quinta-feira, 22 de abril de 2021

Deu na imprensa

 

No Dia da Terra, 22 de Abril, as atenções da mídia internacional e brasileira estão voltadas para a reunião de Cúpula do Clima – foco das manchetes dos principais jornais nacionais, com nuances nas abordagens. Folha destaca que a Cúpula do Clima testa EUA de Biden e liderança global, enquanto Estadão noticia que o Brasil pedirá verba contra desmate, sem usar bilhões parados – o mesmo prisma usado pelo GloboPaíses levam novas metas à Cúpula do Clima, e Brasil vai pedir dinheiro.

Já o Valor trata do encontro adotando uma perspectiva americana: Revolução energética é saída para o clima, defendem EUA. A edição brasileira do El País mostra o Brasil como o patinho feio do encontro de cúpula realizado pelos EUA: Bolsonaro entra pela porta dos fundos na Cúpula do Clima enquanto sociedade civil cava espaço para diálogo com BidenO Globo traz denúncia forte: O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atuou de forma explícita a favor de madeireiros, diz delegado da PF afastado. Em entrevista, Alexandre Saraiva diz que combate ao desmatamento depende mais de foco e estratégia que de recursos. 

Em artigo publicado na Folha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Gleisi Hoffmann elogiam a iniciativa de Biden da cúpula do clima e reclamam que Brasil, antes protagonista na agenda ambiental, agora é pária. Mas prometem: o país há de voltar ao convívio das nações como atuante na questão ambiental

No artigo, Lula e Gleisi cobram uma iniciativa semelhante para que a humanidade possa enfrentar a pandemia: "A mesma urgência que orienta a cúpula climática é absolutamente necessária para uma tomada comum de responsabilidades frente à pandemia. Está claro que também sobre essa emergência não haverá saídas isoladas; que nenhum país estará a salvo se todos não estiverem protegidos". A íntegra está ao final deste briefing. 

Sobre a posição do Brasil no encontro, o New York Times destaca, com chamada na primeira página, que a promessa repentina de Bolsonaro de proteger a Amazônia foi recebida com ceticismo"A era Biden levou o Brasil a tomar medidas para reparar seu histórico de canalha ambiental – pelo qual está buscando bilhões de dólares da comunidade internacional", relata o jornal. "Sob a supervisão de Bolsonaro, o desmatamento na floresta amazônica, de longe a maior do mundo, atingiu o nível mais alto em mais de uma década". A reportagem está na página A9 e é reproduzida ao final deste briefing.

New York Times coloca peso na cobertura da reunião de cúpula. Informa que Biden comprometerá os EUA a reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa até 2030. E ressalta que a iniciativa proclama o retorno dos Estados Unidos a uma posição de liderança em mudanças climáticas, mas para ser alcançada a meta, terá de haver um rápido declínio no uso de petróleo, gás e carvão por praticamente todos os setores econômicos. 

Em artigo publicado no britânico The Guardian, os ex-ministros Marina Silva e Rubens Ricúpero alertam que os bilhões de Joe Biden não vão impedir o Brasil de destruir a floresta amazônica"Os fundos oferecidos para persuadir o governo ruinoso de Jair Bolsonaro a parar o desmatamento são bem intencionados, mas mal avaliados", apontam. "Nosso alerta se baseia no seguinte fato: o desmatamento na Amazônia brasileira não é resultado de falta de dinheiro, mas conseqüência do descuido deliberado do governo".

Wall Street Journal traz o apelo do Brasil a Biden: paguem-nos para não arrasarmos a Amazonia. "A proposta do presidente Jair Bolsonaro vem no momento em que o Brasil busca o apoio dos EUA para reduzir o desmatamento na maior floresta tropical do mundo", diz a reportagem. 

O espanhol El País também trata do inusitado pedido de dinheiro de Bolsonaro para impedir a destruição da Amazônia. "Sociedade civil alerta os EUA para não confiarem nas promessas do presidente brasileiro de salvar a floresta amazônica em troca de injeções maciças de dinheiro", reporta a correspondente Naiara Galarraga Gortázar. O argentino Clarín diz que Bolsonaro tenta se livrar da imagem de "vilão ambiental""O presidente, defensor da exploração econômica de reservas naturais e terras indígenas, moldou seu discurso desde a posse de Joe Biden e prometeu acabar com o desmatamento ilegal no Brasil até 2030", reporta.

