segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Debate na Band: O que é mentira nas declarações de Bolsonaro e Lula

 

Debate na Band: O que é mentira nas declarações de Bolsonaro e Lula

Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no debate na Band, que foi o primeiro do segundo turno, em 16 de outubro de 2022 (Foto: Reuters / Mariana Greif)
Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no debate na Band, que foi o primeiro do segundo turno, em 16 de outubro de 2022 (Foto: Reuters / Mariana Greif)

Na noite do último domingo (16), os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se enfrentaram pela primeira vez no segundo turno das Eleições de 2022. O debate foi promovido pela Bandeirantes em parceria com Folha de S. Paulo, Uol e TV Cultura.

Os dois candidatos que concorrem à Presidência trataram pouco de propostas e buscaram exaltar os números de suas respectivas gestões, passando por transposição do rio São Francisco; orçamento secreto; pandemia de covid-19; preço da gasolina e de alimentos etc. Ao entrarem no tema do desmatamento da Amazônia, os candidatos chegaram a desafiar os espectadores a conferirem os números no Google, mas ambos erraram ao mencionar os dados.

Confira a checagem do Yahoo! Notícias sobre algumas das afirmações dos candidatos.

Transposição do rio São Francisco

"Eu fiz 88% das obras do São Francisco, ele [Bolsonaro] fez 3,5%."

Candidato ao Planalto e ex-presidente Lula (PT), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

Não é verdade que 88% das obras do São Francisco foram feitas somente no período governado por Lula. Em abril de 2016, cerca de seis anos após o petista ter deixado o Planalto, 86,3% das obras da transposição estavam concluídas, segundo um relatório do Ministério da Integração Nacional. Naquele ano, o país ainda estava sob o governo de Dilma Rousseff (PT).

Antes de Bolsonaro assumir a Presidência, ao menos 96,4% das obras já haviam sido finalizadas, de acordo com dados de abril de 2017 da Integração Regional. Sendo assim, o atual presidente foi responsável por não mais do que cerca de 3,6% das obras.

"Pegamos uma obra [Transposição do rio São Francisco] parada por dez anos."

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

Ao contrário do que afirmou Jair Bolsonaro, as obras de transposição do rio São Francisco não estavam paradas desde 2010.

Em 2015, por exemplo, Dilma Rousseff (PT) inaugurou um trecho da obra em Cabrobó (PE). Já em 2017, Michel Temer (MDB), presidente à época, inaugurou o eixo leste do projeto de transposição.

Desmatamento na Amazônia

"No nosso governo, [houve] o menor desmatamento da Amazônia, e no seu é o maior todos os anos."

Candidato ao Planalto e ex-presidente Lula (PT), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

É falso que a menor taxa de desmatamento da Amazônia tenha sido registrada durante a gestão de Lula.

O menor índice ocorreu, na verdade, em 2012, no governo de Dilma Rousseff (PT). Naquele ano, foram desmatados 4,6 mil km² na Amazônia Legal, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Nos anos em que Lula esteve no poder (2003-2010) as áreas devastadas variaram entre 27,8 mil km² e 7 mil km².

Embora a área desmatada na Amazônia esteja crescendo desde que Bolsonaro tomou posse, não é verdade que o maior desmatamento tenha ocorrido em seu governo. A maior taxa da série histórica foi registrada em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando foram destruídos 29,1 mil km².

No último ano da gestão de Michel Temer (MDB), em 2018, foram desmatados 7,5 mil km² de floresta amazônica, saltando para 10,1 mil km² já no primeiro ano do governo Bolsonaro. Em 2021, foram destruídos 13 mil km² de floresta, voltando ao patamar de 2008, quando o número registrado foi de 12,9 mil km².

"Você desmatou duas vezes e meio mais do que no meu governo Lula."

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

Não é verdade que a gestão de Lula desmatou 2,5 vezes mais do que a de Bolsonaro. Nos três primeiros anos do governo de Lula (2003-2005), foram desmatados 72,2 mil km² da Amazônia Legal, enquanto no período correspondente do governo de Jair Bolsonaro (2019-2021), foram destruídos 34 mil km², segundo o Inpe. O desmatamento na gestão petista foi, portanto, cerca de 2 vezes maior e não 2,5 como afirmou Bolsonaro.

