sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Se o critério for o tamanho do patrimônio líquido, a minoria mais rica não passa de 0,2% da humanidade em vez de 1%

 

Foto: ISTOCKPHOTO
A "inveja do iate", em que bilionários pretendem superar uns aos outros em tamanho da embarcação, todos os anos, é representativo do comportamento da minoria riquíssima

Se o critério for o tamanho do patrimônio líquido, a minoria mais rica não passa de 0,2% da humanidade em vez de 1%

Professor de universidade da Austrália analisa em livro o comportamento dos ricos a partir de 1 milhão de dólares, segundo a propriedade de ações, títulos do governo e imóveis 

“---Quem são os 1% mais rico e o que eles querem?”, perguntou  Tom Mills, pesquisador da University of Bath e co-editor do New Left Project, a Tim DiMuzio, professor de Relações Internacionais e políticas públicas na Universidade de Wollongong, na Austrália. A pergunta remete ao título de um livro recém publicado por  DiMuzio, intitulado “O 1% e o resto de nós: uma economia política da propriedade dominante”, uma tentativa de “examinar as vidas insulares dos super-ricos globais, o sistema socioeconômico que dirigem e seu impulso inquieto de dominar a sociedade e a natureza”, nas palavras do entrevistador.

O problema, respondeu DiMuzio, é que a maioria das pessoas tem ideias diferentes sobre o que constitui riqueza e quem podem ser os "ricos". Em seu trabalho, o professor examina como os bancos de investimento e outras instituições financeiras concebem o 1%. Sua definição para esse universo diminuto e ultrapoderoso é ‘indivíduos de alto patrimônio líquido’, que têm pelo menos 1 milhão de dólares investidos em ativos geradores de renda, como ações de empresas, títulos do governo e imóveis. 

No último relatório World Wealth da Capgemini e RBC Wealth Management, havia 13,7 milhões de indivíduos de alto patrimônio líquido. Como porcentagem da população global, de cerca de 7 bilhões, isso significa que eles constituem 0,2% da humanidade ou 0,7% dos adultos. “Na realidade, essa classe do que eu chamo de proprietários dominantes é muito menor do que o movimento Occupy Wall Street percebeu, se recorrermos à definição de indivíduos de alto patrimônio usada por instituições financeiras, e houver poucas razões para não fazê-lo”, sublinha DiMuzio.

Há muito poucas evidências, diz, sobre a psicologia dos detentores de patrimônio líquido elevado. “Há algumas características reunidas em pesquisas, a exemplo de The New Elite, de Jim Taylor e outros autores, mas os dados são difíceis de avaliar, pois as pessoas sempre podem mentir. Portanto, embora não seja possível realmente “entrar na cabeça” do 1% como um todo, o que podemos fazer é examinar suas práticas e a lógica que estão seguindo.” 

Uma prática que certamente existe, diz, é o consumo competitivo por status. “Eu uso o exemplo de "inveja do iate" no livro, em que bilionários pretendem superar uns aos outros em tamanho de iate e futilidades, todos os anos. Mas temos que lembrar que a maioria dos indivíduos de alto patrimônio líquido está na categoria de 1 milhão a 5 milhões de dólares, portanto eles estão longe de consumir no nível de indivíduos com patrimônio líquido ultra-alto --- aqueles com pelo menos 30 milhões de dólares em ativos de investimento ou mais. O que o grupo inferior da hierarquia parece estar fazendo também é competir por status, mas faz isso contraindo mais dívidas para mantê-lo.”

O professor concebe, de modo peculiar, cabe assinalar, o capitalismo como modo de poder e não como modo de produção. “Nesta conceituação”, diz, “estamos examinando principalmente como o poder é organizado e como ele cria e recria uma determinada ordem hierárquica. Na verdade, há muito mais a dizer sobre isso. O que nos preocupa na estrutura de capital como poder é a propriedade, a capitalização de ativos geradores de renda e como as maiores entidades capitalizadas, que são os governos e as corporações, moldam e remodelam a reprodução social em benefício dos proprietários.” Eles fazem isso, sublinha DiMuzio, frequentemente sabotando direta ou indiretamente o potencial criativo da sociedade. 

Uma questão pertinente e que cabe indagar, é como DiMuzio terá tratado, no livro a ser lançado, a questão da propriedade de patentes e similares, ativos dos mais relevantes e além disso, forma de riqueza em ascensão enquanto proporção da riqueza geral dos capitalistas e ainda uma fonte significativa de rentismo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário