sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Manual das eleições

 

QUINTA-FEIRA, 1 DE SETEMBRO DE 2022

Há uma lógica por traz da evolução do presidente nos últimos meses (Foto: Miguel SCHINCARIOL/AFP)

A avaliação do governo é o definidor

O que explica o leve crescimento de Bolsonaro nas pesquisas – e por que isso não será suficiente para virar o jogo

por Alisson Matos

As pesquisas divulgadas nesta semana confirmaram, além do favoritismo do ex-presidente Lula (PT), o crescimento constante do presidente Jair Bolsonaro nas intenções de voto.

É só comparar. No levantamento do instituto Ipespe, o ex-capitão soma 35 pontos percentuais. Em fevereiro, o atual presidente tinha 26%. À época, a vantagem de Lula para Bolsonaro era de 17 pontos. Hoje, é de 8.

O mesmo foi observado na pesquisa CNT/MDA. No último levantamento, o ocupante do Palácio do Planalto aparece com 34,1% das intenções de voto. No segundo mês do ano, no entanto, ele só tinha 26,6%.

A evolução também foi constatada no monitoramento da Quaest. Bolsonaro, que agora é o preferido de 32% dos eleitores, no início do ano alcançava somente 23%.

Há uma lógica por traz da evolução do presidente nos últimos meses, segundo o politólogo e professor Tiago Garrido, co-autor do livro A mão e a luva – O que elege um presidente. Para ele, o motivo que explica a melhora dos indíces de Bolsonaro é o fator determinante que define uma eleição.

"A evolução temporal da avaliação positiva do governo coincide com a evolução temporal da distância entre Lula e Bolsonaro", avalia o especialista. "Qualquer semelhança não é mera coincidência".

Garrido esclarece: "De acordo com a pesquisa CNT/MDA, a soma de ótimo e bom do governo Bolsonaro era 26% em fevereiro, passou para 30% em maio e foi para 33% em agosto. Um aumento de sete pontos percentuais", observa. "A mesma pesquisa mostra que Lula estava, em fevereiro, 14 pontos à frente de Bolsonaro, essa vantagem caiu para nove e depois para oito. Ou seja, a distância entre os dois ficou seis pontos percentuais menor no período".

Ou seja: O aumento da avaliação positiva em sete pontos e a redução da vantagem em seis pontos são rigorosamente iguais, considerando a margem de erro do levantamento.

"O que mais influencia o voto não é a comunicação dos candidatos, mas sim a avaliação do governo", ressalta o professor, que acrescenta: "Nesse período,Bolsonaro ocupou a mídia, Lula falou do aborto, Anitta mobilizou os jovens ao apoiar Lula e muitas outras coisas aconteceram. O fato é que o acontecimento determinante para o encurtamento da distância entre os dois candidatos foi a melhoria da avaliação do governo Bolsonaro".

O cientista político Antonio Lavareda, responsável pela pesquisa Ipespe, reforça a constante melhora do ex-capitão nos levantamentos, mas põe em dúvida se o ritmo da recuperação será suficiente para reverter o atual cenário, de ampla vantagem a Lula."Nas oito disputas presidenciais travadas na Nova República, nunca aquele postulante que liderava as pesquisas no dia do início da propaganda eleitoral deixou de ser vitorioso no primeiro turno, repetindo a vitória no segundo, quando houve”.

O sociólogo Alberto Carlos Almeida, que escreveu o livro com Garrido, detalhou os votos que hoje vão para Lula ou Bolsonaro. Assim como o colega, ele aponta a aprovação e reprovação do governo como definidores do pleito.

De toda a votação de Bolsonaro:

- 25 pontos percentuais são de eleitores que avaliam seu governo ótimo/bom;

- 8 pontos percentuais são daqueles que consideram seu governo regular.

Isso resulta em um percentual nacional de 32% de intenção de voto (todos os dados das pesquisas Genial/Quaest).

De toda a votação de Lula:

- 30 pontos percentuais são compostos por eleitores que avaliam ruim/péssimo o governo Bolsonaro;

- 11 pontos percentuais de quem avalia o governo regular;

- 2 pontos percentuais de quem avalia o governo ótimo/bom

Isso resulta em 43% de votos. Lula obtém um ponto percentual a mais junto a eleitores que não têm avaliação alguma do governo, atingindo 44%. 

O sociólogo e escritor, portanto, setencia: "Se a avalição do governo não mudar significativamente, a posição relativa de Lula e Bolsonaro também não irá se alterar".

E o que pode explicar essa evolução? A queda do desemprego, o crescimento da economia e a deflação.

Apesar de tudo isso, o favoritismo de Lula permanece.