Além disso, quando comparado o primeiro e o terceiro ano das gestões de cada um, houve uma queda no período de Lula, passando de 25,4 mil km² em 2003 para 19 mil km² em 2005. Já na gestão de Bolsonaro, o desmatamento tem avançado, saltando de 10,1 mil km² para 13 mil km² em 2021.

Orçamento secreto

"Eu vetei [o Orçamento Secreto], derrubaram o veto."

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

Inicialmente, Bolsonaro reprovou a criação do "orçamento secreto" e seu veto não chegou a ser derrubado pelo Parlamento. O mecanismo havia sido proposto pelo Congresso Nacional por meio da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2020.

Meses depois o Governo Federal voltou atrás e propôs a RP 9, conhecida hoje como "orçamento secreto". A RP 9 foi criada por meio da lei nº 13.957, de dezembro de 2019, de autoria do Poder Executivo. O Estadão teve acesso ao documento enviado ao Congresso, que contou tanto com a assinatura de Luiz Eduardo Ramos, Ministro Chefe da Secretaria de Governo, quanto com a do Presidente da República.

"orçamento secreto", proposto pelo governo de Bolsonaro, passou a valer então a partir da LDO de 2020. Em relação ao novo projeto, o presidente vetou apenas o trecho que tornava obrigatória a execução dos gastos indicados pelo relator. Esse veto foi mantido pelo Congresso.

 
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"Esse orçamento [secreto] foi criado pelo Rodrigo Maia."

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

O orçamento secreto foi de autoria do Governo Federal e não de Rodrigo Maia (MDB), diferentemente do que afirmou Jair Bolsonaro.

projeto de lei n° 51, de 2019 foi enviado ao Congresso Nacional por Luiz Eduardo Ramos, Ministro Chefe da Secretaria de Governo, em 3 de dezembro de 2019. Esse PL deu origem à lei nº 13.957, de 18 de dezembro de 2019, que efetivamente criou o orçamento secreto.

Em seu perfil oficial no Twitter, Ricardo Maia publicou um vídeo reforçando não ter sido responsável pela criação do Orçamento secreto.

Covid-19

"O Brasil hoje carrega a pecha de ser o país que tem mais morte pelo covid."

Candidato ao Planalto e ex-presidente Lula (PT), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

É falso que o Brasil seja hoje o país com mais mortes por covid-19 do mundo. Em números absolutos, o Brasil aparece na segunda posição, acumulando 687 mil mortes, atrás de Estados Unidos, que atingiu quase 1,1 milhão de mortos pela doença.

Já quando são comparados os números proporcionais, o Brasil aparece em 18º lugar (com 3,2 mil mortos por milhão de habitantes). Os que aparecem no topo da lista são Perú (6,4 mil), Bulgária (5,5 mil) e Bósnia e Herzegovina (4,9 mil).

Os dados são do projeto "Our World in Data", da Universidade de Oxford.

"Não existia vacina à venda em 2020 [...]. E o Brasil foi um dos países que mais vacinou no mundo."

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

Ao menos 33 países já haviam adquirido vacinas contra covid-19 em 2020 e iniciado suas campanhas de imunização, ao contrário do que afirmou Jair Bolsonaro.

Em julho de 2020, o governo dos Estados Unidos se comprometeu a adquirir 100 milhões de doses da vacina da Pfizer antes do final daquele ano, em um contrato de quase US$ 2 bilhões. Já países da União Europeia iniciaram a campanha de vacinação no final de dezembro de 2020.

No Brasil, o então governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), também iniciou negociações com o laboratório chinês Sinovac em 2020 para a compra de doses da CoronaVac.

Além disso, é igualmente falso que o Brasil é um dos países que mais vacinou no mundo. O país não está entre os 30 que mais imunizaram a população. Até 16 de outubro de 2022, 80,4% dos brasileiros foram vacinados, enquanto países como Singapura; Chile; e Hong Kong a cobertura vacinal atingiu 93,92%; 90,72%; e 89,74%, respectivamente.

Em outubro de 2020, Bolsonaro chegou a voltar atrás na compra das vacinas da CoronaVac após o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, assinar um protocolo de intenções com o governo de São Paulo para a compra de 46 milhões de doses:

Bolsonaro cancela acordo para comprar vacina chinesa contra a covid-19

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em 25 de agosto de 2020 em Brasília

Auxílio Brasil

"O seu partido [PT] foi contra a criação do Auxílio Brasil."