Segundo o WSJBiden vai pedir o corte das emissões de gases de efeito estufa aproximadamente pela metade até 2030, enquanto ele pressiona outras nações a impulsionar esforços de combate à mudança climática. O encontro contará com a participação de Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia. Global Times destaca em manchete principal que a participação de Xi na Cúpula do Clima mostra um "gesto de boa vontade", mas também "um desafio à agenda climática liderada pelos EUA".

Wall Street Journal destaca que Biden exorta outros países a adotarem uma ação climática na Cúpula de Líderes. O presidente defenderá aos líderes mundiais de que os EUA estão comprometidos em reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa na próxima década e planeja desafiar outras nações a tomar medidas para combater a mudança climática. 

Financial Times também destaca que os EUA vão propor corte de emissões de até 50% até o final da década. A meta a ser anunciada é em relação aos níveis de 2005. O jornal diz que Biden vai receber 40 líderes mundiais na Cúpula do Clima. O alemão Sueddeutsche Zeitung aponta Biden, como "o protetor do clima". Seus primeiros três meses no cargo mostraram que o presidente dos EUA leva a sério sua promessa de combater as mudanças climáticas. "Mas se ele pode redimir isso, não depende apenas dele", lembra.  

O britânico The Times diz que Boris Johnson dirá na cúpula dos líderes mundiais que 2021 deve ser o ano em que os países "levarão a sério" o combate às mudanças climáticas. A reunião online foi convocada por Biden, que deve se comprometer a reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa dos EUA até 2030, em comparação com os níveis de 2005. 

O francês Le Monde informa que a Europa está preocupada em preservar sua liderança contra os Estados Unidos na questão climática. Os 27 países-membros e o Parlamento chegaram a um acordo que prevê redução líquida de 55% das suas emissões de gases com efeito de estufa até 2030 em comparação a 1990.


LULA

Jornais informam que o STF decidirá nesta quinta-feira se mantém declaração de parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro e se processos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vão para Brasília ou São Paulo. No GloboMerval Pereira e Malu Gaspar voltam à carga com a pressão contra uma decisão favorável a Lula. 

Merval está indignado: "A suspeição de Moro no caso do triplex do Guarujá criará uma situação esdrúxula: o ex-presidente da empreiteira OAS Léo Pinheiro, que confessou ter dado o apartamento a Lula em troca de benefícios recebidos durante seu governo, será também absolvido, assim como o ex-executivo Agenor Franklin Medeiros, ambos condenados no mesmo processo". Escreve Malu: "Anular processos não apaga a História", lembrando que os casos de corrupção nos governos do PT estão documentados – em notícias de jornais. Ambos não tocam no indefensável: Lula foi condenado sem provas.

Folha tenta explicar o que está acontecendo no caso Lula-Moro, publicando texto de página inteira para noticiar o que está em jogo no julgamento do Supremo sobre os processos do ex-presidente. Se enviados a São Paulo, os processos contra Lula têm futuro incerto, mas podem cair em vara na qual ele já é réu.


PSDB

Folha noticia a disputa interna no PSDB com vistas às eleições presidenciais de 2022. Uma ala tucana quer vender o senador Tasso Jereissati (CE) como o "Biden brasileiro" para a corrida pelo Palácio do Planalto no ano que vem, despertando reação de aliados do governador João Doria, que minimizam. Estadão traz o próprio Dória indignado. O governador reage a campanha por Tasso e resistências no PSDB. Ele tenta intensificar conversas internas para diminuir a oposição a seu nome no próprio partido.


CPI

A pressão contra o governo com a instalação da CPI continua. O Planalto está apreensivo. Segundo O Globoo governo monitora frentes de investigação que vão abastecer CPI da Covid. Compra e o incentivo ao uso de medicamentos sem eficácia e lentidão na resposta ao agravamento da crise em Manaus são alguns dos pontos vistos com apreensão.

O Globo traz o senador Flávio Bolsonaro admitindo que o governo perdeu o timing nas indicações para a CPI. Ele disse que o Palácio do Planalto ainda tem esperança de "virar o jogo", seja por decisão judicial ou pela desistência de nomes já indicados. E também confirmou que as tratativas para um retorno do pai ao PSL foram praticamente inviabilizadas e citou conversas com três partidos.

