segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Carta Capital, em 06/11/2021

 

Amigo leitor,

Pouca gente se surpreendeu com a decisão de Sergio Moro, prestes a se filiar ao Podemos. Também não admira a escolha do  ex-procurador Deltan Dallagnol, que acaba de renunciar a seu posto no Ministério Público.

O ex-juiz e o ex-procurador demonstraram, mais de uma vez, que a Lava Jato buscava menos o combate à corrupção e mais a perseguição àqueles que ambos julgavam adversários políticos.

Os admiradores que ainda que restaram, por outro lado, veem na decisão da dupla a única maneira de preservar o que consideram um legado da operação.

Pelo que se desenha até aqui, o destino deve ser a candidatura à Presidência. Já Deltam pode disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados ou, menos provável, no Senado Federal. O Podemos, vale lembrar, é o partido Álvaro Dias, senador há 22 anos consecutivos.

Seja qual for a escolha de ambos, seus adversários terão mais uma oportunidade para mostrar ao eleitorado que os discursos de Moro e Dallagnol nunca corresponderam às práticas.

De vidro a vidraça

Na disputa política, práticas da dupla serão ainda mais expostas

 FOTOS: ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL E MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

Protagonistas da Operação Lava Jato e dos escândalos que a sucederam, o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol anunciaram nesta semana o que pode ser lida como uma abertura de caminho para concorrerem a algum cargo público no ano que vem.

No próximo dia 10, o ex-juiz e ex-ministro bolsonarista se filiará ao Podemos, partido de Álvaro Dias. Já começou articulações em Brasília e até sobre a PEC dos Precatórios se manifestou.

“Aumentar o Auxílio Brasil e o Bolsa Família é ótimo. Furar o teto de gastos, aumentar os juros e a inflação, dar calote em professores, tudo isso é péssimo. É preciso ter responsabilidade fiscal”, afirmou.

Já Dallagnol confirmou a decisão de renunciar ao cargo no Ministério Público Federal e já foi exonerado.

“Eu tenho várias ideias sobre como posso contribuir e serei capaz de avaliar, refletir e orar sobre essas ideias depois de sair do Ministério Público. Assim que essas ideias se concretizarem em planos e ações, eu vou compartilhar com vocês aqui’, disse o ex-procurador em tom de candidatura.

As reações foram imediatas. Pelas redes sociais, políticos de esquerda lembraram as mensagens da Vaza Jato e a anulação das condenações do ex-presidente Lula.

"A tal Força-tarefa afinal era um partido político. Que surpresa", ironizou Fernando Haddad.

"Moro com filiação partidária e participando do congresso do MBL. Dallagnol saindo do MP para as eleições de 2022. Se alguém tinha dúvidas de que a Lava-jato atuava como um partido político, agora não tem mais. É o juiz ladrão e o seu bandeirinha mostrando suas verdadeiras faces", escreveu o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ).
 
"Como procurador, ele fez política partidária o tempo todo. Ao menos, agora, não poderá se esconder atrás do biombo da falsa imparcialidade", disse o líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, Bohn Gass.
 
"Moro e Dallagnol devem ser candidatos em 2022. Dia difícil pra turma que ficou anos tentando provar que a Lava Jato não tinha objetivos políticos", arrematou Guilherme Boulos.
 
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, também comentou o que chamou de “politização da persecução penal”.
 
"A seletividade, os métodos de investigações e vazamentos: tudo convergia para um propósito claro – e político, como hoje se revela. Demonizou-se o poder para apoderar-se dele. A receita estava pronta”, declarou.
 
O Grupo Prerrogativas, coletivo de juristas, professores de Direito e advogados, divulgou nota em que classifica o episódio como “a consumação de uma manobra criminosa de aproveitamento político do sistema de Justiça”.
 
O ex-presidente Lula, que foi condenado pelo ex-juiz na 13ª Vara Federal em Curitiba, ainda não se manifestou, mas sabe que, diferente do julgamento parcial do qual foi vítima, enfrentará Moro de igual para igual.
 
Sem as flechas para acusar e condenar, Dallagnol e Moro virarão alvo e devem experimentar a mesma fúria que dispensava aos inimigos.

 

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