A política nas redes

Confira o balanço semanal da movimentação dos principais atores políticos na internet (21 a 30 de agosto)

por Observatório das Eleições*

A movimentação de Lula e Bolsonaro nas redes

A semana trouxe uma grande exposição dos candidatos à mídia tradicional com a série de entrevistas no Jornal Nacional e o debate na Band. O resultado teve repercussão nas redes sociais dos candidatos, especialmente de Luiz Inácio Lula da Silva (primeiro colocado nas pesquisas) e de Jair Bolsonaro (segundo colocado). 

O monitoramento do Twitter feito pela Editoria de Redes do Observatório das Eleições mostrou que os dois principais candidatos na disputa eleitoral tiveram aumento no engajamento total na plataforma, ou seja, conquistaram mais seguidores depois da exposição na TV. O aumento foi mais significativo para Lula, o que pode se explicar, em parte, pelo desempenho ruim de Bolsonaro no debate.

O candidato do PT, que tem 44% das intenções de voto segundo a última pesquisa Ipec, registrou um aumento de 2,7% no número de seguidores na plataforma. O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição e que tem fortíssima atuação na internet, teve um aumento de 1,3% em sua base de apoio no Twitter.

Considerando o engajamento médio, o ex-presidente também teve um aumento maior, crescendo 56% de interações médias por post contra 42,8% de crescimento do atual presidente.

No entanto, Bolsonaro conseguiu um aumento total de engajamento de mais de 70%, totalizando 3,94 milhões de interações, contra 3,05 milhões do petista.

As principais postagens de Bolsonaro e Lula foram sobre a participação de ambos nas entrevistas do Jornal Nacional. Em relação aos temas que suscitaram mais interação para os candidatos, temos: gênero (discutido por Lula quando abordou a proposta de renegociação de dívidas para as mulheres) e crítica à "carta pela democracia" feita por Bolsonaro. 

Os temas mais abordados nas publicações

Em levantamento feito 10 dias após o começo oficial da campanha eleitoral, observou-se que os temas democracia, religião, pandemia e economia estão entre os principais abordados por apoiadores de Lula e de Bolsonaro. O monitoramento do Observatório vem categorizando, de forma automatizada, todas as publicações do Twitter e Youtube dos principais apoiadores de ambas as campanhas.

Levando-se em conta o Twitter, os temas principais abordados pelo campo  lulista são: democracia (36%), pandemia (11,4%) e religião (10,8%). No campo bolsonarista, os principais são: democracia (29,5%), religião (19.7%) e economia (12%).

A democracia está presente em ambos os campos, mas com construções narrativas bastante distintas. Alguns recortes mais específicos mostram, abaixo, essas narrativas distintas. 

O tema “democracia” na semana no Twitter

O monitoramento feito pelo Observatório das Eleições, no período, sobre o tema geral democracia envolve alguns subtemas, como golpe, Carta aos Brasileirosditaduraregime militarForças ArmadasNas semanas após a ação do ministro Alexandre de Moraes contra os empresários bolsonaristas que falavam em golpe contra o ex-presidente Lula em rede social, os tuítes com mais engajamento trouxeram os termos golpedemocraciaditadura e regime militar.

O campo bolsonarista reagiu fortemente à operação,  atacando a credibilidade das instituições. O tuíte com mais engajamento foi, novamente, do empresário Luciano Hang, também investigado pela PF. 

@LucianoHangBr – 36.808 de engajamento – (23/08) “Compartilhe esse vídeo. Tive meu Instagram retirado do ar, por conta de uma matéria mentirosa, em que o próprio autor, o jornalista Guilherme Amado, admite que nunca falei sobre golpe. Juntos somos milhões. Não existe democracia sem liberdade!” 

Em relação ao tema democracia, há uma ressignificação constante do termo pelo campo bolsonarista. O presidente Jair Bolsonaro menosprezou reiteradamente a Carta pela Democracia e associou o PT a ditaduras.

@LucianoHangBr – 92.570 de engajamento – (23/08) “CENSURA! Acabaram de derrubar meu Instagram. Onde está a democracia e a liberdade de pensamento e de expressão? Tenho certeza que este era o objetivo de toda essa narrativa: tentar me calar. Vivemos momentos sombrios, mas vamos vencer.”

@jairbolsonaro – 88.557 de engajamentos – (25/08)

Respeitar a democracia é muito diferente de assinar uma “cartinha”. Honrar a Constituição, em especial direitos e garantias fundamentais, é o que diferencia DEMOCRATAS de DEMAGOGOS.”

Este material foi produzido pela Editoria de Redes do Observatório das Eleições a partir do monitoramento de 400 contas, englobando atores diversos do campo lulista e do campo bolsonarista, em quatro plataformas: Twitter, Youtube, Facebook e Instagram. 

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