O recesso parlamentar a partir deste sábado conclui a primeira etapa da CPI da Covid, que, a partir de agosto, volta a funcionar por mais 90 dias. São mais três meses de trabalho que, até o momento, sugere a existência de um gabinete paralelo que auxiliou o presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia, fortes indícios de corrupção por integrantes do governo e a participação de militares no que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) classificou como um "mar de lama". "Havia grupos que roubavam enquanto o governo se recusava a comprar vacinas cujas indústrias não consentissem propinas. Preferia comprá-las a atravessadores e lobistas”, disse o senador alagoano. Esta talvez tenha sido a maior descoberta dos últimos dias da Comissão: existia, no Ministério da Saúde, uma disputa de espaço político entre militares e parlamentares do Centrão. É o que conclui Alessandro Vieira (Cidadania-SE) em conversa com CartaCapital. Senadores já falam abertamente em convocar militares para prestarem depoimento. Os alvos já foram definidos: o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e o ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos. “Eles estão inseridos na cadeia de comando e na tomada de decisões referentes à pandemia. De forma direta e indireta atuaram em todo esse processo”, diz Vieira. Se Braga Netto e Ramos têm motivos para se preocupar, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello deve ser reconvocado para explicar a gravação que o mostra em uma negociação com uma empresa intermediária para a compra de 30 milhões de doses da vacina Coronavac, ao custo de 28 dólares por dose. É, o que se chama no meio político, de "batom na cueca". Em seu primeiro depoimento, o general chegou a afirmar que não teria conduzido negociações com a Pfizer porque um ministro não deveria receber uma empresa. “Pela simples razão de que eu sou o dirigente máximo, eu sou o ‘decisor’, eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o ministro. [O ministro] jamais deve receber uma empresa, o senhor deveria saber disso”, disse Pazuello, na ocasião. O vídeo que veio à tona na sexta-feira 16, no entanto, o desmente de forma categórica. Para o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a Comissão “abriu a caixa de Pandora”. “Estão emergindo todos os esquemas do governo federal na compra de vacinas. Os brasileiros e brasileiras que morreram não foram vitimadas apenas da Covid-19”, escreveu Randolfe nas redes sociais. Já Fabiano Contarato (Rede-ES) diz que o registro indica a prática de dois crimes: - “falso testemunho, já que Pazuello, acusado de negligenciar apelos da Pfizer, disse na CPI que não tratava com empresas. Mentira deslavada, ao que se vê: em negócios espúrios, a conversa era empolgada”;
- “superfaturamento, pois desponta hipótese de contratação fraudulenta para elevar arbitrariamente o preço da vacina Coronavac ao custo três vezes superior ao ofertado pelo governo de São Paulo. Isso sem falar na hipótese de corrupção por vantagem solicitada ou aceita”.
A linha de investigação da CPI e as novas revelações reforçam a declaração do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM): "fazia muito tempo que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo". É o que o governo Bolsonaro deixará de legado. |
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