Na Folha, o senador Otto Alencar (PSD-BA) surge informando que a CPI da Covid não será de condenação de Bolsonaro, mas critica governo no enfrentamento à pandemia e a conduta do presidente. "Que ele [Bolsonaro] pelo menos tivesse essa virtude de reconhecer o seu erro. Essa é uma virtude que só os grandes homens têm. Reconhecer os erros, assumir os erros para não continuar errando nessa orientação que ele, ao longo desse período inteiro, vem dando à população brasileira, estimulando aglomeração, não usar máscara, na época não quis autorizar logo a compra das vacinas", diz.

Na FolhaVinícius Torres Freire escreve que a realidade ruim da fome, do ambiente e do Orçamento testam mentiras de Bolsonaro. "Não será fácil ocultar realidade no preço da comida, no ambiente e do Orçamento", aponta o colunista. "A Cúpula do Clima será o começo do teste do programa de destruição ambiental do governo e mentiras associadas. Bolsonaro não vai conseguir enganar o governo americano, que de resto não está sozinho nisso".

 

COVID

A imprensa internacional começa a repercutir a situação de catástrofe humanitária vivida pela Índia, que agora se tornou o epicentro global da pandemia. A Índia bateu um recorde mundial: é o primeiro país a registrar mais de 300 mil casos de coronavírus em 24 horas. O Financial Times já havia alertado na terça-feira sobre a segunda onda devastadora da Índia: "É muito pior desta vez". NYTimes diz que a Índia é onde a Covid-19 mais cresce no mundo agora.

Na edição desta quinta, o britânico The Guardian destaca: "O sistema entrou em colapso": a descida da Índia ao inferno de Covid. Segundo o diário britânico, muitos acreditavam erroneamente que o país havia derrotado Covid. Agora os hospitais estão ficando sem oxigênio e os corpos estão se acumulando em necrotérios.

"Quase 1,6 milhão de casos foram registrados em uma semana, elevando o total de doentes para mais de 15 milhões", relata o jornal. "No espaço de apenas 12 dias, a taxa de positividade da Covid dobrou para 17%, enquanto em Delhi atingiu 30%. Hospitais em todo o país estão lotados, mas desta vez são predominantemente os jovens ocupando as camas; em Delhi, 65% dos casos têm menos de 40 anos".

O francês Le Monde também traz relatos dramáticos. A capital indiana, como todo o país, está enfrentando uma segunda onda devastadora de Covid-19, com um sistema de saúde completamente entupido. A cepa B.1.617, a variante indiana, está começando a preocupar os cientistas. Em outra reportagem, o jornal diz que Nova Delhi vive um pesadelo e se reconfigurou em face da eclosão da epidemia de Covid-19.


PUTIN

Depois da ameaça, a Rússia lançou hoje exercícios de múltiplas forças em massa na Crimeia anexada. O anúncio partiu do Ministério da Defesa nesta quinta. O aumento de tropas russas perto da Ucrânia é sinal de alarme no Ocidente. A marinha russa, as forças aeroespaciais, as tropas aerotransportadas e as forças de defesa aérea devem realizar ataques aéreos, lançar mísseis de cruzeiro e usar drones durante as manobras de prontidão. Isso acontece 24 horas depois de Putin ameaçar o uso da força.

New York Times repercute o discurso de Vladimir Putin, na quarta, 21, em que se dirigiu à Nação. Ele advertiu sobre uma "linha vermelha" russa, que o ocidente se arrependerá de cruzar. O presidente russo alertou sobre uma resposta "rápida e dura" às ameaças à segurança, em uma mensagem aparentemente dirigida ao presidente Biden e entregue em meio a grandes protestos. 

WSJ também amplia a repercussão da declaração de Putin, que disse: Moscou vai dar uma resposta rápida e dura a qualquer ameaça estrangeira, à medida que a Rússia aumenta sua presença militar na fronteira com a Ucrânia. O português Diário de Notícias também traz o assunto: Putin avisa Ocidente. Provocações à Rússia terão resposta "rápida e dura".


RACISMO

New York Times e Washington Post dão manchete para o esforço do governo e do Congresso dos EUA em rever a legislação de segurança. Post informa que o veredicto pelo assassinato de George Floyd injetou novo ímpeto nos esforços da Casa Branca e do Congresso para revisar as práticas de policiamento, com conversas bipartidárias ganhando velocidade enquanto o presidente Joe Biden se prepara para destacar o assunto em seu discurso para a sessão conjunta do Congresso no próximo semana. Financial Times também destaca o assunto.