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

Não é verdade que o PT tenha se posicionado contra a criação do Auxílio Brasil.

O benefício foi instituído pela MP (Medida Provisória) nº 1.061/2021, aprovada pela Câmara dos Deputados, em 25 de novembro de 2021, por unanimidade. No Senado, a votação foi simbólica, sem o registro nominal dos votos. Mas de acordo com o as notas da sessão de 2 de dezembro de 2021, quando o projeto foi votado, senadores do PT se manifestaram de maneira favorável.

Em relação à MP 1.076/2021, que fixou o valor mínimo do Auxílio Brasil em R$ 400, o PT também se posicionou favoravelmente na Câmara e no Senado. O PT igualmente se colocou a favor no primeiro e no segundo turno da votação da PEC 1/2022, que previu o aumento do valor do auxílio para R$ 600. A única exceção foi o deputado Frei Anastacio (PT-PB), que votou contra.

O PT apenas foi contrário à PEC dos Precatórios, proposta pelo ​​Poder Executivo para viabilizar o Auxílio Brasil. O partido argumentou que se tratava de um "calote na sociedade brasileira". No primeiro e no segundo turno da votação na Câmara, o Partido dos Trabalhadores foi contra, já no Senado, após o projeto se submeter a mudanças, membros do partido votaram a favor, fora Jean Paul Prates, que se absteve.

Geração de empregos

" Quando eu governei, de 2003 a 2010 [...] Nós geramos 22 milhões de empregos."

Candidato ao Planalto e ex-presidente Lula (PT), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

É falso que no governo Lula foram gerados 22 milhões de empregos. No final de 2002, antes do início do primeiro mandato de Lula, em 2003, o país tinha aproximadamente 28,7 milhões de pessoas empregadas em vagas com carteira assinada. Já em 2010, último ano de seu governo, havia 44 milhões de empregos.

O acréscimo no período foi de cerca de 15,4 milhões e não 22 milhões. Os dados foram calculados com base na RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho e Emprego.

O número de vagas criadas no país somente se aproximou do mencionado por Lula se considerado todo o governo do PT. No último ano do mandato completo de Dilma Rousseff (PT), em 2015, havia cerca de 45 milhões de pessoas empregadas. Ao final da gestão petista foram criadas cerca de 19,4 milhões de vagas formais. Esse número, ainda assim, fica abaixo dos 22 milhões mencionados pelo candidato.

Queda nos preços

"Segundo a ABRAS, do mês passado para agora, os produtos da cesta básica do supermercado caíram em média 20%."

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

É falso que a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) tenha registrado uma queda de 20% em média de produtos da cesta básica. O relatório mais recente publicado pela associação – de 13 de outubro de 2022 – apontou uma queda na cesta de 1,71% em setembro em comparação com agosto. O maior recuo foi identificado no preço do leite longa vida, de 13,71%.

Conforme o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), igualmente não houve queda de 20% de setembro para agosto na cesta básica. Em Aracaju, capital onde houve a maior variação, o preço diminuiu 3,87%. O departamento não apontou queda próxima de 20% em nenhuma das capitais analisadas e em relação a nenhum dos produtos da cesta.

"Temos hoje uma das gasolinas mais baratas do mundo."

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

É falso que a gasolina brasileira seja uma das mais baratas do mundo conforme dados da Global Petrol Prices.

O país aparece na 30ª posição, com uma média de R$ 4,79 por litro do combustível, atrás da Rússia (R$ 4,23), Colômbia (R$ 2,85) e Líbia (R$ 0,86), por exemplo. Os números são os mais recentes e se referem a 10 de outubro de 2022.

Produção de carne

"Esse país [...] é o maior produtor de proteína animal do mundo."

Candidato ao Planalto e ex-presidente Lula (PT), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

O Brasil ocupa o terceiro lugar no posto de produção de proteína animal, e não o primeiro, como afirmou Lula.

Em segundo lugar aparecem os Estados Unidos e em primeiro, a China. A classificação foi feita pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).

Mesmo se observadas as categorias de produção separadamente – frango, carne suína e carne bovina –, o Brasil não ocupa nenhuma das primeiras posições.

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