sábado, 8 de maio de 2021

Carta Capital

 

A CPI avança de um lado e Bolsonaro se revolta do outro

Depoimentos de Mandetta e Teich apontam para o presidente como o principal responsável pela tragédia

FOTO: EVARISTO SÁ/AFP

Os caminhos percorridos na primeira semana de depoimentos na CPI da Covid, no Senado Federal, apontam para a participação efetiva do presidente Jair Bolsonaro na tragédia que vitimou mais de 400 mil pessoas no Brasil.

A conclusão é compartilhada entre senadores que compõem a Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as ações e omissões do governo federal durante pandemia do novo coronavírus.

Para Alessandro Vieira (Cidadania-SE), as revelações dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich mostram o presidente como o maior responsável pela crise sanitária que o Brasil enfrenta.

"Os depoimentos foram positivos, no sentido de delimitar a cadeia de comando, apontando Bolsonaro como diretamente responsável por escolhas como o investimento em cloroquina e o desestímulo às medidas de restrição", disse o senador em conversa com CartaCapital.

Já Humberto Costa (PT-PE) avalia que "Mandetta corroborou com a tese de que o presidente adotou uma linha de favorecer o contágio geral da população para fazer o País chegar a uma imunidade de rebanho, com todas as consequências disso".

Na terça-feira 4, o primeiro ministro da Saúde do governo Bolsonaro afirmou que o presidente levava em conta conselhos dados por seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro.

Ele ainda confirmou que a recomendação de cloroquina para tratamento de infecção por coronavírus “não passou pelo Ministério da Saúde” e foi feita “à margem” da pasta.

“A cloroquina é uma droga com margem de segurança estreita para uso indiscriminado e sem monitoramento. Ela não é um medicamento que ‘se bem não faz, mal não faz’. É um medicamento que tem uma série de reações adversas”, disse.

“O automedicamento com cloroquina e com outros medicamentos poderia ser muito perigosa para as pessoas”, acrescentou.

Na quarta-feira 5, foi a vez de Nelson Teich dizer que o motivo para o seu pedido de demissão foi a insistência de Bolsonaro com a cloroquina.

“O problema pontual era a questão da cloroquina”, declarou. “Sem liberdade para conduzir o ministério de acordo com as minhas convicções, optei por deixar o cargo”.

Ainda na semana, na quinta-feira 6, foi a vez do atual ministro Marcelo Queiroga ser submetido às perguntas dos senadores.

O titular da pasta se recusou a responder sua posição sobre o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para a Covid-19.

"Os depoimentos foram além das expectativas", disse o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que é o relator da CPI, a CartaCapital.

A afirmação de Calheiros não encontra eco no Palácio do Planalto. A reação de Bolsonaro foi com o que ele tem feito de melhor nesses anos de mandato: bravatas.

Na sexta-feira 7, o presidente voltou a ameaçar a edição de um decreto para impedir que prefeitos e governadores adotem medidas de distanciamento social.

Bolsonaro ainda pediu que os “inquisidores da CPI”, em uma referência aos senadores da Comissão, não “encham o saco” de quem optou pelo uso de medicamentos sem eficácia para tratar a infecção por coronavírus.

As expectativas agora voltam-se para o depoimento do general Eduardo Pazuello, ex-ministro que por mais tempo comandou a pasta da Saúde no governo Bolsonaro.

A oitiva estava marcada originalmente para quarta-feira, mas ele alegou que teve contado com dois servidores que testaram positivo para Covid-19.

O motivo que o impediu de comparecer à CPI não foi levado em conta quando se encontrou com Onyx Lorenzoni (DEM), Secretário-Geral da Presidência.

O vice-presidente da Comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que, se Pazuello tentou “fugir” da CPI, “essa foi a pior das estratégias”. Pazuello, de qualquer forma, será ouvido no próximo dia 19.

Os primeiros depoimentos complicaram o governo e Bolsonaro sabe o estrago que as revelações de Pazuello podem causar. 

O general não é o único que os senadores ainda querem ouvir.

 
 
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A chacina no Rio e um retrato do Brasil

As redes sociais se inundaram de imagens vindas diretamente de uma guerra que, em pleno 2021, encheu de marcas de sangue as casas e ruas

FOTOS:  MAURO PIMENTEL/AFP 

segunda maior chacina do Rio de Janeiro teve início ainda na manhã da quinta-feira 6, na comunidade do Jacarezinho, zona norte da capital fluminense.

Conforme passava o dia, as redes sociais se inundaram de imagens vindas diretamente de uma guerra que, em pleno 2021, encheu de marcas de sangue as casas, ruas e vidas dos moradores da comunidade.

A operação da Polícia Civil que culminou na matança foi defendida como um “trabalho de inteligência e investigação” que, para a corporação, resultou na execução apenas do policial André Farias, morto com um tiro na cabeça.

Os outros 27 anônimos, segundo eles, eram todos criminosos. Apesar do número de mortos ter sido atualizado de 25 para 28 no fim da sexta-feira, ainda não há detalhes sobre quem eram as vítimas.

"O que ocorreu hoje foi uma prova cabal de que não há Estado Democrático de Direito nos territórios das favelas no Rio de Janeiro", relatou Joel Luiz Costa, membro do Conselho de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, em suas redes sociais.

Entre as fortes imagens postadas pelo advogado, está a de um homem morto sentado em uma cadeira de plástico.

A repercussão foi imediata. Parlamentares e a Defensoria Pública protocolaram pedidos de investigação sobre a violência policial contra moradores da favela do Jacarezinho.

Eles afirmam que a operação realizada pela Polícia Civil contraria a decisão do Supremo Tribunal Federal que, em 2020, determinou a restrição das operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro. 

Em um documento enviado ao Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o ministro Edson Fachin, do STF, afirmou que "há indícios de atos que, em tese, poderiam configurar execução arbitrária"

Organização das Nações Unidas afirmou, por meio do Alto Comissariado para Direitos Humanos, estar “profundamente preocupada” com os relatos recebidos.

“Pedimos ao Ministério Público que conduza uma investigação independente e imparcial sobre o assunto, seguindo as normas internacionais”, acrescentou o porta-voz da ONU, Rupert Colville, em entrevista coletiva concedida em Genebra.

Apesar do clima de consternação, também não faltaram figuras públicas a elogiar o saldo final das mortes. “Não surpreende ver deputados do PSOL defendendo bandido enquanto policial tomba em serviço”, escreveu Eduardo Bolsonaro em suas redes sociais.

Já o vice-presidente Hamilton Mourão cravou, mesmo sem saber do perfil das vítimas, que elas eram todas bandidas.

É um retrato do Brasil

 


 

 
 
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