 

AS MANCHETES DO DIA

Folha: Cúpula do Clima testa EUA de Biden e liderança global

Estadão: Brasil pedirá verba contra desmate, sem usar bilhões parados

O Globo: Países levam novas metas à Cúpula do Clima, e Brasil vai pedir dinheiro

Valor: Revolução energética é saída para o clima, defendem EUA

El País (Brasil): Bolsonaro entra pela porta dos fundos na Cúpula do Clima enquanto sociedade civil cava espaço para diálogo com Biden

BBC Brasil: "Muito mal explicado por que não compramos as 70 milhões de doses da Pfizer", diz futuro presidente da CPI da Covid

UOL: STF decidirá sobre parcialidade de Moro e destino de ações contra Lula

G1:  Após 3 anos de queda, número de policiais mortos no país cresce 10% em 2020

R7: Auxílio emergencial é pago nesta quinta-feira para 2,44 milhões de beneficiários nascidos em agosto

Luís Nassif: Gilmar Mendes na TVGGN: STF sob pressão, Lava Jato em pratos limpos, ameaça à democracia, aprendizados

Tijolaço: Pazuello não quis contar mortos; Queiroga não quer contar vacinas

Brasil 247: Brasil deve ser protagonista e não pária do clima global, dizem Lula e Gleisi

DCM: Na véspera da Cúpula do Clima, Salles passa a tarde batendo boca com Anitta

Rede Brasil Atual: No ano da pandemia, paulistas 'perderam' um ano de expectativa de vida, mostra pesquisa

Brasil de Fato: Guilherme Boulos é intimado pela Polícia Federal por "ameaçar" Bolsonaro

Ópera Mundi: 'Recuperação da economia depende de forte intervenção estatal', diz Juliane Furno

Vi o Mundo: Pimenta: Estadão mostra inconformismo dos inimigos da justiça com decisão do STF que devolveu os direitos políticos a Lula

Fórum: PT entra com ação no STF para obrigar governo Bolsonaro a adotar medidas de combate à fome

Poder 360: Petrobras tenta retomar valor de mercado anterior à saída de Castello Branco

New York Times: EUA devem examinar como Minneapolis lida com o policiamento

Washington Post: Após o veredicto, nova urgência no Capitólio

WSJ: Pfizer revela vacinas falsas no exterior como picos de demanda

Financial Times: Draghi planeja reconstrução de € 221 bilhões da economia da Itália devastada pela recessão

The Guardian: Negligência com as vítimas de guerra da Comunidade é alimentada pelo racismo, diz relatório

The Times: Chefe de Whitehall teme o acesso de Johnson

Le Monde: Covid. Como aliviar as restrições com sucesso

Libération: Le Pen no Eliseu. O perigo fica mais claro 

El País: Os candidatos culpam os mortos pela Covid

El Mundo: Ayuso resiste com a economia ao assédio da esquerda com o Covid

Clarín: Fernández retrocede e arma um plano de aulas com "presença administrada"

Página 12: "A judicialização das aulas que Larreta fez é irresponsável", diz Trotta

Granma: Díaz-Canel: Cuba mantém sua política de solidariedade e cooperação internacional em benefício de nossos povos

Diário de Notícias: Custos com o desemprego subiram 41% num ano

Público: Estado vai reabilitar 49 museus, monumentos e teatros

Frankfurter Allgemeine Zeitung: Camada no eixo

Süddeutsche Zeitung: O que significa a vacinação Astra-Zeneca para os mais jovens

The Moscow Times: Rússia lança simulações militares em massa de forças múltiplas na Crimeia

Global Times: A participação de Xi na cúpula do clima de Biden mostra um 'gesto de boa vontade', mas também 'um desafio à agenda climática liderada pelos EUA'

Diário do Povo: Verde é ouro.  Xi Jinping inova na luta contra as mudanças climáticas

 
LEITURA RECOMENDADA

Brasil deve ser protagonista e não pária do clima global

País há de voltar ao convívio das nações como atuante na questão ambiental

Luiz Inácio Lula da Silva e Gleisi Hoffmann | Folha

A iniciativa do presidente Joe Biden de reunir a Cúpula de Líderes sobre o Clima é coerente com o primeiro ato de seu governo, que foi o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, encerrando um período de negacionismo científico e de isolacionismo político que ameaçava a todos. São gestos que nos fazem retomar a esperança no diálogo, na razão e no futuro da humanidade.

