sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Em mil dias de governo Bolsonaro o gás de cozinha subiu 73%, a gasolina 57%, o óleo diesel 45% e a inflação, 15%

 

Foto: ISTOCKPHOTO
O desmantelamento da Petrobras, com a venda da BR e outros ativos, inviabilizou a proteção de longo prazo em relação às flutuações cíclicas da cotação internacional do petróleo, antes possibilitada pela estrutura integrada vertical da companhia, e os preços dos derivados explodiram

Em mil dias de governo Bolsonaro o gás de cozinha subiu 73%, a gasolina 57%, o óleo diesel 45% e a inflação, 15%

Motoristas por aplicativos, caminhoneiros e alimentação em domicílio sofreram os impactos mais fortes, mostram levantamentos do Ineep e do Dieese/Fup

Em mil dias de governo Bolsonaro, o preço do gás de cozinha subiu 73%, o da gasolina 57% e o do óleo diesel 45%, muito acima da inflação do período, de 15%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2021, o preço do gás de cozinha nas refinarias da Petrobras aumentou 40%. As contas são do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), com base em dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP). Os números refletem os reajustes da política de preço de paridade de importação (PPI), adotada pela administração da Petrobrás, e que acompanha a variação dos preços internacionais do petróleo, a cotação do dólar e os custos de importação. No mesmo período, a cotação do petróleo no mercado internacional subiu 31%.

O peso dos derivados de petróleo pressionou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), de 1,14% em setembro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além da energia elétrica, influenciaram o indicador as altas da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha. 

“A inflação”, destaca Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP, “voltou com força total no país, atingindo a todos, sobretudo os mais pobres. É mais uma prova do fracasso deste governo e do equívoco da política de preço de paridade de importação, adotada pela gestão da Petrobrás para reajuste dos combustíveis”. Enquanto essa política não mudar, diz Bacelar, a inflação continuará a disparar, deteriorando ainda mais o poder de compra dos trabalhadores.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, subseção FUP (Dieese/FUP), apurou as altas em 12 meses dos itens com maior peso para algumas categorias de trabalhadores e no orçamento doméstico. O óleo diesel, com variação de 34,55%, impacta com força o custo do trabalho dos caminhoneiros. No caso dos trabalhadores por aplicativo, as elevações com maior peso, no mesmo período, são as da gasolina, em 39,05%, do etanol, em 56,62% e do gás veicular, em 37,14%. Os aumentos com maiores efeitos no custo e manutenção domésticos foram os de alimentação e bebidas, em 13,36%, gás de botijão, em 32,93% e da energia elétrica, em 25,26%.

Segundo o economista do Dieese/FUP, Cloviomar Cararine, somando-se as variações de energia elétrica e alimentação, constata-se que a inflação mudou de grau e subiu para o patamar dos dois dígitos anuais. 

Acrescente-se que a política de preços de derivados, a chamada PPI, de alinhamento automático à variação da cotação internacional do petróleo, à cotação do dólar e aos custos de importação, não é a única possível de se praticar, como pretendem fazer crer o governo e a Petrobras. No caso do Brasil, no período Lula e Dilma os preços dos derivados eram ajustados em ciclos longos, levando em conta as expectativas de variações futuras da taxa de câmbio, do preço do petróleo, dos preços dos derivados e do mercado interno brasileiro. Neste período, os acionistas tiveram os maiores lucros da história da Petrobras e o valor de mercado da empresa atingiu seus picos históricos. Isso foi possível porque a Petrobras, em desmantelamento acelerado desde as gestões de Aldemir Bendine na presidência da companhia e de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, tinha uma integração vertical, isto é, controlava a exploração, o refino, o transporte e a distribuição. 

A integração vertical permitia proteção de longo prazo em relação às flutuações cíclicas dos preços do petróleo, uma vez que as margens de refino e os preços dos derivados, apesar de acompanharem os preços do óleo cru no longo prazo, não variam com a mesma intensidade nos mercados com grandes refinadores e com produção doméstica relevante. As empresas integradas internacionalmente têm mais lucro e maior sustentabilidade de longo prazo. 

Essa possibilidade de proteção de longo prazo em relação às flutuações cíclicas dos preços do petróleo foi extinta, entretanto, com a privatização de refinarias, da distribuidora BR, dos gasodutos e da Gaspetro e a condição para recompor aquele arranjo é a encampação dos ativos do Estado vendidos em processos com muitas irregularidades, segundo amplamente noticiado. 

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