sexta-feira, 23 de julho de 2021

A cara feia do golpe

 

A cara feia do golpe

 

A questão não é mais se Bolsonaro quer e dará o golpe - se puder. O que queremos saber é até que ponto o Exército está nessa aventura. A reportagem de Vera Rosa e Andreza Matais no Estadão, jornalistas com larga experiência na cobertura política, mostra que não se trata apenas dos golpistas do Planalto. Os chefes militares do Exército, da Aeronáutica e da Marinha estavam com o general Braga Netto quando ele mandou o aviso ameaçador ao presidente da Câmara, Arthur Lira: sem a aprovação do voto impresso não haveria eleições em 2022.

Na nota pífia em que tentou desmentir a reportagem do Estadão, o general Braga Netto voltou a insistir no “voto eletrônico auditável”, o subterfúgio de Bolsonaro para fraudar as eleições. O ministro da Defesa já havia feito ameaças anteriormente ao Parlamento, então ao presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz, que lamentou o envolvimento de “membros do lado podre das Forças Armadas” “com falcatrua dentro do governo”, referindo-se aos coronéis que lideraram a “vacinação paralela”, enquanto morríamos esperando pela verdadeira. 

Para além do grande número de militares encastelados no governo e dos privilégios concedidos aos integrantes da Forças Armadas, não temos uma medida clara da infiltração das teses golpistas entre o conjunto dos militares - nem podemos prever até que ponto as tropas se uniriam às polícias militares, infiltradas pelas milícias, em um eventual ataque frontal à democracia. Há ligações preocupantes para além dos conhecidos laços de polícias e milícias com a família Bolsonaro. Não podemos esquecer que o advogado do general Pazuello na CPI, conhecido por atuar em defesa de milicianos do Rio, também foi por ele nomeado “assessor especial” do Ministério da Saúde, e participou das negociações da Pfizer.

O desmonte da Polícia Federal e de outras estruturas de fiscalização, a cooptação irrestrita da PGR, os ataques ao STF, as ameaças ao Parlamento, a perseguição à imprensa, a espionagem aos movimentos sociais e organizações civis, além do comportamento subversivo da PM em Pernambuco e no Ceará, para ficar nos exemplos mais gritantes, deixam claro que o cenário para o golpe está sendo cuidadosamente preparado enquanto o crime organizado toma conta das instituições. 

Ontem, uma reportagem de Fabiano Maisonnave, na Folha, revelou que um coordenador da Funai, o tenente-coronel do Exército Henry Charlles Lima da Silva, aconselhou líderes do povo Marubo a disparar contra indígenas isolados caso sejam “importunados” por eles. 

Não apenas o golpe, mas o genocídio está em curso, sem reação proporcional da sociedade.

Registro nossa solidariedade às agências Repórter Brasil e Amazônia Real pelo recente episódio de censura durante a publicação do especial sobre o ouro roubado das terras indígenas. Também expresso nossa satisfação pela vitória da justiça no caso da jornalista Patrícia Campos Mello com a quarta condenação - essa do deputado bolsonarista André Fernandes - por ofensas sexuais.


Marina Amaral, diretora executiva da Agência Pública 

PODCAST AMAZÕNIA SEM LEI.  O segundo episódio do podcast Amazônia sem Lei mergulha no funcionamento do mercado financeiro para contar a história de uma empresa agrícola que está sob suspeita. Por semanas a Agência Pública se debruçou sobre relatórios do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e registros imobiliários para entender: qual o contexto que envolve as negociações de agentes estrangeiros no Cerrado? Ouça agora.

O que você perdeu na semana

 

Nova investida contra aborto. Reportagem da Folha mostra que o presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao Congresso Nacional projeto de lei para criar o "dia nacional do nascituro e de conscientização sobre os riscos do aborto", em aceno à sua base ideológica.

Contaminação em massa. Grupo de senadores que participam da CPI da Covid acredita que a comissão já conseguiu provar que Bolsonaro buscou a contaminação em massa de brasileiros com a Covid-19. Para eles, a investigação sobre esse ponto já está encerrada e deve ser destacada no relatório final. É o que revela o repórter Rubens Valente.

1 órfão por Covid a cada 5 minutos. 113 mil crianças e adolescentes brasileiros perderam o pai, a mãe ou ambos para a Covid-19 entre março de 2020 e abril de 2021. Se consideradas as crianças e adolescentes que tinham como principal cuidador os avós/avôs, esse número salta para 130 mil no país. A BBC Brasil conversou com pesquisadores que coordenaram o estudo, publicado no periódico Lancet. Em março, a Pública contou as histórias de algumas famílias de órfãos da Covid-19.

 

Últimas do site
 

A tragédia de Dalva, presa ao ganhar uma cadeira de rodas para a filha
Dona de casa, negra, analfabeta e sem antecedentes criminais, Dalva foi presa por receber a doação de uma cadeira de rodas motorizada para a filha de 19 anos, que teve perda total do movimento das pernas. Dona Dalva foi acusada sem provas de integrar quadrilha que aplicava golpes na internet. Após três anos do caso, ela ainda é investigada e sua filha, que nem chegou a utilizar o objeto levado como prova do “crime”, segue sem uma cadeira de rodas.
Saiba mais ->


Mesmo com crise na saúde, pauta antiaborto avança de maneira acelerada no Congresso 
A agenda antiaborto e antidireitos reprodutivos continua avançando no Congresso com apoio de membros ultraconservadores do Executivo. Treze dos vinte e três projetos de lei sobre aborto apresentados em 2020 eram desfavoráveis aos direitos das mulheres. Contrariando dados e especialistas, secretário afirma que o aborto inseguro não é “o que mata as mulheres”.
Ler reportagem->


“A Amazônia está morrendo” e o Brasil é o principal culpado, diz cientista do Inpe 
Pesquisadora do Inpe, Luciana Gatti coordenou estudo publicado pela revista Nature que mostra que a Amazônia agora já emite mais gás carbônico do que consegue absorver, o que pode acentuar a crise climática. O Brasil, que detém 60% da floresta e compartilha com outros oito países, é o que pior cuida do bioma, aponta Gatti em entrevista à Pública.
Ler entrevista ->



NSA financia acampamento de férias para jovens que falam português
Órgão de espionagem dos Estados Unidos denunciada por Snowden, a Agência de Segurança Nacional (NSA), junto a universidades, está treinando jovens de 12 a 18 anos que falam português para dar o primeiro passo a caminho de se tornarem “guerreiros cibernéticos”.
Ler agora ->

 

Pare para ler
 

Com Amazônia mais seca, indígenas adaptam técnicas ancestrais de plantio. Desde sempre, os povos indígenas utilizam os sinais da natureza para guiar o seu modo de vida. Através deles, determinam o melhor momento para fazer o plantio de alimentos. No entanto, por conta das mudanças climáticas, tudo está diferente. Secas mais longas têm levado alimentos que são a base da alimentação indígena, como a batata-doce e o amendoim, a não prosperar.
Ler agora ->

Nenhum comentário:

Postar um comentário