O Brasil foi até recentemente um dos portadores dessa esperança. Está viva na memória a Conferência de Copenhague, em 2009, onde apresentamos metas voluntárias, ambiciosas e factíveis de redução da emissão de gases. Estão registrados os avanços que realizamos na preservação da Amazônia, no combate ao desmatamento e às queimadas e na geração de energia limpa, quando o governo brasileiro estava realmente comprometido com o ambiente.

Infelizmente, para nós e para o mundo, é bem diferente a situação em que nosso país se encontra hoje e a maneira como é visto pela comunidade internacional. O Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia registrou em março novo recorde no desmatamento, de 216% a mais em relação a março de 2020. É o resultado de uma política de destruição que envergonha os brasileiros e ameaça o planeta; um legado trágico que haveremos de superar pela via da democracia.

O Brasil há de voltar ao convívio das nações como um parceiro atuante na questão ambiental e climática, porque esta é a nossa vocação e porque já mostramos do que somos capazes. Entre 2004 e 2015, por exemplo, reduzimos em 79% o ritmo de desmatamento da Amazônia. Criamos 59 milhões de hectares de áreas de proteção de florestas e dos povos que nelas habitam. Foi o que nos credenciou à cooperação soberana com outros países, como Alemanha e Noruega, no Fundo Amazônia.

Defendemos o princípio da responsabilidade comum e compartilhada em relação ao meio ambiente, mas sempre proporcional aos recursos de cada país. Não se pode cobrar de países excluídos historicamente da acumulação de riqueza, à custa da degradação ambiental, o mesmo preço devido pelos que dela se aproveitaram. Não há que sujeitá-los a pressões econômicas nem abandonar os mais frágeis frente às mudanças.

É de maneira soberana, portanto, que o Brasil poderá e deverá voltar a participar deste esforço comum. Sem transigir com sua responsabilidade nem com o potencial humano, natural, tecnológico e econômico para enfrentar a crise. Dando o exemplo. Como protagonista e não como pária.

A cúpula se realiza num momento especialmente grave, em que a emergência climática e a pandemia de Covid-19 estão diante de nós como um alerta dramático. Tanto o aquecimento global como o surgimento de um vírus novo e mortal são respostas da natureza às agressões continuadas do ser humano. A natureza está nos avisando para mudar —e mudar urgentemente, ou não haverá para nossos filhos e netos o planeta que nossas gerações conheceram.

A mesma urgência que orienta a cúpula climática é absolutamente necessária para uma tomada comum de responsabilidades frente à pandemia. Está claro que também sobre essa emergência não haverá saídas isoladas; que nenhum país estará a salvo se todos não estiverem protegidos.

Infelizmente, também nesse ponto o atual governo do Brasil jamais atuou de maneira responsável. Nosso povo sofre a maior tragédia de sua história, e o país é visto como ameaça global. Isso não nos impede, ao contrário, de renovar o chamado aos líderes mundiais para uma ação comum para tornar os meios de enfrentar a pandemia acessíveis a todos, ricos e pobres.

Vacinas, testes e medicamentos contra a Covid-19 devem ser considerados bens da humanidade. Os trilhões que salvaram o sistema financeiro na crise iniciada em 2008 devem agora salvar vidas humanas. E o FMI não pode exigir mais sacrifícios de países que enfrentam a crise com recursos limitados.

Mobilizações como esta cúpula reacendem nossa fé no futuro e no aprofundamento do diálogo democrático, em direção da paz e da igualdade entre os povos.

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/04/brasil-deve-ser-protagonista-e-nao-paria-do-clima-global.shtml

 

 

A promessa repentina de Bolsonaro de proteger a Amazônia foi recebida com ceticismo

A era Biden levou o Brasil a tomar medidas para reparar seu histórico de canalha ambiental – pelo qual está buscando bilhões de dólares da comunidade internacional

De Manuela Andreoni e Ernesto Londoño

RIO DE JANEIRO – Enquanto o governo Biden reúne a comunidade internacional para conter o aquecimento global em uma cúpula sobre mudança climática nesta semana, o Brasil se compromete a desempenhar um papel crítico, chegando ao ponto de prometer acabar com o desmatamento ilegal até 2030.

