Vamos congelar Bolsonaro
Vamos deixar Jair Bolsonaro congelado na foto em seu leito hospitalar. O corpo em martírio, mais uma vez exposto nas redes sociais, não pode comover os brasileiros que ouviram suas piadas desdenhosas em relação aos mais de 537 mil mortos e a tantos outros que sofreram com a falta de vacinas, medicamentos e oxigênio por incúria do próprio governo.
Desta vez quero focar em uma boa notícia, um exemplo de política pública simples e com grande impacto, que talvez não tenha recebido a devida atenção no país paralisado entre a picaretagem e a caserna. E, apesar dos méritos da CPI, não adianta depositar nossas esperanças no Congresso. A aprovação do fundo partidário de quase 6 bilhões de reais para eleições de 2022 (o triplo do destinado às últimas eleições), em plena pandemia, enquanto quase 130 pedidos de impeachment são simplesmente ignorados pelo presidente da Câmara mostra que são bem poucos os que estão ao lado dos cidadãos brasileiros.
Mas vamos à boa notícia. Em São Paulo, um dos pólos da violência policial racista, a letalidade da PM atingiu, em junho, o menor nível desde 2013. Caiu 54% em relação ao mês anterior. O motivo: a utilização de câmeras grava-tudo, acopladas ao uniforme, que não podem ser desligadas pelo policial. Nos 18 batalhões onde foram usadas, incluindo a Rota, simplesmente não houve “mortes em confronto”.
Isso mesmo. Ninguém morreu pelas mãos de policiais que tiveram suas ações gravadas ininterruptamente; nem ocorreram lesões corporais provocadas por disparos de arma de fogo.
O que nos leva a uma conclusão inequívoca: se quando estão sendo monitorados os agentes têm que agir dentro da lei e então não há ocorrências letais, logo a maioria das mortes provocadas por policiais se devem a ilegalidades e são, além de criminosas, evitáveis.
Diante dos fatos, porém, o comando da PM tergiversou. Em vez de comemorar o sucesso de uma política que demorou mais de 6 anos para ser implantada, a Associação dos Oficiais da Polícia Militar divulgou uma nota dizendo “que é possível que o projeto possa estar produzindo seus efeitos porque, sabendo que os policiais estão filmando a ação, os infratores da lei podem estar reagindo menos violentamente à voz de prisão”. Ah, os bandidos têm mais medo de câmeras do que de tiros! Tá bom.
Para nós, cidadãos, fica a lição: os que têm poder sobre nossas vidas, nossos destinos, nosso país têm que ser fiscalizados e cobrados ininterruptamente para garantir os direitos de todos nós. É esse o princípio que precisa prevalecer em relação a qualquer tipo de autoridade, principalmente sobre este governo, seja qual for o mal que acomete o seu mandatário (de tanto ouvir mentiras, já não sabemos no que acreditar). O que nossas câmeras biológicas registram (olhos, ouvidos, cérebro) não dá margem à dúvida: é preciso afastar Jair Bolsonaro do poder. Mantê-lo é incentivar o crime, a morte e a violência. E a maioria dos brasileiros já se deu conta disso, como mostram as pesquisas mais recentes. Só falta reagir à altura.
Registro aqui um acontecimento que não pude comentar na semana passada porque o feriado paulista caiu na sexta (dia da news). As ameaças do advogado de Bolsonaro e “anjo” de Fabrício Queiroz à jornalista Juliana Dal Piva têm que ser investigadas e punidas. A imprensa é o principal aliado dos cidadãos para fiscalizar os poderosos, não pode ser intimidada em uma democracia.
Marina Amaral, diretora executiva da Agência Pública
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