O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi menos visceral na comemoração do Bicentenário da Independência neste ano do que foi no 7 de Setembro de 2021, quando o ex-capitão chegou a chamar o ministro Alexandre de Moraes, hoje no comando do TSE, de canalha. Mas nem por isso, agora em 2022, Bolsonaro deixou de ser Bolsonaro. Passado um ano do que talvez tenha sido a maior ameaça à democracia do ex-capitão - com direito a atuação de Temer para esfriar os ânimos -, o candidato à reeleição focou os seus discursos em Brasília e no Rio de Janeiro em ataques a Lula (PT), críticas generalizadas ao STF e desconfianças nas pesquisas eleitorais que apontam para a sua derrota na eleição. O machismo do presidente, que envolveu a primeira-dama, Michelle, e a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como Janja, também se fez presente nas declarações do homem que fez questão de reforçar que é 'imbrochável'. O ex-capitão, para variar, também retomou o discurso moral contra o aborto e sem nenhuma simpatia ao Estado laico. Em resumo, foi o Bolsonaro raiz que inacreditavelmente foi eleito em 2018 tendo o retrocesso como uma das suas principais bandeiras. Se foi suficiente para a sua vitória quatro anos atrás, não parece que será deciviso no pleito que ocorre em menos de um mês. A avaliação de integrantes da oposição e de cientistas políticos é de que o presidente conseguiu levar muita gente às ruas no 7 de Setembro, mas fracassou, mesmo com um discurso mais ameno, no objetivo de angariar votos fora da sua bolha. "O que se viu hoje foi uma tentativa eleitoreira estapafúrdia de fidelizar a sua base de radicais, que não são suficientes para resolver o pleito de 2022", avaliou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) em conversa com CartaCapital. "Ao utilizar de forma ilegal e suja o 7 de setembro para fazer campanha, Bolsonaro não conseguiu nada de novo". Pesquisa do instituto Ipec, ex-Ibope, divulgada nesta semana, mostra que Lula tem 44% das intenções de voto contra 31% do atual presidente. No segundo turno, a vantagem do petista é de 16 pontos percentuais sobre o ex-capitão. "Se o bolsonarismo imaginava transformar o 7 de setembro em uma manifestação popular foi a maior brochada política desta eleição", disse o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP). Sem conseguir ampliar o diálogo com setores da sociedade que vão além dos seus militantes, Bolsonaro não conseguirá reverter o cenário amplamente favorável ao seu principal adversário. "Bolsonaro sai menor. Os atos foram grandes, a gente não precisa negar essa realidade, mas ele só mobilizou a própria base", pontuou o cientista político Josué Medeiros, da UFRJ. "E ele sai muito isolado, pois não teve nenhum aliado importante da política, nenhum presidente do Congresso e nenhum ministro do STF”. Se a intenção do presidente é se tornar um candidato mais competitivo até o dia 2 de outubro, data do primeiro turno da eleição, é consenso que o tiro do 7 de Setembro saiu pela culatra. Nesta sexta-feira 9, levantamento do Datafolha deve mostrar que a verborragia não garantiu um voto a mais ao ex-capitão. No entanto, se a estratégia for mobilizar a sua base eleitoral já de olho no posto de maior nome da oposição em um eventual governo Lula, Bolsonaro não sai totalmente derrotado. Ele e sua postura pequena ainda devem assombrar a democracia brasileira. |
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