Há um problema: o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, quer que a comunidade internacional prometa bilhões de dólares para pagar pelas iniciativas de conservação.

E os doadores estão relutantes em fornecer o dinheiro, já que o Brasil sob a administração Bolsonaro tem se ocupado fazendo o oposto da conservação, destruindo o sistema de proteção ambiental do país, minando os direitos indígenas e defendendo as indústrias que impulsionam a destruição da floresta tropical.

"Ele quer dinheiro novo sem restrições reais", disse Marcio Astrini, que dirige o Observatório do Clima, uma organização de proteção ambiental no Brasil. "Este não é um governo confiável: não na democracia, não no coronavírus e muito menos na Amazônia."

Por dois anos, Bolsonaro pareceu incomodado com sua reputação de vilão ambiental.

Sob a supervisão de Bolsonaro , o desmatamento na floresta amazônica, de longe a maior do mundo, atingiu o nível mais alto em mais de uma década. A destruição, que foi impulsionada por madeireiros limpando terras para pastagem de gado e para operações de mineração ilegais, gerou indignação global em 2019, quando enormes incêndios florestais ocorreram por semanas.

O governo Trump fez vista grossa ao histórico ambiental do Brasil no governo de Bolsonaro, um aliado próximo do ex-presidente americano.

Depois que a Casa Branca mudou de mãos em janeiro, os Estados Unidos começaram a pressionar o Brasil para conter o desmatamento, juntando-se à União Europeia, Noruega e outros para alertar que a piora de sua reputação prejudica o potencial econômico do país.

"Queremos resultados concretos", disse Todd Chapman, embaixador dos Estados Unidos no Brasil, a um grupo de líderes empresariais brasileiros no início deste mês. "Madeireiros e mineradores ilegais, toda essa atividade ilegal, por que você quer pagar a conta disso?"

Logo após a posse do presidente Biden, altos funcionários de seu governo começaram a se reunir com o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, em um esforço para buscar um terreno comum antes da reunião climática deste mês.

As reuniões a portas fechadas foram vistas com apreensão pelos ambientalistas, que desconfiam profundamente do governo Bolsonaro. As negociações geraram campanhas frenéticas de ativistas que pretendem alertar as autoridades americanas para não confiarem no governo brasileiro.

Os americanos também precisavam acalmar as penas que haviam se agitado durante a campanha presidencial. Depois que Biden declarou durante um debate que buscaria arrecadar US $ 20 bilhões para salvar a Amazônia, Bolsonaro se irritou, chamando isso de uma "ameaça covarde contra nossa integridade territorial e econômica".

Mesmo assim, o presidente brasileiro adotou um tom muito mais conciliatório em uma carta de sete páginas que enviou a Biden no início deste mês.

"Temos diante de nós um grande desafio com o aumento das taxas de desmatamento na Amazônia", escreveu Bolsonaro na carta de 14 de abril, que argumenta que a reputação do Brasil como malfeitor ambiental é imerecida.

Enfrentar esse desafio, acrescentou o líder brasileiro, exigirá um "investimento maciço".

Para começar, disse Salles em uma entrevista em março, o governo ficaria feliz em receber os US $ 20 bilhões propostos por Biden, considerando a soma "proporcional aos desafios que temos na Amazônia".

Se a comunidade internacional se manifestar, disse Salles, "vamos alinhar uma série de ações que podem trazer resultados rápidos".

O novo compromisso do Sr. Bolsonaro de lutar contra o desmatamento - o que efetivamente restabelece um compromisso do governo brasileiro que seu governo havia abandonado - também ocorre quando seu governo é assolado por uma crise econômica e de saúde cada vez mais profunda devido à pandemia Covid-19, que continua matando milhares dos brasileiros a cada dia.

A reviravolta e a demanda por dinheiro à vista foram recebidas com ceticismo entre diplomatas estrangeiros no Brasil e ambientalistas, que argumentam que o único déficit real do Brasil é de vontade política.

Diplomatas europeus e britânicos vêm trabalhando há meses para pressionar o governo Bolsonaro a se comprometer com a proteção do meio ambiente antes da cúpula do clima das Nações Unidas em novembro.

Suely Araújo, ex-chefe do Ibama, principal agência de proteção ambiental do Brasil, disse que o governo tem acesso a centenas de milhões de dólares que poderiam ser gastos em esforços de conservação em curto prazo.

