribunal Federal (STF) e defender o AI-5, o deputado Daniel Silveira segue tendo seu canal alimentado livremente. 

Professor processado pelo governo. Epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal é alvo de processo na Controladoria-Geral da União (CGU) por críticas ao governo Bolsonaro pela condução da pandemia no Brasil. “Obviamente que nem todas as pessoas que criticam o presidente são processadas. Se houve um processo contra mim, isso significa que as minhas críticas estão incomodando”, afirma em entrevista à Agência Pública. 

Órfãos da Covid-19. Um ano após o início da pandemia, familiares relatam o desafio de criar as crianças e adolescentes que perderam parentes diretos e ficaram órfãos como consequência da Covid-19. Algumas famílias encaram uma perda dupla: mulheres gestantes que morreram com seus bebês pela doença.

Mapa da cloroquina. Documentos obtidos pela Agência Pública via Lei de Acesso à Informação revelam que o Exército Brasileiro fechou R$ 1,5 milhão em contratos sem licitação para produzir cloroquina em 2020. Ao todo, foram fabricados 3,2 milhões de comprimidos, uma quantidade 25 vezes maior que a produção habitual por ano. 
Pare para ler

Xavier informa. Reportagem do UOL TAB acompanhou a rotina de José Jorge Xavier, o homem que passa o dia cobrando autoridades em Salvador, na Bahia. Xavier colhe informações de entrevistas de prefeitos, secretários e vereadores ao Diário Oficial, obtidos por meio do Portal da Transparência ou pela queixa de um conhecido. Se nada for feito, entra em ação. 
Não perca

Bolsonarismo, gênero e religião. No próximo sábado, dia 6 de março, teremos o primeiro dia de uma série de seis debates em comemoração ao aniversário de dez anos da Agência Pública. A mesa sobre bolsonarismo como força política, às 16h30, conta com a presença da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz e o professor de filosofia da Unicamp Marcos Nobre, entrevistados pelo editor e repórter da Pública Thiago Domenici. Às 18h30, a educadora popular e militante LGBTI Amanda Palha conversa com a pastora e teóloga Lusmarina Campos sobre gênero e religião, sob mediação de Andrea DiP, editora e repórter da Pública. Inscreva-se para assistir gratuitamente. 
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