Eles incluem um fundo para os esforços de proteção da Amazônia que a Noruega e a Alemanha congelaram em 2019 depois que o governo de Bolsonaro criticou alguns dos projetos e desmontou as salvaguardas para garantir que o dinheiro fosse usado de forma eficaz.

"A ousadia do governo em pedir recursos no exterior é gritante", disse Araújo. "Por que ele não usa o dinheiro que está aí?"

Organizações ambientais e indígenas expressaram profundo ceticismo sobre a declarada disposição de Bolsonaro de lutar contra o desmatamento e alertaram os doadores internacionais para se absterem de dar ao governo brasileiro dinheiro que temem ser usado para minar a proteção ambiental.

Nas últimas semanas, ambientalistas deram o alarme e celebridades - incluindo o cantor brasileiro Caetano Veloso e o ator americano Leonardo DiCaprio - assinaram uma carta que transmitia "profunda preocupação" com as negociações.

Não há sinais de que o governo Biden esteja considerando se oferecer para financiar os esforços de desmatamento em uma escala significativa, o que exigiria o apoio do Congresso.

Jen Psaki, a secretária de imprensa da Casa Branca, disse na semana passada que os Estados Unidos não esperam anunciar um acordo bilateral com o Brasil na cúpula do clima desta semana.

"Queremos ver um compromisso claro para acabar com o desmatamento ilegal, medidas tangíveis para aumentar a fiscalização efetiva do desmatamento ilegal e um sinal político de que o desmatamento ilegal e a invasão não serão tolerados" , disse ela a repórteres na semana passada.

A Sra. Psaki acrescentou que os Estados Unidos acreditam que é "realista para o Brasil atingir uma redução real no desmatamento até o final da temporada de incêndios de 2021" na Amazônia, que normalmente começa por volta de agosto.

Especialistas dizem que há poucos motivos para otimismo.

O plano de orçamento anual que o governo Bolsonaro recentemente apresentou ao Congresso inclui o menor nível de financiamento para agências ambientais em duas décadas, de acordo com uma análise do Observatório do Clima.

Depois que o vice-presidente do país, Hamilton Mourão, anunciou a primeira meta do governo para a redução do desmatamento no início deste mês, especialistas apontaram que atingir a meta deixaria o Brasil até o final de 2022 com um nível de desmatamento 16 por cento superior ao de Bolsonaro herdado em 2019.

O governo Bolsonaro está apoiando um projeto de lei que daria anistia aos grileiros, uma medida que abriria uma área da Amazônia pelo menos do tamanho da França para um desenvolvimento amplamente não regulamentado. Outra iniciativa que está pressionando no Congresso facilitaria a obtenção de licenças ambientais por empresas e abriria caminho para operações de mineração legais em territórios indígenas.

E existe uma profunda desconfiança em relação ao Sr. Salles entre ambientalistas e funcionários públicos no campo. Um oficial sênior da polícia federal na Amazônia acusou recentemente o ministro de obstruir uma operação de aplicação da lei contra madeireiros ilegais.

Os líderes do setor privado estão entre os mais preocupados com o desempenho do governo em relação ao meio ambiente. Embora a China compre quase um terço das exportações do Brasil, os americanos são investidores cruciais em empresas cujas cadeias de abastecimento são vulneráveis ao desmatamento.

Em carta aberta, os chefes de dezenas de grandes empresas brasileiras, incluindo o frigorífico JBS e o banco Itaú, instaram o governo a estabelecer metas mais ambiciosas de redução das emissões de carbono.

"Qualquer trabalho que reduza o desmatamento ilegal beneficia a iniciativa privada", disse Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, que estava entre os signatários. "O que temo é um boicote do mercado."

Essa é uma perspectiva que Chapman, o embaixador americano, ressaltou.

"Se as coisas não vão bem, não se trata do que acontece com o governo americano, mas do que acontece com o mundo", disse. "Muitas empresas nos Estados Unidos agora, seus acionistas estão exigindo uma respost

 
 
FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO
Rua Francisco Cruz, 234 - Vila Mariana - CEP 04117-091 - São Paulo - SP - Brasil
Fone: (11) 5571-4299 - Fax (11) 5573-3338
Agência FPA: Imprensa - imprensa@fpabramo.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário